Especialista da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia aponta como a paternidade tardia impõe novas demandas emocionais e
sociais
O avanço da medicina trouxe, entre seus principais benefícios, o aumento da expectativa e da qualidade de vida. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que até 2050 a expectativa de vida do brasileiro será de 81 anos.
Em um País com uma população cada vez mais idosa, um fato está se tornando cada vez mais frequente: homens sendo pais pela primeira vez a partir dos 60 anos. Se algumas décadas atrás os homens nessa faixa-etária já eram avôs, hoje, deparam-se em uma nova situação.
De acordo com a
psicóloga e membro da Comissão de Formação Gerontológica da Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Valmari Cristina Aranha Toscano,
quando uma pessoa se torna pai pela primeira vez, independentemente da idade, é
importante entender o histórico dessa paternidade; se foi planejada ou não, uma
vez que ter um filho implica em diferentes responsabilidades legais e afetivas.
“É muito comum perceber as pessoas mudando hábitos e estilo de vida após se
tornarem pais, fazendo um seguro de vida, cuidando melhor da saúde e mudando
alguns comportamentos de risco. Se para a mulher as principais mudanças com a
maternidade são em relação à liberdade, uso do tempo e as mudanças físicas, com
os homens as mudanças tendem a culminar mais em responsabilidades, seja com a
educação, em preparar um ser humano melhor para o mundo, seja em relação à
segurança financeira”, explica, ao comentar que quando um homem se torna pai
depois dos 60 anos essas questões se acentuam, pois os riscos com a saúde são
mais frequentes, assim como a preocupação em deixar uma segurança material para
esse filho, pois dependendo da idade desse pai pode ser que o filho ainda seja
dependente quando vier a falecer.
Etapas
Valmari revela que o importante, para esses pais, não é aumentar a expectativa de vida, mas sim prolongar o número de anos que ele deseja ficar com filho. “Não adianta prolongar a vida com limitações e debilidade. Para fugir desse cenário é preciso cuidar da saúde física, por meio de atividades físicas, alimentação saudável, qualidade do sono e consulta com especialistas, por exemplo, e também da saúde mental, não permitindo que o preconceito por ser um pai mais velho atrapalhe a relação com o filho.”
A psicóloga
destaca também que ser pai nessa fase da vida traz muitos benefícios, uma vez
que renova a motivação da pessoa e cria um novo propósito, o que é importante
para o envelhecimento bem-sucedido. “Esse homem passará a conviver com a
modernidade, com um outro modo de enxergar o mundo, que o obrigarão a se
atualizar, sem falar na rede de contatos que ampliará. Então, ser pai a partir
dos 60 anos traz mais benefícios que desafios”, afirma, ao explicar que a melhor
forma de lidar com possíveis conflitos de geração é o diálogo, para que o filho
entenda de que lugar o pai traz determinados valores, assim como o pai também
entenda que o filho crescerá em outro contexto social. Segundo Valmari,
normalmente, esses conflitos são oriundos de posicionamentos atrelados a
características de personalidade, religião e valores. “Trabalho com
envelhecimento há muitos anos e uma pessoa idosa há 30 anos era muito diferente
da pessoa idosa hoje. Por isso, precisamos desmistificar a ideia de que toda
pessoa idosa pensará diferente do jovem.”
Como educar?
Educar um filho,
independentemente da idade do pai, certamente é um dos maiores desafios
vividos. Muitas dúvidas surgem nesse momento, com tantos “especialistas” que
aparecem em vídeos nas redes sociais. De acordo com a psicóloga, o primeiro
passo (e o mais importante) é o homem olhar para si e analisar as suas
características para entender qual será o seu posicionamento diante da criança.
“Duas perguntas devem ser feitas nesse processo: ‘Que pessoas eu quero deixar
para o mundo?’ e ‘Que contribuição eu posso trazer para a vida de alguém?’.
Educar um ser-humano é uma função delicada e fica ainda mais difícil quando os
pais, de maneira geral, não querem assumir essa responsabilidade, sendo o
‘chato’ da história, aquela pessoa que não apenas brincará, mas colocará
limites na criança”, afirma a especialista, ao comentar que muitos também erram
ao compensar a sua ausência na vida dos filhos por meio de bens materiais e de
superproteção, o que acaba criando uma geração muito sensível e dependente. “O
melhor caminho a ser seguido é o da presença, do diálogo. Impor limites e dizer
não poderá ser um ato de amor se acompanhado de carinho e respeito.”
Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia - SBGG
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