Anvisa passará a
obrigar a retenção de receitas médicas para medicamentos como Ozempic e
Mounjaro
Nos últimos anos, as chamadas “canetas para emagrecer” se tornaram febre entre quem busca uma perda de peso rápida. Celebridades e influenciadores passaram a exibir os efeitos dessas medicações, como a semaglutida e a tirzepatida, provocando uma corrida às farmácias, muitas vezes sem orientação médica. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCB), a obesidade atingiu a marca de 9 milhões de pessoas no país, em 2024.
A endocrinologista Milene Guirado explica que as canetas são dispositivos usados para aplicar, de forma subcutânea, medicamentos que imitam alguns hormônios naturalmente produzidos pelo corpo. Essas substâncias atuam diminuindo o apetite, aumentando a saciedade e modulando centros cerebrais ligados à fome e ao prazer de comer.
“A semaglutida e a tirzepatida, por exemplo, são análogos do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1). Além de ajudarem no controle da glicose, o que as torna úteis também no tratamento do diabetes tipo 2, elas promovem a lentificação do esvaziamento gástrico e agem diretamente no hipotálamo, reduzindo o apetite. A tirzepatida atua ainda em outro hormônio, o GIP, o que potencializa a perda de peso com menos efeitos colaterais”, informa.
A especialista alerta que, apesar de serem eficazes, as canetas precisam ser
vistas como parte de um tratamento, e não como a solução completa. “Elas
melhoram o metabolismo da glicose, diminuem a fome, aumentam a saciedade e
reduzem o desejo por alimentos altamente palatáveis, como doces e frituras.
Contudo, o uso isolado dessas medicações pode levar a perda de massa magra,
fraqueza, desidratação e deficiência de vitaminas e minerais, como vitamina
B12, ferro e cálcio, por exemplo, o que pode evoluir para quadros de
Osteoporose e até mesmo simular o diagnóstico de doença de Alzheimer.
Os perigos do uso sem orientação médica
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) seguiu o posicionamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) e anunciou no dia 16 de abril, uma diretriz obrigando as farmácias a reterem receitas de medicamentos como Ozempic, Wegovy, Saxenda e similares, que são usados para o emagrecimento. A decisão passará a ter valor 60 dias após a publicação no Diário Oficial da União (DOU).
A endrocrinologista explica que o uso dos medicamentos sem prescrição ou acompanhamento médico podem causar náuseas intensas, vômitos, desidratação e até mesmo pancreatite aguda. A médica também orienta que pessoas com histórico de doenças específicas, como Carcinoma Medular da Tireoide, não devem fazer uso desses medicamentos.
“Mesmo quando o paciente apresenta sobrepeso leve ou IMC dentro da faixa normal, mas possui acúmulo de gordura visceral, a mais perigosa, o uso pode ser indicado. Mas cada caso precisa ser cuidadosamente avaliado por um profissional”, disse.
A especialista ainda alerta que em um mundo onde a estética pesa tanto quanto (ou mais do que) a saúde, o apelo de uma “injeção mágica” é grande.
“As pessoas querem ser emagrecidas, e não aprender a emagrecer”. Sem mudança de
estilo de vida, a medicação pode levar ao conhecido “efeito sanfona”: emagrece
rápido, mas recupera o peso logo depois. Além disso, o emagrecimento rápido
pode ser um gatilho emocional. Transtornos alimentares, depressão e ansiedade
são riscos reais quando não há suporte psicológico durante o processo”,
afirmou.
Medicação não substitui alimentação e exercício
Mesmo durante o uso das canetas, a alimentação e a atividade física são
indispensáveis. “É preciso musculação para evitar a perda de massa magra e um
plano alimentar que reponha nutrientes, já que o apetite fica reduzido”,
destaca a médica. A longo prazo, só com o equilíbrio entre alimentação, exercício,
sono e controle emocional é possível manter os resultados.
Outras opções de tratamento
As canetas não são a única saída. Existem medicamentos como Contrave, Topiramato
e Lisdexanfetamina, que também podem auxiliar na perda de peso, embora tenham
mais contraindicações e efeitos colaterais, além de terem indicações mais
específicas. “Muitas vezes, precisamos associar medicações para potencializar
os efeitos, mas tudo deve ser feito com acompanhamento médico”, orienta.
Milene Guirado ainda explicou que a obesidade é uma
doença crônica, multifatorial e altamente recidivante. E, como qualquer outra,
deve ser tratada com seriedade. “Você retiraria o remédio de um hipertenso só
porque ele já melhorou? Não. O mesmo vale para quem sofre com a obesidade. Em
alguns casos, o uso contínuo da medicação será necessário, especialmente se não
houver mudanças de hábitos”, conclui.
LD Comunicação
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