Estados Unidos, especialmente o
estado da Flórida, lideram a preferência dos brasileiros endinheirados. Eles se
somarão à já extensa comunidade de ricos e famosos estabelecida no país
Thinkstock
O mundo deve assistir a uma
migração recorde de milionários em 2025, com a mudança internacional de cerca
de 142 mil deles. Do total, 1,2 mil devem sair do Brasil, representando o maior
êxodo entre os países da América Latina, seguido pela Colômbia, com 150
milionários a menos. Em termos financeiros, a mudança dos endinheirados
brasileiros pode gerar a fuga de um patrimônio estimado em US$ 8,4 bilhões do
país, cerca de R$ 46,4 bilhões.
Os dados fazem parte do
Relatório de Migração de Patrimônio Privado Henley 2025, divulgado pela
consultoria internacional de investimentos Henley & Partners e pela empresa
global de inteligência patrimonial New World Wealth.
Globalmente, os destinos
escolhidos pelos afortunados são, em primeiro lugar, os Emirados Árabes Unidos,
com entrada líquida prevista de 9,8 mil milionários, e, em segundo, os Estados
Unidos, com saldo positivo de 7,5 mil migrantes endinheirados. Já para os
brasileiros, a terra natal do Mickey Mouse e dos parques da Disney lidera a
preferência, seguida por Portugal, Ilhas Cayman, Costa Rica e Panamá.
Destino de
ricaços e celebridades
Não é de hoje que os EUA são a
opção número um de muitos brasileiros bem-sucedidos. Dos bilionários que fazem
ou já fizeram parte da lista da Forbes há vários.
Alexandre Behring (3G Capital), Pedro Franceschi e Henrique Dubugras
(fundadores da Brex), além de Flávio Augusto da Silva (Wiser Educação) são
apenas alguns dos que moram há anos por lá. Outros possuem imóveis e se dividem
entre os dois países, como o investidor Julio Bozano e o empresário Joesley
Batista.
Já o bispo Edir Macedo,
fundador da Igreja Universal, colocou à venda este ano o apartamento que
possuía na Porsche Design Tower, o suntuoso edifício em Sunny Isles Beach
(Flórida) onde era vizinho do jogador argentino Lionel Messi.
|
Destino dos milionários |
Milionários recebidos |
Valor recebido (US$ bilhões) |
|
Emirados Árabes Unidos |
9.800 |
63.0 |
|
Estados Unidos |
7.500 |
43.7 |
|
Itália |
3.600 |
20.7 |
|
Suíça |
3.000 |
18.4 |
|
Arábia Saudita |
2.400 |
16.8 |
|
Singapura |
1.600 |
8.9 |
|
Portugal |
1.400 |
8.1 |
|
Grécia |
1.200 |
7.7 |
|
Canadá |
1.000 |
5.7 |
|
Austrália |
1.00 |
5.6 |
Fora os bilionários, a lista de ricos e famosos brasileiros que moram ou mantêm imóveis e passam temporadas nos Estados Unidos é enorme. Entre atores, modelos, cantores e dançarinos estão Humberto Martins, Leandro Hassum, Jorge Bem Jor, Carla Perez e Xanddy, que escolheram Orlando, na Flórida. Gisele Bündchen e Anitta, em Miami (Flórida). Rodrigo Santoro, Cláudia Leitte, Alice Braga e Ludmila Dayer, preferiram Los Angeles, na Califórnia.
Por que os
EUA?
Os 7,5 mil novos migrantes
internacionais que se mudarão para os EUA em 2025 levarão com eles US$ 43,7
bilhões (R$ 241,4 bilhões) e encontrarão um país que já conta com uma
quantidade significativa de milionários, centimilionários (aqueles com fortuna
acima de US$ 100 milhões ou mais de R$ 550 milhões) e bilionários (mais de US$
1 bilhão ou R$ 5,5 bilhões).
De acordo com a Henley &
Partners, a nação é o lar de mais de 6 milhões de indivíduos com patrimônio
líquido acima de US$ 1 milhão, que representam 37% de toda a população
milionária mundial, além de 36% dos centimilionários (pouco mais de 10,8 mil
pessoas) e 33% dos bilionários (867 cidadãos).
Apesar de uma quantidade
crescente de norte-americanos fazerem o caminho oposto e se mudarem para outros
países, nos últimos dez anos (2014 a 2024) os EUA apresentaram um
impressionante crescimento de 78% no número de milionários. Hoje, eles detêm
uma participação de 34% no patrimônio privado líquido global.
