quinta-feira, 13 de março de 2025

Presença de mulheres na política é estratégia fundamental para “Acelerar o “Relógio da Igualdade Gênero”

Embora a lei eleitoral obrigue a reserva de 30% dos recursos para as candidaturas, a falta de investimento ainda impede a participação feminina na política.
 

A Plan International Brasil, organização humanitária não governamental que atua na promoção e defesa dos direitos de meninas e mulheres pela igualdade de gênero, é responsável pela Campanha Acelere o Relógio da Igualdade como foco principal de suas ações. A campanha leva em consideração o “Relógio da Igualdade”, uma expressão usada pelo Fórum Econômico Mundial para explicar o progresso da paridade entre gêneros no mundo, contemplando aspectos da vida, social, educacional e política, esse que ainda apresenta ainda pouca inclusão de mulheres, apesar de serem um número significativo na sociedade. 

Apesar de alguns avanços nos últimos anos, principalmente após a legislação eleitoral determinar, em 2009, que partidos políticos reservem uma cota de 30% dos fundos eleitorais para as candidaturas de mulheres, entre a expectativa e a realidade existe uma grande diferença. 

Com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das mais de 187 mil candidatas que concorreram em suas cidades na eleição de 2020, só 24% voltaram a fazer campanha em 2024. Entre os homens, a taxa de ‘recandidaturas’ tem sempre girado em torno de 40%. Outros números da pesquisa ainda dão conta de que foram mais de 159 mil candidatas a prefeita, vice-prefeita e vereadora em todo o país em 2024, das quais 45.307 haviam disputado também a eleição anterior. Desse grupo, só 8.221 insistiram no projeto político mesmo tendo sido derrotadas nas urnas quatro anos antes. 

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, 20 mulheres foram eleitas vereadoras para a Câmara Municipal, sete a mais que em 2020. Um aumento, portanto, de 53.8%. Considerando as 55 vagas disputadas, o número de vereadoras representa 36,3% do total de parlamentares. 

Além da falta de recursos, de apoio de partidos e lideranças partidárias - comandadas em sua maioria por homens – outro aspecto que contribui para essa baixa representatividade de mulheres, sobretudo mulheres jovens na políticaé a chamada violência política de gênero. 

Esse termo significa a legitimação da intimidação e do silenciamento de mulheres em espaços de poder, que pode ocorrer fisicamente ou online (redes sociais), através de ameaças e xingamentos por conta do seu gênero. Mais de 60% das prefeitas e vices afirmam já ter sofrido algum tipo de violência política de gênero durante a campanha ou mandato. Esse dado faz parte de uma ampla pesquisa feita pela Confederação Nacional dos Munícipios, em parceria com o Movimento Mulheres Municipalistas (MMM), que ouviu 224 prefeitas, em um universo de 677, e 210 vice-prefeitas de um total de 898 entre os meses de agosto e outubro de 2024. 

Para Ana Nery, Especialista em Gênero e Inclusão da Plan International Brasil, esses números revelam que “embora a maioria da população e do eleitorado brasileiro seja composto por mulheres a política ainda é um ambiente hostil para esse grupo. Quando acionamos as intersecções de raça, classe, faixa etária e orientação sexual a esse quadro a situação piora bastante. Fatores culturais como o que chamamos de normas prejudiciais de gênero faz com que meninas e mulheres tenham menos tempo para desenvolver suas habilidades de liderança e aprimorar o conhecimento sobre política e se fazerem presente em espaços de disputa político partidária”, atesta ela. 

Ainda segundo a antropóloga, para mudar essa realidade, “é necessário maior investimento em formação política, sobretudo de pessoas de grupos minorizados, redes de apoio e mentorias dentro dos partidos políticos para fortalecer candidaturas de mulheres (cis e trans), junto a reformas institucionais que aprimorem sistema internos de cotas de gênero e raça com incentivo financeiro, programas mais efetivos de combate à violência de gênero e maior debate público sobre o tema para dar mais visibilidade à representatividade de mulheres, em toda sua diversidade, em espaços de política”, reforçou ela.A baixa participação de mulheres em cargos de liderança, bem como a baixa representação feminina na política são dois fatores críticos que têm atrasado o Brasil na luta pela igualdade de gênero, que se permanecer nesse ritmo, levará 5 gerações (134 anos) para ser alcançada. 

Para a Plan Brasil, duas estratégias trabalhadas em seus projetos por todo o Brasil, com crianças, adolescentes e jovens, são fundamentais para acelerar esse o relógio da igualdade. São elas:

- Aumentar o poder econômico de jovens mulheres e mulheres;

- Aumentar a participação de jovens mulheres e mulheres em cargos políticos e de liderança.

“Aliar as estratégias preconizadas pelo estudo do Fórum Econômico Mundial, que é uma instituição tão importante e reconhecida, aos programas e projetos que a Plan International Brasil implementa é de suma importância para atuarmos na raiz dos problemas que intensificam as discriminações de gênero no país. Trabalhar para garantia de direitos de crianças e adolescentes, com olhar atento para as meninas e jovens mulheres, em toda sua diversidade, é atuar diretamente para acelerar o Relógio da Igualdade, pois um mundo bom para as meninas é um mundo mais justo e igualitário para todas as pessoas.” sintetiza Nery.



Plan International Brasil

 

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