A maternidade
real raramente se parece com os comerciais de TV — e isso vale, especialmente,
para a amamentação. Aline Graffiette, psicóloga e CEO da Mental One, chama
atenção para o peso emocional que muitas mulheres enfrentam antes mesmo do bebê
nascer. “É muito comum que mães recentes escutem histórias como ‘meu filho
mamava muito’, ‘tive leite de sobra’, ‘amamentei até os dois anos’. Poucas
falam sobre as dificuldades reais, e isso contribui para a culpa e ansiedade
desde o início do processo”, afirma.
Segundo a
especialista, a amamentação nem sempre é simples — e quase nunca corresponde à
imagem idealizada da mãe tranquila, com o bebê calmo no colo, em um ambiente
leve e silencioso. “Criamos a expectativa de reviver a cena da propaganda: seio
farto, vínculo mágico, tudo sob controle. Mas a maioria das mulheres enfrenta
dor, insegurança, noites mal dormidas e muita pressão emocional. E quando isso
não acontece como o esperado, vem o sentimento de falha.”
Para Aline, o
impacto emocional é profundo. “A mulher tenta fazer da amamentação um momento
mágico. Quando não é, se sente menos mãe. Mas o vínculo com o bebê vai muito
além do leite. Ele está no olhar, no toque, no cheiro, na voz, no colo. A
amamentação é só uma das ‘perninhas’ de uma cadeira com muitas outras bases.
Ela não define o afeto”, explica.
Compartilhando
sua própria experiência, a psicóloga relembra como o estresse emocional intenso
secou seu leite em 20 dias. “Minha mãe estava em depressão profunda, com
ideação suicida. Eu precisava cuidar do meu bebê e da minha mãe. Não tinha como
meu corpo responder de forma diferente. Meu filho foi para a fórmula e hoje é
um gigante, super vinculado a mim. O leite não é tudo.”
O recado é direto: é preciso tirar o “chantilly” da relação mãe-bebê e parar de glamourizar a maternidade. “A amamentação precisa ser funcional — quando for possível. E, acima de tudo, é preciso estar preparada emocionalmente para lidar com a frustração que pode vir junto. Relaxar não é simples, mas é necessário buscar recursos, apoio, informação e acolhimento para tornar esse momento mais real e menos idealizado.”
A maternidade precisa ser vista com verdade — não como um conto de fadas. E a amamentação, quando possível, deve ser construída com leveza, não com culpa.
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