O esquecimento faz parte do envelhecimento natural, mas nem
sempre deve ser tratado como algo comum. Saber diferenciar lapsos de memória
esperados de sinais de alerta é fundamental para o diagnóstico precoce do
Alzheimer e outras formas de demência. Essa é a mensagem central da campanha
Setembro Lilás 2025, promovida pela Federação Brasileira das Associações de
Alzheimer (Febraz), que, neste ano, convida a sociedade a refletir: “Pergunte
sobre Alzheimer. Pergunte sobre demência”.
A iniciativa busca romper o silêncio que ainda cerca o tema
e ampliar o acesso à informação sobre uma condição que atinge mais de 2 milhões
de pessoas no Brasil e 55 milhões no mundo, segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS).
Um estudo publicado em 2025 na revista The Lancet Regional Health –
Americas reforça a urgência do debate: quase 60% dos casos de demência no
Brasil poderiam ser evitados, ou adiados, com a redução de fatores de risco
conhecidos, como baixa escolaridade na juventude, depressão na meia-idade e
perda de visão não tratada na velhice.
Quando o esquecimento preocupa
Para o geriatra Tiago Ferolla, da Linha de Cuidado do Idoso
do Hospital Mater Dei Santa Genoveva, há sinais que diferenciam o esquecimento
benigno do envelhecimento normal de uma possível demência: “esquecer onde
guardou um objeto ou o nome de alguém, mas lembrar depois, é esperado. O alerta
surge quando a perda de memória começa a comprometer a rotina, como esquecer
compromissos importantes, repetir a mesma pergunta várias vezes ou não
conseguir realizar tarefas do dia a dia. Esses sintomas podem indicar Alzheimer
ou outras formas de demência”, explica.
O médico lembra ainda que, além da idade avançada, diversos
fatores de risco aumentam a probabilidade de desenvolver a doença: histórico
familiar, hipertensão, diabetes, sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de
álcool, isolamento social e depressão. “A boa notícia é que muitos desses
fatores podem ser prevenidos ou controlados, ao longo do envelhecimento, com
hábitos saudáveis e acompanhamento médico adequado”, completa.
Os primeiros sinais vistos no cuidado diário
No cotidiano da assistência, os profissionais de enfermagem
estão entre os primeiros a notar mudanças sutis no comportamento. A enfermeira
Patricia Guerino, também da Linha de Cuidado do Idoso, destaca alguns sinais
comuns: “perda de memória recente, dificuldade em completar tarefas rotineiras,
alterações de humor, desorientação no tempo e espaço, além de comportamentos
como colocar objetos em lugares inusitados, por exemplo, guardar a chave na geladeira.
Muitas vezes, essas pistas passam despercebidas pela família, mas são
fundamentais para um diagnóstico precoce”.
Segundo a especialista, a família tem papel ativo nesse
processo. Registrar episódios de esquecimento, com data, hora e breve descrição,
pode ajudar o médico a avaliar a frequência e a gravidade das alterações.
Cuidado integral e apoio à família
Confirmado o diagnóstico, o acolhimento multiprofissional é
essencial. “O primeiro passo é a informação: compreender a doença e suas fases
ajuda a reduzir o medo. Além do tratamento médico, medidas práticas como
organizar a rotina, adaptar ambientes, estimular a memória com atividades
prazerosas e manter hábitos saudáveis são fundamentais para preservar a
autonomia e a qualidade de vida do idoso”, orienta Patrícia.
Ela reforça que o suporte também deve contemplar os
cuidadores: “grupos de apoio, acompanhamento psicológico e orientação
profissional ajudam a evitar a sobrecarga da família, fortalecendo os vínculos
de afeto e cuidado”.
Diagnóstico precoce faz diferença
Hoje, a medicina dispõe de recursos que auxiliam a
distinguir um esquecimento benigno de um quadro inicial de demência. Testes
cognitivos, exames de imagem, como ressonância magnética e análises
laboratoriais, permitem identificar alterações cerebrais e descartar causas
reversíveis, como deficiência de vitaminas ou distúrbios hormonais.
“A grande diferença é que os esquecimentos normais tendem a
se manter estáveis, enquanto a demência tem evolução progressiva. Identificar
cedo faz toda a diferença para planejar o cuidado e preservar a qualidade de
vida”, conclui Dr. Tiago.
A campanha Setembro Lilás reforça que informação é a chave
para quebrar o estigma e dar voz a pacientes e famílias. Para mais informações,
acesse www.setembrolilas.org.br.
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