No Brasil, o incentivo à amamentação é forte e reconhecido
internacionalmente, com destaque para os bancos de leite e ações de saúde
pública. Mas no centro dessa discussão, está uma realidade que muitas vezes é
esquecida e precisa ser lembrada: existem mães que, por orientação médica, não
podem amamentar e isso não as faz menos mães.
O Projeto Criança Aids (PCA), que há 34 anos acolhe crianças e
famílias afetadas pela transmissão vertical do HIV, destaca que mulheres que
vivem com o vírus, mesmo seguindo corretamente o tratamento, não devem
amamentar, mesmo quando estão com a carga viral indetectável. A recomendação
visa eliminar qualquer risco de transmissão do HIV ao bebê pelo leite materno,
mantendo os cuidados iniciados ainda no pré-natal.
“Essas mães são acompanhadas pelos médicos infectologistas, fazem o
pré-natal, tomam corretamente os antirretrovirais, seguem todas as orientações
para garantir que o bebê nasça saudável e, por amor, abrem mão da amamentação.
Isso também é cuidado. Isso também é maternidade”, afirma Adriana Galvão
Ferrazini, presidente do PCA.
A recomendação de não amamentar faz parte do protocolo de
prevenção da transmissão vertical, ao lado da adesão rigorosa à medicação e da
conduta obstétrica pela via de parto mais adequada. Essas ações, quando
seguidas corretamente, reduzem o risco de transmissão para menos de 1%.
No entanto, mesmo diante de tanta responsabilidade e entrega,
essas mulheres muitas vezes enfrentam olhares de julgamento, perguntas
invasivas e a sensação de inadequação. Para o PCA, o Agosto Dourado é também o
momento de combater o preconceito e afirmar que a maternidade não se define por
um ato isolado, mas pela soma diária de cuidado, presença e amor. “Para as mães
que vivem com HIV, não amamentar é um ato de amor e cuidado para que seu bebê
continue saudável e livre do vírus HIV pela transmissão vertical.” lembra
Adriana Galvão Ferrazini, presidente do PCA.
É importante destacar que a transmissão vertical do HIV pelo
aleitamento materno pode ocorrer em qualquer momento da amamentação. Por isso,
a testagem regular e a prevenção da infecção pelo vírus, tanto no pós-parto
quanto durante todo o período de amamentação, são essenciais. Uma mulher que se
infecta com o HIV nesse período e não realiza testes frequentes pode ter até
40% de chance de transmitir o vírus ao bebê. O uso de PrEP (profilaxia
pré-exposição) e PEP (profilaxia pós-exposição) também é indicado para mulheres
que estão amamentando, como uma forma adicional de prevenção, protegendo tanto
a mãe quanto a criança.
No mês de agosto, o Projeto Criança Aids convida a sociedade a
ampliar o olhar sobre a maternidade e incluir também as histórias silenciosas
das mulheres que não puderam amamentar, mas que fizeram tudo o que estava ao
alcance para garantir uma vida saudável aos seus filhos.
Mais sobre o PCA:
Fundado em 1991, o Projeto Criança Aids oferece atendimento psicossocial, assistencial e educativo a crianças, adolescentes e famílias que vivem e convivem com o HIV. Atua em articulação com hospitais de referência como o Emílio Ribas e centros do SUS, com sede na zona sul de São Paulo.
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