Especialistas lembram que o apoio emocional e
prático do companheiro pode ser um diferencial para o sucesso da amamentação.
Dados mostram que menos da metade dos bebês brasileiros são amamentados
exclusivamente até os seis meses.
No
Brasil, apenas 45,8% dos bebês menores de seis meses são amamentados
exclusivamente, segundo dados do ENANI (Estudo Nacional de Alimentação e
Nutrição Infantil). O índice está abaixo da meta de 50% estabelecida pela
Organização Mundial da Saúde para 2025 e evidencia o quanto o aleitamento ainda
encontra desafios no dia a dia das famílias brasileiras. Neste cenário, a
Semana Mundial da Amamentação (1 a 7 de agosto), que neste ano trouxe o tema
“Priorizemos a Amamentação: criemos sistemas de apoio sustentáveis”, e o Agosto
Dourado, dedicado ao incentivo ao aleitamento, reforçam um ponto muitas vezes
esquecido: amamentar não é tarefa apenas da mãe.
Especialistas
chamam atenção para o papel fundamental do pai na jornada do aleitamento
materno. Muito além de "ajudar", os homens que se envolvem de forma
ativa e consciente se tornam aliados fundamentais para que esse processo que
pode ser desafiador, dolorido e solitário aconteça com mais segurança, tranquilidade
e sucesso.
“A
amamentação não é instintiva, é um processo que se aprende. E ninguém aprende
sozinho, principalmente nos primeiros dias, quando a mulher está fragilizada
física e emocionalmente. O pai pode e deve ser um facilitador. Desde segurar o bebê
para a mãe se ajeitar, até buscar água, acolher e proteger esse momento dos
palpites externos”, afirma Dra. Anna Bohn pediatra da SBP (Sociedade Brasileira
de Pediatria).
O apoio do pai começa antes mesmo do nascimento. Participar das consultas pré-natais, entender como funciona a produção de leite, saber como evitar ou aliviar problemas como fissuras e ingurgitamento, tudo isso prepara o terreno para que ele tenha um papel ativo desde os primeiros minutos de vida do bebê. “O sucesso da amamentação depende de muitos fatores. E vários deles passam pela presença e parceria do pai”, complementa Dra. Anna.
Segundo o pediatra Dr. Paulo Telles, a presença efetiva do pai impacta
diretamente o bem-estar emocional da mãe e o desenvolvimento do bebê. “Amamentar
exige muito da mulher. É um período de cansaço, dor, insegurança. Quando a mãe
se sente sozinha, as chances de desmame precoce, depressão pós-parto e
sofrimento aumentam. Por outro lado, quando ela tem ao lado alguém que a
acolhe, divide tarefas e oferece suporte emocional, tudo muda inclusive para o
bebê, que recebe mais acolhimento, mais vínculo e mais saúde emocional e
neurológica”, afirma o pediatra.
A
fisioterapeuta Dra. Alessandra Paula, especialista em aleitamento humano,
reforça: a participação do pai não se resume a trocar fraldas ou “ficar do
lado”.
“Apoiar,
de verdade, é dividir a carga mental e prática. É proteger aquele momento,
ajustar travesseiros, preparar o ambiente, segurar a mão dela quando estiver
difícil. Às vezes, o pai não sabe o que fazer e acaba se afastando. Mas ele
pode e deve ser parte do processo, aprender junto, acolher e até filtrar os
julgamentos externos. Quando a mãe sente que não está sozinha, ela se sente
mais segura. E mãe segura, amamenta melhor.”
Além
disso, os especialistas alertam para o risco de comportamentos que, mesmo com
boa intenção, podem atrapalhar o processo:
“Comparar
o cuidado da mãe com um trabalho 'menos exigente' por estar em casa, pressionar
a rotina, sugerir fórmula ou invalidar o cansaço são atitudes que minam a
confiança da mulher e comprometem o aleitamento. O pai precisa entender que a
jornada da amamentação é intensa e merece reconhecimento”, reforça Dr. Paulo
Telles.
A
mensagem é clara: quando o pai se envolve, a amamentação deixa de ser um fardo
solitário e se transforma em uma experiência de vínculo, parceria e crescimento
para toda a família.
DICAS PRÁTICAS PARA PAIS APOIAREM A AMAMENTAÇÃO
1-Esteja presente desde a gestação: participe das consultas pré-natais e de grupos
sobre amamentação. Informação é apoio.
2- Prepare o ambiente:
ajuste travesseiros, traga água, coloque uma música suave e crie um espaço de
conforto para o momento da amamentação.
3-Assuma tarefas da casa:
liberar a mulher das obrigações domésticas é fundamental para que ela consiga
se dedicar ao bebê e ao próprio descanso.
4- Cuide das
fraldas: após a mamada, é comum o bebê evacuar (reflexo
gastro-cólico). Assuma essa tarefa com naturalidade.
5- Acolha com escuta ativa:
em vez de tentar resolver, escute, diga “eu estou aqui” e incentive a buscar
ajuda profissional, sem julgamentos.
6-Evite frases que desmotivam: troque “teu leite é fraco” por “você está indo muito bem, confio em
você”. Palavras fortalecem.
7-Crie vínculo com o bebê:
dar banho, colocar para dormir e estar presente são formas poderosas de
conexão. Amamentar é da mãe, mas cuidar é dos dois.
Para
a fisioterapeuta Alessandra Paula, enxergar o pai como protagonista nesse
momento é fundamental para transformar a amamentação em uma experiência
positiva para toda a família. “Quando o pai entende que seu papel vai além de
‘ajudar’, ele se torna parte real do processo. Não é sobre perfeição, é sobre
presença. É sobre dizer: ‘você não está sozinha’. Esse apoio muda tudo,
fortalece a mulher, protege o bebê e cria laços que vão muito além da
amamentação”, finaliza.
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