“Os Estados Unidos reforçam seu
apelo duradouro como um importante centro de talentos e riqueza globais,
permanecendo no topo do ranking dos 10 países mais ricos do mundo. Essa força
reflete mais do que apenas o desempenho econômico — sinaliza uma mudança mais
ampla na forma como o capital global está se reposicionando”, afirma o
economista sênior internacional e cientista político Peter Middlebrook, CEO da
consultoria Geopolicity Inc.
Ele explica que os pilares
dessa atratividade estão em um ecossistema de inovação maduro e mercados
financeiros robustos. “A migração de riqueza para os Estados Unidos é cada vez
mais moldada por fatores estruturais de longo prazo, em vez de dinâmicas
políticas de curto prazo, ressaltando a resiliência e a atratividade
estratégica do país em um cenário global em evolução”, completa.
O economista ressalta as
iniciativas para atração de criadores de riqueza e inovação por meio de
caminhos favoráveis a investimentos. Somado a isso, o surgimento de regiões de
baixa densidade e alto crescimento chama a atenção. Cidades como Austin, no
Texas, e Miami, na Flórida, vêm se tornando novos redutos de riqueza que
emergem além das tradicionais cidades costeiras.
Altos e
baixos no mundo
Na outra ponta, o Reino Unido é
a localidade com o pior desempenho da lista, com a saída de 16,5 mil
milionários e US$ 91,8 bilhões (R$ 506,7 bilhões). O país, que já vinha
perdendo atratividade desde o Brexit (a retirada da União Europeia), teve sua
situação agravada depois das reformas tributárias de 2024, que aumentaram
consideravelmente os impostos sobre ganhos de capital e herança. Outras partes
da Europa, vistas como jurisdições de impostos favoráveis, como Mônaco e Malta,
bem como paraísos de estilo de vida, como Itália, Grécia, Portugal e Suíça,
estão atraindo parte desses milionários.
O contraste dramático com o
Reino Unido, no entanto, vem do Oriente Médio. Os Emirados Árabes, líderes na
entrada de milionários, com 9,8 mil afortunados e patrimônio de US$ 63 bilhões
(R$ 347,7 bilhões), conceberam a estratégia de atração de riqueza mais
bem-sucedida da era moderna, segundo os pesquisadores.
|
Origem
dos milionários |
Milionários
perdidos |
Valor
perdido (US$ bilhões) |
|
Reino Unido |
16.500 |
91.8 |
|
China |
7.800 |
55.9 |
|
Índia |
3.500 |
26.2 |
|
Coréia do Sul |
2.400 |
15.2 |
|
Rússia |
1.500 |
14.7 |
|
Brasil |
1.200 |
8.4 |
|
França |
800 |
4.4 |
|
Espanha |
500 |
3.1 |
|
Alemanha |
400 |
2.2 |
|
Israel |
350 |
2.5 |
O estudo destaca que, com uma política de imigração acolhedora, imposto de renda zero, infraestrutura de primeira linha, estabilidade política e “estrutura regulatória que trata o capital como parceiro e não como presa”, os Emirados evoluíram de um polo regional para um polo global de riqueza.
Já na Ásia, a Coreia do Sul é o
destaque negativo, com menos 2,4 mil indivíduos. A China, por sua vez, é um
grande paradoxo, segundo os pesquisadores. Apesar da perda líquida de 7,8 mil
milionários em 2025, o número é o menor em anos. O dado poderia ser sinal de
uma virada, impulsionada pelo crescimento de setores como o de
tecnologia, private banking, saúde e entretenimento.
Assim como a China, os
principais países do Brics também registraram déficits menores na comparação
com anos anteriores. A única exceção foi o Brasil, com a piora de seu
desempenho.
“Uma onda histórica de migração
de riqueza está remodelando o cenário financeiro global. Longe de ser uma
curiosidade estatística, esse movimento em massa de milionários representa a
maior transferência voluntária de capital privado da história moderna”, diz
Juerg Steffen, CEO da Henley & Partners.
Segundo ele, os dados indicam
que está em jogo uma profunda mudança na influência econômica global, à medida
que os países competem não apenas por talentos, mas também pelas fortunas que
os acompanham. “Estamos assistindo a um movimento em que alguns vêm emergindo
como novos refúgios de prosperidade, enquanto outros saem perdedores em uma
corrida global acelerada por riqueza.”
Fonte: https://www.dcomercio.com.br/publicacao/s/exodo-de-milionarios-1-2-mil-devem-deixar-o-brasil-ate-o-final-de-2025
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