sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Endocrinologista explica como hábitos típicos das festas podem elevar glicemia, colesterol, pressão arterial e inflamação, além de orientar estratégias realistas para celebrar sem descuidar da saúde

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Com a proximidade das confraternizações, cresce também o consumo de bebidas alcoólicas, frituras, doces e alimentos ultraprocessados, combinação que representa um perigo silencioso para o coração e o metabolismo. O alerta é do endocrinologista Fabiano Malard, professor do curso de Medicina do Centro Universitário UniBH – integrante do maior e mais inovador ecossistema de qualidade do Brasil, o Ecossistema Ânima - que reforça que o período pode desencadear descompensações metabólicas importantes, especialmente em pessoas com diabetes, pré-diabetes, obesidade, hipertensão ou colesterol alto. 

O cenário é reforçado por dados recentes: a participação de alimentos ultraprocessados na dieta dos brasileiros mais que dobrou desde os anos 1980, passando de 10% para 23%. A constatação vem de uma série de artigos assinados por mais de 40 cientistas, liderados por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). 

Segundo Malard, ultraprocessados são produtos submetidos a diversos processos industriais e formulados com ingredientes artificiais, como corantes, aromatizantes, emulsificantes e adoçantes, que não existem na culinária doméstica. “Eles concentram calorias, açúcares de rápida absorção, gorduras saturadas ou trans e sódio, além de perderem fibras, vitaminas e minerais. Esse conjunto interfere no metabolismo, aumenta inflamação e eleva o risco de várias doenças”, afirma. 

Ainda de acordo com o endocrinologista, o consumo frequente leva a picos de glicemia, maior resistência à insulina, acúmulo de gordura visceral, aumento do colesterol LDL (mau colesterol) e dos triglicérides. O sódio em excesso também favorece retenção de líquido e aumento da pressão arterial. “Por isso, não há quantidade totalmente segura no consumo de ultraprocessados. O ideal seria zero. Mas, de forma realista, recomenda-se manter menos de 15 a 20% das calorias diárias vindas desses alimentos”, diz. 

O especialista também reforça que cada aditivo usado nos alimentos ultraprocessados contribuem para problemas específicos. Os emulsificantes, por exemplo, alteram a barreira intestinal e a microbiota, favorecendo inflamação; os corantes, por sua vez, intensificam o estresse oxidativo das células, enquanto os adoçantes afetam paladar, controle glicêmico e comportamento alimentar, estimulando a busca por sabores mais doces. “O problema não está isolado em um componente, mas sim no conjunto da obra”, resume.

 

Álcool social: o mito da segurança 

Mesmo o chamado “álcool social” não é inofensivo, conforme aponta Fabiano. Isso porque as bebidas alcoólicas inibem funções metabólicas do fígado, podendo provocar também alteração na glicemia (inclusive risco de hipoglicemia), aumento dos triglicérides, acúmulo de gordura no fígado, inflamação e risco de arritmias. “As diretrizes internacionais classificam como consumo moderado até duas doses de álcool por dia, nos homens, e uma para as mulheres, considerando que uma dose equivale 350ml de cerveja, 150ml de vinho ou 45ml de destilados. Mas o ideal, mesmo, é consumir zero álcool. Todo o resto é um ajuste para a vida real”. 

O docente do UniBH alerta ainda que a combinação típica das festas (bebidas alcoólicas acompanhadas de frituras, embutidos, salgadinhos e doces) gera uma “sobrecarga metabólica importante”. Entre os efeitos comuns do excesso estão: desconforto abdominal, gases, distensão; alterações do hábito intestinal; cansaço após refeições; mudanças no sono, na pele e na concentração; aumento da pressão e glicemia; e ganho de peso. “Nem sempre os sinais são óbvios, e é justamente assim que o hábito se instala sem que a pessoa perceba”. 

Por fim, o especialista cita uma série de cuidados práticos e reais para quem deseja celebrar o período de festas com saúde. Priorizar alimentos in natura em pelo menos 80% do prato; respeitar limites de álcool e evitar grandes quantidades em uma única ocasião; planejar previamente os momentos de exceção, não abandonar a atividade física, mesmo que adaptada; e evitar o “tudo ou nada”: um deslize não deve virar uma semana inteira de excessos. “O segredo é a moderação. Não precisamos ser perfeitos, mas é essencial cuidar do nosso bem mais importante, que é a saúde. Aproveitar as festas sim, mas com responsabilidade”, conclui Malard.


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