Pesquisa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal com o Datafolha revela que apenas 16% consideram os primeiros anos de vida como mais importantes para o desenvolvimento físico, emocional e de aprendizagem
A pesquisa “Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil
sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida”,
realizada pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Datafolha, revela
que mais da metade da população brasileira (84%) não considera os anos iniciais
como fundamentais para o desenvolvimento humano.
Para 41% dos entrevistados, o maior pico do desenvolvimento
físico, emocional e de aprendizagem ocorre na idade adulta, a partir dos 18
anos. Outros 25% acreditam que é na adolescência, entre 12 e 17 anos. Apenas
15% citaram a primeira infância - entre 0 e 6 anos.
O levantamento ouviu 2.206 pessoas em todo o Brasil, sendo 822
responsáveis diretos por crianças de até seis anos. O desconhecimento é maior
entre pessoas do interior, com menor renda e escolaridade.
Considerada uma “janela de oportunidades”, é na primeira infância
que o ser humano se desenvolve mais, e mais rápido. Nesse período, formam-se as
bases do desenvolvimento cognitivo, físico e socioemocional. Até os 6 anos, o
cérebro realiza 1 milhão de sinapses por segundo e 90% das conexões cerebrais
são estabelecidas.
A pesquisa revelou, ainda, que 42% dos brasileiros desconhecem
ou não sabem o que significa o termo "primeira infância".
E mais: apenas 2% da população sabe identificar corretamente que essa fase vai
de 0 a 6 anos de idade. Entre os cuidadores, o índice sobe para 4%.
Amor e atenção são prioridade no cuidado
A pesquisa também procurou entender o que os cuidadores consideram
mais importante na criação de bebês e crianças pequenas. Amor (43%) e carinho
(33%) são apontados como fundamentais, especialmente para as crianças de 0 a 3
anos, onde o índice aumenta para 46% e 39%, respectivamente. Já frequentar
creches e pré-escola é tida como fundamental para 14% da população.
Para Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a
percepção sobre a importância dos vínculos é uma evolução no entendimento sobre
cuidados com as crianças. “Na primeira infância, a qualidade das interações e
do ambiente impacta diretamente o desenvolvimento da criança, com consequências
para toda a vida. Relações positivas e amorosas tendem a fazer com que as
crianças cresçam mais seguras e independentes.”
No que se refere às principais práticas para o desenvolvimento
infantil, respeito aos mais velhos aparece como o item mais importante (96%), à
frente de frequentar creche e pré-escola (81%) e deixar a criança livre para
brincar (63%).
“É revelador que o respeito aos mais velhos seja considerado mais
importante para o desenvolvimento infantil do que brincar livremente ou
frequentar unidades de educação infantil. Isso mostra como valorizamos a
obediência acima de experiências fundamentais para o desenvolvimento pleno,
como o brincar, que é um dos principais meios de aprendizagem da criança
pequena, e a frequência à creche e pré-escola”, analisa Mariana Luz.
Violência ainda persiste: 29% dos responsáveis admitem usar
palmadas
“Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa
sobre os primeiros seis anos de vida” também procurou entender quais as
estratégias disciplinares utilizadas pelos cuidadores. Conversar com a criança
e explicar o erro é o meio mais relatado (96%), seguido por acalmar e retirá-la
da situação (93%). No entanto, 29% dos entrevistados admitiram o uso de práticas
violentas, como palmadas e beliscões, inclusive com crianças de
até 3 anos.
“O uso da violência impacta profundamente o desenvolvimento cognitivo,
emocional e social das crianças, deixando marcas que vão muito além das lesões
físicas. Pode gerar traumas silenciosos, persistentes e, em muitos casos,
irreparáveis”, aponta Luz.
58% dos entrevistados também disseram colocar a criança de castigo
e 43% relatam gritar ou brigar como forma de disciplina. Apesar disso, apenas
10% acreditam que os gritos funcionem como métodos disciplinares.
Tempo de tela preocupa: 4 em cada 10 responsáveis dizem que
crianças passam tempo demais em frente a celulares e TV
Em média, as crianças de 0 a 6 anos passam 2 a 3 horas
por dia em frente a telas, sendo que 78% das
crianças de até 3 anos e 94% das de 4 a 6 anos têm esse tipo de
exposição diariamente. Entre os efeitos percebidos, predominam os negativos: 56% acreditam
que o uso excessivo de telas pode prejudicar a saúde e 42% disseram que limita a socialização das crianças. A Sociedade Brasileira
de Pediatria não recomenda telas para menores de dois anos e, após esse
período, o uso deve ser limitado a uma hora, sempre com acompanhamento.
“Diversos estudos mostram o uso excessivo dessas tecnologias na
infância pode afetar negativamente o desenvolvimento infantil, causando
problemas como obesidade, isolamento social, dor muscular, déficit de atenção,
hiperatividade e queda no rendimento escolar. No entanto, essa pesquisa nos
mostra a dificuldade de retirar as crianças de frente das telas”, pondera Luz.
“Não podemos esquecer também que, para algumas famílias, o celular pode atuar
como uma rede de apoio, uma distração para que a mãe ou cuidadora possa
realizar outras tarefas. Não podemos julgar essa mãe, mas oferecer alternativas
que substituam isso".
A maioria dos responsáveis acredita que incentivar
atividades ao ar livre, estabelecer horários fixos e limitar o
tempo diário de uso são as melhores formas de controle.
Metodologia
A pesquisa foi realizada entre os dias 8 e 10 de abril de 2025 com
uma amostra nacional, por meio de entrevistas presenciais em pontos de fluxo
populacional. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para a amostra geral e
3 pontos para os responsáveis por crianças. No total, 2.206 entrevistas
realizadas (amostra nacional), sendo que 31% são responsáveis pelo cuidado de
bebês e crianças de até 6 anos.
“Panorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa
sobre os primeiros seis anos de vida está" foi lançado hoje, dia 04 de
agosto, no Mês da Primeira Infância.
Acesse a pesquisa completa
Fundação
Maria Cecilia Souto Vidigal
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