'Anjo, Nunca!’ levanta a voz contra o bullying e exalta a busca por existir no próprio ritmo

Escrita por Flávia Reis, obra lançada pela PeraBook fala sobre superar rótulos, lidar com a exposição e encontrar a própria identidade em um mundo cheio de pressões 

Em Anjo, nunca!, lançado pela PeraBook Editora, uma situação de bullying escolar dá início a um desabafo sobre aceitação de si e respeito à diversidade. Na história, uma protagonista neurodiversa enfrenta a exposição de uma crise de raiva por meio de um vídeo nas redes sociais, registrado sem a sua permissão por colegas de escola.   

O episódio a coloca sob os holofotes de julgamentos alheios e, a partir dele, a menina conta sobre os seus processos de adaptação e construção de autoestima em um mundo que parece não estar preparado para a sua existência: “As pessoas tentaram dar algum tipo de rótulo. Tentaram colocar numa caixinha. Anjo, eu? nunca!”, afirma a personagem, revelando a luta para preservar sua identidade e autenticidade em meio às pressões sociais. 

Para a Flávia Reis, que vivencia de perto as questões que permeiam a obra, “Anjo, nunca! surgiu da necessidade visceral de escrever uma história que falasse sobre diversidade neurocognitiva”. A escritora já foi convidada a visitar várias escolas, além de atuar como palestrante em feiras literárias, Bienais, FLIPs e Congressos de Literatura, tanto no país quanto no exterior. 

Com a linguagem poética da autora e a sensibilidade interpretativa de Veridiana Scarpelli na produção das ilustrações, o livro provoca o leitor a refletir sobre o tempo de cada sujeito e a desvalorização de pessoas que não se adequam a uma performance de rapidez e a um perfil hegemônico de comportamento, desenvolvimento e aprendizagem, abrindo espaço para o respeito à neurodiversidade e o apreço à diferença. 

 

Texto complementar para reflexão: 

A escola pode ser um ambiente desafiador para todos, no entanto, é mais desafiador ainda para os estudantes que apresentam algum tipo de neurodivergência. Em Anjo, Nunca!, de Flávia Reis, essa realidade é retratada através da história de uma protagonista que se vê envolvida em uma confusão na escola, tornando-se alvo de registros e exposições cruéis nas redes sociais. 

Neurodivergentes pensam de maneira diferente do que é considerado “neurotípico” (pessoas que não apresentam alterações neurológicas, comportamentais ou psiquiátricas).  Esses grupos incluem indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), dislexia, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), superdotação, dispraxia, Síndrome de Tourette, deficiência intelectual, entre outros. 

No Brasil, ainda não há dados concretos sobre a porcentagem da população neurodivergente. No entanto, o Censo Escolar da Educação Básica de 2023 revelou um aumento significativo no número de alunos com TEA: de 2022 para 2023, houve um crescimento de 50%, totalizando 607.144 estudantes no Brasil. 

De acordo com a Lei Federal nº 14.254 de 2021, o Estado deve dispor o acompanhamento integral para educandos neurodivergentes, tanto em escolas públicas, quanto nas particulares. Essa legislação estabelece que o poder público deve fornecer apoio educacional na rede de ensino, contudo, a realidade é outra. Recentemente, uma reportagem da Tv Globo de São Paulo apontou que estes profissionais foram diluídos em várias escolas, aumentando sua carga de trabalho e diminuindo a sua efetividade. 

A narrativa em Anjo, nunca! também coloca em evidência a importância do desenvolvimento das competências socioemocionais, como empatia, autorregulação e comunicação, fundamentais para se viver bem em sociedade, sendo neurodivergente ou não. Compreender as emoções, estabelecer relações saudáveis e respeitar as diferenças são habilidades essenciais para a inclusão e o bem-estar de todos. 

Anjo, Nunca! é uma obra que nos faz refletir sobre os desafios sociais, diários não apenas da neurodivergência, mas de todos nós, na medida da importância de construirmos um mundo mais empático e inclusivo. 

Ficha técnica: 

Anjo, nunca! 

Autora: Flávia Reis 

Ilustração: Veridiana Scarpelli 

Editora: PeraBook Editora 

Ano: 2024 

ISBN: 9786561210461 

Formato: 16 x 23 cm 

Páginas: 36 

Preço sugerido: R$ 56 

Com audiodescrição e acessibilidade em Libras 

Sobre a autora: 

Flávia Reis dedicou-se à literatura após cursar uma especialização em Literatura e um Mestrado em Letras na USP. Com foco na relação entre textos literários e outras artes, especialmente a ilustração, tornou-se uma autora reconhecida, com livros adotados por escolas no Brasil e participação em feiras literárias internacionais. Em 2020, recebeu a premiação da Unesco, e, em 2022, concluiu o doutorado sobre literatura infantil e juvenil. Atualmente, realiza pesquisa no Pós-Doutorado na UNESP e desenvolve projetos voluntários, como a curadoria de livros para comunidades indígenas.  

Sobre a ilustradora: 

Veridiana Scarpelli, formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, a ilustradora trabalhou com projetos de móveis antes de começar a atuar em jornais e revistas com suas ilustrações.  Por sua obra literária, foi três vezes finalista do prêmio Jabuti, além de ter seu trabalho exposto na feira do Livro Infantil de Bolonha, em 2014, e na Bienal Internacional de Bratislava, em 2021.   

 

Sobre a PeraBook Editora: 

A PeraBook Editora, do Grupo Elo Editorial, foi criada com o objetivo de levar para a literatura infantojuvenil temas contemporâneos importantes por meio de projetos de leitura. Seu catálogo se baseia em debates fundamentais, como a necessidade de se voltar para educação socioemocional e a de promover o respeito à diversidade e à pluralidade de ideias.