Tempo de resposta e desigualdades regionais definem quem sobrevive e quem fica com sequelas; doença ainda custa mais de R$ 10 bilhões por ano ao país
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) continua sendo uma das maiores urgências de saúde pública no Brasil e seus impactos vão muito além das emergências hospitalares. Um estudo inédito da Firjan SESI, conduzido pelo Centro de Inovação em Saúde Ocupacional (CIS-SO), mostra que o país ainda paga um alto preço em vidas, anos de saúde e capacidade funcional perdidos.
De 2017 a 2023, o
AVC foi responsável por 1,68 milhão de internações (1.677.005)
e quase 484,3 mil mortes (484.324)em todo o território
nacional, o equivalente a 15,6 óbitos a cada 100 internações. Apenas no último
ano da série histórica analisada, 11 milhões de anos de vida foram perdidos
entre brasileiros de 15 anos ou mais por conta da doença.
“Cada minuto
conta. O tempo de resposta define o desfecho clínico do paciente e o tamanho da
sequela. Quando o diagnóstico é rápido e o tratamento é adequado, é possível
salvar vidas e preservar qualidade de vida”, explica Leon
Nascimento, coordenador do CIS-SO e responsável pela pesquisa.
Diagnóstico tardio ainda é barreira
A pesquisa aponta
que as regiões Norte e Nordeste concentram as maiores taxas de letalidade,
reflexo direto das desigualdades estruturais na rede de atenção. Nessas áreas,
há menor disponibilidade de neurologistas, leitos de UTI e equipamentos de
imagem, elementos essenciais para o diagnóstico e tratamento em tempo hábil.
Já as regiões
Sudeste e Sul, com maior oferta de serviços especializados, registram os
maiores números absolutos de casos e internações, mas menores índices de
mortalidade proporcional.
“Há uma relação
direta entre infraestrutura e desfecho clínico. Locais com mais recursos e
profissionais capacitados conseguem reduzir significativamente a mortalidade e
o grau de incapacidade”, destaca Nascimento.
O peso sobre
a Previdência e a economia
Além do custo
humano, o AVC representa um peso expressivo sobre o sistema previdenciário. Em 2023,
ano com último dados públicos disponíveis, ele foi responsável por 161,6
milhões de dias de trabalho perdidos, o que representa uma perda de
produtividade de R$ 10,09 bilhões: mais de R$ 7,15 bilhões de perda de
produtividade referente ao total de serviços e bens produzidos e valores
superiores a R$ 2,74 bilhões com gastos com benefícios ligados à doença.
Em dezembro de 2023, apenas naquele mês, o INSS desembolsou R$ 228
milhões em auxílios e aposentadorias por invalidez relacionados
à doença.
“A maioria dos
beneficiários (64%) tinha vínculo formal de trabalho, o que mostra que o AVC
afeta diretamente a força de trabalho em idade produtiva.
Entre os novos benefícios concedidos no período, 69% foram
auxílios-doença e 20% aposentadorias por invalidez”, contabiliza
Nascimento.
Sequelas e
reabilitação
Além do risco de
morte, o AVC é uma das principais causas de incapacidade permanente no país.
Casos graves podem levar à perda média de 18 anos de vida saudável,
segundo o levantamento. As sequelas cognitivas e motoras comprometem a
autonomia e aumentam a dependência de cuidados familiares e institucionais.
“Tratar o AVC não
termina na alta hospitalar. É preciso garantir acesso à reabilitação,
fisioterapia, fonoaudiologia e suporte psicológico. Sem essa continuidade, o
paciente perde qualidade de vida e o sistema de saúde acaba sobrecarregado”,
explica o pesquisador.
Prevenção
ainda é o caminho mais eficaz
O estudo reforça
que a prevenção é a medida mais eficiente e mais barata para
conter o avanço do AVC. Hipertensão arterial, diabetes, tabagismo e
sedentarismo estão entre os principais fatores de risco, e todos podem ser
controlados com acompanhamento regular e políticas de atenção primária.
“Investir em
prevenção e diagnóstico precoce é política de saúde, mas também de
desenvolvimento humano. Cada vida salva representa anos de dignidade e de
produtividade preservados”, afirma Nascimento.
Principais
números do estudo (Firjan SESI – 2017 a 2023):
- 1,7
milhão (1.677.005) de internações por AVC
- 484,3
(484.324) mil óbitos
- 15,6
óbitos a cada 100 internações
- R$ 3
bilhões em despesas hospitalares diretas
- R$
10,09 bilhões (R$ 10.085.846.267,93) em perdas de
produtividade (2023)
- R$
2,74 bilhões/ano (R$ 2.741.641.518,24) em benefícios previdenciários
- 161,6
milhões (161.658.795) de dias de trabalho perdidos (2023)
- 11
milhões (11.008.640,51) de anos de vida perdidos
(2023)
Sobre o estudo
Custos Evitáveis de Saúde por Trombólise em Acidentes Vasculares Cerebrais –
Saúde Ocupacional
Realização: Firjan SESI, por meio do Centro de Inovação em Saúde Ocupacional
(CIS-SO)
Metodologia: Análise estatística e exploratória de dados epidemiológicos e
previdenciários de 2017 a 2023.
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