Com menor
exposição à luz, queda na temperatura e aumento do isolamento social,
especialistas explicam como o frio agrava quadros emocionais e o que fazer para
manter o equilíbrio durante a estação
Os dias seguem curtos, gelados e com pouca luz
natural. Para muitas pessoas, esse cenário típico do inverno não traz apenas
desconforto físico, mas também impactos emocionais profundos. Sentimentos de
tristeza, desânimo, irritação ou ansiedade tendem a se intensificar nessa época
do ano e, ainda assim, é comum que a procura por atendimento psicológico ou psiquiátrico
diminua.
O psiquiatra Matheus Souza Steglich, diretor
técnico do Instituto São José, do grupo ViV Saúde Mental e Emocional, em Santa
Catarina, explica que durante o inverno, há uma combinação de fatores
biológicos e comportamentais que impactam diretamente o bem-estar emocional.
“A menor exposição à luz solar, por exemplo,
interfere em eixos hormonais, o que influencia o humor e o sono. Além disso, o
frio e os dias mais escuros tendem a reduzir a prática de exercícios e a
aumentar o isolamento social, o que agrava ainda mais quadros de sofrimento
psíquico”, destaca.
De acordo com Steglich, no Instituto São José é
comum observar uma queda de 15% a 20% nos atendimentos de pronto-atendimento
psiquiátrico durante os meses mais frios, em comparação com períodos de
temperaturas elevadas.
“A diminuição da motivação, a resistência em sair
de casa e até o agravamento dos sintomas contribuem para que as pessoas deixem
de procurar ajuda justamente quando mais precisam dela.”
O mesmo cenário é observado no Paraná, segundo o
psiquiatra Guilherme Gois, diretor técnico da CADMO, unidade do grupo ViV no
estado, que registra uma redução de cerca de 15% na procura por atendimento no
pronto-atendimento psiquiátrico durante o inverno, além do aumento de faltas em
consultas.
“A piora clínica muitas vezes não é acompanhada de
um pedido de ajuda, e sim de retraimento”, explica o médico.
Riscos de abandonar o
tratamento no inverno
Adiar ou interromper o acompanhamento psicológico
ou psiquiátrico durante os meses frios pode ter consequências sérias, alertam
os especialistas.
Entre os principais riscos estão o agravamento de
sintomas, como crises de ansiedade e episódios depressivos mais intensos,
recaídas em quadros já estabilizados e até internações em casos mais severos.
Outro ponto crítico, segundo os médicos, é o
retrocesso terapêutico, uma vez que os ganhos conquistados ao longo do
tratamento podem se perder com a interrupção. “Além disso, quanto mais tempo a
pessoa fica afastada do cuidado, maior a dificuldade de retomar o vínculo com a
equipe e a rotina de acompanhamento”, destaca Gois.
Estratégias para cuidar da
saúde mental nos dias frios
Apesar dos desafios, é possível adotar medidas
simples e eficazes para proteger a saúde mental no inverno. Os especialistas
orientam que manter uma rotina estruturada, buscar exposição à luz natural
sempre que possível e praticar alguma atividade física, mesmo que em casa, são
atitudes fundamentais para preservar o equilíbrio emocional.
Também é importante manter o contato social, seja
com familiares, amigos ou grupos terapêuticos, e dar continuidade aos
compromissos de cuidado, como consultas e terapias, mesmo quando a motivação
diminui com o frio. Em casos de maior dificuldade, alternativas como o
atendimento remoto podem ser consideradas.
“Reforçamos sempre que o cuidado com a saúde mental
não deve ser sazonal. O inverno passa, mas os transtornos mentais permanecem se
não forem tratados com regularidade. Por isso, reconhecer sinais de piora
emocional e buscar ajuda especializada antes que a crise se instale é o melhor
caminho”, orienta Gois.
“A estação pode até ser mais fria e introspectiva,
mas isso não deve ser motivo para abandonar o cuidado. Estar atento ao corpo e
à mente, manter vínculos e seguir o tratamento são atitudes essenciais para
atravessar o inverno com mais saúde emocional”, completa Steglich.
Nenhum comentário:
Postar um comentário