sexta-feira, 4 de abril de 2025

Os desafios do diagnóstico do autismo invisível: por que a detecção precoce é crucial

Os impactos do diagnóstico tardio e destaca avanço recente aprovado pelo FDA para identificar sinais do transtorno já a partir dos 16 meses de idade
 

O autismo pode estar presente, mas não ser percebido — e é justamente esse o maior desafio para milhares de famílias. No mês de abril de Conscientização do Autismo, a referência em psicologia e neuropsicologia e saúde mental em todas as fases da vida, a especialista Tatiana Serra, da capital paulista, reforça a importância de olhar com atenção para o chamado “autismo invisível”: casos em que os sinais são sutis, muitas vezes atribuídos a traços de personalidade ou fases do desenvolvimento.

“Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores as chances de intervenções eficazes que melhorem a qualidade de vida da criança e da família. O cérebro infantil é altamente plástico nos primeiros anos de vida, e intervenções precoces podem fazer toda a diferença”, explica a psicóloga.

Embora o diagnóstico precoce ainda enfrente barreiras — tanto pela dificuldade de acesso a profissionais especializados quanto pela escassez de instrumentos objetivos — um novo avanço traz esperança, no ano passado, uma técnica de rastreamento ocular recebeu aprovação do FDA (a agência reguladora dos EUA) como ferramenta diagnóstica oficial para o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“O exame, indicado para crianças de 16 a 30 meses, consiste na apresentação de uma sequência de vídeos infantis enquanto um computador rastreia 120 vezes por segundo os movimentos oculares da criança. A tecnologia analisa para onde o olhar é direcionado em cada cena e compara com os padrões de crianças típicas da mesma idade. A partir dessa análise, é possível identificar em minutos se há padrões de atenção característicos do espectro autista”, explica Tatiana.

“É um avanço promissor porque permite um diagnóstico menos subjetivo, baseado em evidências visuais e comportamentais, que muitas vezes escapam mesmo aos olhos mais atentos dos pais ou professores”, comenta. A psicóloga ainda lembra que, muitas vezes, crianças com autismo leve ou com boas habilidades verbais passam despercebidas nos primeiros anos escolares. “Essas crianças podem sofrer silenciosamente com dificuldades de socialização, crises sensoriais ou hiperfoco, sem receber apoio adequado”, afirma.

Tatiana ainda ressalta que o diagnóstico não deve ser temido, mas compreendido como um passo fundamental para o desenvolvimento da criança. “Saber é o primeiro passo para acolher. Quando a família entende o que está acontecendo, pode buscar estratégias que respeitem e fortaleçam a individualidade da criança.”

O mês de abril reforça que conscientizar é também democratizar o acesso à informação, ao diagnóstico e ao cuidado. E, como diz Tatiana, “quando enxergamos além do comportamento, começamos a ver o ser humano por inteiro”.

 

Tatiana Serra, psicóloga e neuropsicóloga - Neuropsicóloga pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (2014), analista do Comportamento pela Universidade de São Paulo (USP). Experiência de mais de 10 anos em Análise do Comportamento e Transtorno do Espectro do Autismo e desenvolvimento de famílias e equipe.


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