Uma pesquisa publicada em julho de 2025 na New England Journal
of Medicine reacendeu o debate sobre o papel da atividade física no
enfrentamento do câncer. O estudo indicou que programas estruturados de
exercício após a quimioterapia podem aumentar a sobrevida, reduzir a recidiva e
melhorar os desfechos clínicos de pacientes oncológicos. Os achados, embora
focados no câncer de cólon, reforçam um novo paradigma que vem sendo discutido
por especialistas e que ganha relevância no contexto do Dia Nacional de Combate
ao Câncer de Próstata, celebrado em 17 de novembro.
Para o educador físico e fisiologista do exercício Diego Leite de
Barros, há uma mudança clara no entendimento clínico. Se antes o repouso
absoluto aparecia como orientação dominante, hoje cresce a compreensão de que o
exercício, quando adaptado e monitorado, desempenha papel essencial para a
eficácia do tratamento. “Não se trata de substituir terapias, mas de reconhecer
que movimento e medicamento atuam de forma complementar e decisiva na evolução
do paciente”, ressalta o especialista.
O estudo publicado pela NEJM acompanhou 889 pacientes durante
quase oito anos. Os dados são contundentes: aqueles que participaram de um
programa estruturado de exercícios apresentaram 30% menos risco de recorrência
e até 40% menos risco de morte em relação ao grupo que recebeu apenas
orientações gerais de saúde. A sobrevida global também foi maior. A pesquisa
abre espaço para que esse conhecimento seja estendido a outros tipos de câncer
— incluindo o de próstata — por meio dos mecanismos comuns envolvidos: redução
de inflamação crônica, melhora da imunidade, regulação hormonal e controle do
peso.
Instituições de referência, como o Instituto Nacional do Câncer
(INCA), já reconhecem esses benefícios. Segundo posicionamento do Instituto,
exercícios regulares — quando alinhados ao estado clínico do paciente — são
seguros e podem melhorar aptidão cardiorrespiratória, qualidade de vida, humor,
sono e reduzir a fadiga associada ao tratamento. O INCA também aponta que
prática física adaptada previne comprometimentos funcionais e, em fase
pré-operatória, pode reduzir complicações e tempo de internação.
Diego reforça que a orientação profissional é indispensável. Para
pacientes em tratamento, o ideal é ajustar intensidade, volume e frequência de
acordo com as metas estabelecidas pelo médico responsável. “Não existe um
treino único. Existe um paciente único”, afirma. Ele explica ainda que a
associação entre exercício e queda de imunidade é um equívoco: o que enfraquece
o sistema imunológico é o excesso sem recuperação adequada, e não a atividade
física em si.
Histórias reais já ajudam a demonstrar esse novo cenário. Um exemplo é o tatuador, escritor e influenciador digital Gustavo Teixeira, atleta amador da equipe da DLB Assessoria Esportiva, fundada por Diego, e criador do projeto “Esmagando o Câncer”, que já conta com mais de 120 mil seguidores. Em tratamento contra linfoma de hodgkin, desde 2007, ele concluiu um IronMan 70.3 sob acompanhamento profissional, ajustando a carga de treino conforme sua resposta clínica. Gustavo afirma que já passou por vários tipos de tratamento, como rádio e quimioterápicos, além de transplante de medula óssea e segue realizando sessões de imunoterapia. O percurso mostra como o exercício orientado devolve protagonismo ao paciente e melhora a tolerância às terapias.
No mês dedicado à conscientização sobre o câncer de próstata, o
tema ganha relevância por oferecer uma abordagem que ultrapassa a prevenção e
inclui o paciente na construção do próprio tratamento. A integração entre
exercício físico e oncologia se estabelece como uma frente segura, eficaz e
respaldada pela literatura científica.
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