Com políticas mais caras e rígidas, os brasileiros enfrentam revisões, detenções e controle ampliado. Especialista em imigração explica as principais mudanças em 2025, e o que esperar em 2026.
O ano de 2025 ficará marcado como o período em que os Estados
Unidos passaram pela maior guinada migratória. A volta de Donald Trump à Casa
Branca, em 20 de janeiro, desencadeou uma reestruturação completa das políticas
de imigração, impactando vistos de trabalho, turismo, estudo, refúgio e
permanência. No primeiro ano, o governo já promoveu aumentos de taxas,
suspendeu processos de asilo, restringiu entrevistas consulares e proibiu a
entrada de cidadãos de 19 países com o objetivo de reduzir a chegada de
estrangeiros e iniciar a maior operação de deportações americana.
Só em 2025, o número de brasileiros deportados pelos
Estados Unidos atingiu o maior patamar desde o início da série histórica da
Polícia Federal, em 2020. Entre janeiro e 1º de outubro, 2.262 pessoas foram
devolvidas ao Brasil, alta de 37% em relação ao total de 2024. No mesmo
período, 24 voos de deportação já haviam sido realizados, com previsão de
outros 12 até dezembro. O ritmo semanal deve consolidar 2025 como o ano com
mais deportações de brasileiros, superando o recorde anterior, de 2021. Em
paralelo, os EUA lidam com o maior contingente de imigrantes já registrado:
cerca de 60 mil pessoas em centros de detenção, contra 39 mil no início do ano,
impulsionados pela meta do governo de realizar até 3 mil prisões por dia.
“O que estamos vendo em 2025 não é apenas um ajuste
administrativo, é uma mudança de lógica”, afirma Larissa Salvador, advogada de
imigração e CEO da Salvador Law, com escritório sediado na Flórida “A
administração Trump passou a tratar a mobilidade internacional como um tema de
segurança nacional, e isso altera completamente a postura dos consulados, das
agências de fronteira e até das cortes. Para o brasileiro, isso significa
processos mais caros, análises mais restritivas e um nível de escrutínio que
não víamos há muitos anos”, resume.
Principais mudanças
Entre as alterações que mais afetaram brasileiros
estão:
- Retorno da entrevista obrigatória para todos os solicitantes,
incluindo crianças menores de 14 anos e idosos acima de 79;
- Limitação do tempo de permanência: quatro anos para
estudantes e até 240 dias para jornalistas;
- Exigência de perfis de redes sociais públicos durante a
análise de vistos estudantis, ampliando a fiscalização sobre
comportamento, conexões e intenções do solicitante;
- Os EUA aprovaram uma regra final que autoriza a coleta de
dados biométricos (incluindo fotografia facial) de todos os estrangeiros
na entrada e saída do país, com implementação a partir de 26 de dezembro
de 2025. Essa coleta será realizada em
aeroportos, portos terrestres e marítimos, e outros pontos de entrada e
saída autorizados, expandindo o programa que antes operava principalmente
em fases piloto e em alguns aeroportos.
- O Teste de Cidadania para Naturalização de 2025 ficou mais
rigoroso, o conjunto de perguntas possíveis aumentou de 100 para 128, e agora
o candidato precisa responder 20 questões sorteadas na hora, em vez de 10.
Para ser aprovado, deve acertar pelo menos 12, o dobro do exigido
anteriormente.
- O aumento da taxa do visto H-1B, que passou de US$ 215 para
US$ 100 mil por petição. O valor vale somente para solicitações novas, não
afetando renovações nem quem já possui o visto ativo.
- O governo Trump também planeja começar a exigir que turistas
estrangeiros isentos de visto divulguem histórico de redes sociais dos
últimos cinco anos antes de entrarem nos Estados Unidos, segundo um
comunicado oficial.
- Outro ponto marcante de 2025 foi o lançamento do ‘Gold Card’,
programa que permite residência permanente a estrangeiros que pagarem US$
1 milhão. A versão corporativa, voltada a funcionários patrocinados, custa
o dobro.
Cenário para 2026
Para quem pretende iniciar um processo de visto no
próximo ano, Larissa afirma que é preciso mais cautela: “Quem vai aplicar para
2026 precisa ter uma atenção ainda maior. Histórico migratório limpo, informações
totalmente consistentes, documentação robusta e estratégia desde o início serão
determinantes. Os erros que antes geravam atrasos agora podem custar a negação
do visto”, alerta.
Segundo a especialista em imigração, os programas
humanitários também devem enfrentar mais restrições. “O setor de refúgio tende
a sofrer endurecimentos, pausas e revisões. Já estamos vendo reanálises de
decisões concedidas nos últimos três anos para cidadãos de países considerados
de alta preocupação. Asilo e refúgio serão os mais afetados pelas decisões
políticas atuais”, destaca.
Para quem mora nos EUA
Para os brasileiros que já vivem no país, a
orientação é redobrar os cuidados. A atuação do ICE cresceu em 2025, com
operações em locais de trabalho, creches, aeroportos e consultas cruzadas a
bancos de dados estaduais.
“Hoje, qualquer deslize pode ter consequências
sérias. Evitar qualquer envolvimento criminal, não dirigir sem carteira válida,
não trabalhar sem autorização quando isso gera registros formais e nunca mentir
em formulários é fundamental. O que antes já era arriscado, agora pode
significar a diferença entre permanecer ou ser deportado”, ressalta Larissa
Salvador.
Ela reforça que quem tem caso pendente deve buscar
regularização o quanto antes. “Sem advogado, o processo fica muito mais
difícil. O juiz não pode ajudar o requerente a montar o próprio caso, e um erro
técnico pode comprometer toda a estratégia.”
Copa do Mundo de 2026
Em relação a Copa do Mundo de 2026, que também será
disputada nos Estados Unidos, a advogada explica que grandes eventos costumam
criar a impressão de que haverá flexibilizações na entrada, mas que isso não
deve acontecer. “A Copa do Mundo pode facilitar procedimentos pontuais para
turismo e eventos, mas não muda política migratória. Não haverá abertura para
vistos permanentes, asilo ou regularizações internas por causa do evento”,
explica.
Segundo ela, é importante que os brasileiros não
confundam o aumento do fluxo turístico com uma janela migratória, as regras
continuam rígidas e a fiscalização, intensa.
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