Embora a lei eleitoral obrigue a reserva de 30% dos
recursos para as candidaturas, a falta de investimento ainda impede a
participação feminina na política.
A
Plan International Brasil, organização humanitária não governamental que atua
na promoção e defesa dos direitos de meninas e mulheres pela igualdade de
gênero, é responsável pela Campanha Acelere o Relógio da Igualdade
como foco principal de suas ações. A campanha leva em consideração o “Relógio
da Igualdade”, uma expressão usada pelo Fórum Econômico Mundial para explicar o
progresso da paridade entre gêneros no mundo, contemplando aspectos da vida,
social, educacional e política, esse que ainda apresenta ainda pouca inclusão
de mulheres, apesar de serem um número significativo na sociedade.
Apesar
de alguns avanços nos últimos anos, principalmente após a legislação eleitoral
determinar, em 2009, que partidos políticos reservem uma cota de 30% dos fundos
eleitorais para as candidaturas de mulheres, entre a expectativa e a realidade
existe uma grande diferença.
Com
base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), das mais de 187 mil
candidatas que concorreram em suas cidades na eleição de 2020, só 24% voltaram
a fazer campanha em 2024. Entre os homens, a taxa de ‘recandidaturas’ tem
sempre girado em torno de 40%. Outros números da pesquisa ainda dão conta de
que foram mais de 159 mil candidatas a prefeita, vice-prefeita e vereadora em
todo o país em 2024, das quais 45.307 haviam disputado também a eleição
anterior. Desse grupo, só 8.221 insistiram no projeto político mesmo tendo sido
derrotadas nas urnas quatro anos antes.
Em
São Paulo, maior colégio eleitoral do país, 20 mulheres foram eleitas
vereadoras para a Câmara Municipal, sete a mais que em 2020. Um aumento,
portanto, de 53.8%. Considerando as 55 vagas disputadas, o número de vereadoras
representa 36,3% do total de parlamentares.
Além
da falta de recursos, de apoio de partidos e lideranças partidárias - comandadas
em sua maioria por homens – outro aspecto que contribui para essa baixa
representatividade de mulheres, sobretudo mulheres jovens na políticaé a
chamada violência política de gênero.
Esse
termo significa a legitimação da intimidação e do silenciamento de mulheres em
espaços de poder, que pode ocorrer fisicamente ou online (redes sociais),
através de ameaças e xingamentos por conta do seu gênero. Mais de 60% das
prefeitas e vices afirmam já ter sofrido algum tipo de violência política de
gênero durante a campanha ou mandato. Esse dado faz parte de uma ampla pesquisa feita pela Confederação Nacional dos Munícipios, em parceria
com o Movimento Mulheres Municipalistas (MMM), que ouviu 224 prefeitas, em um universo de 677, e 210 vice-prefeitas
de um total de 898 entre os meses de agosto e outubro de 2024.
Para
Ana Nery, Especialista em Gênero e Inclusão da Plan International Brasil, esses
números revelam que “embora a maioria da população e do eleitorado brasileiro
seja composto por mulheres a política ainda é um ambiente hostil para esse
grupo. Quando acionamos as intersecções de raça, classe, faixa etária e
orientação sexual a esse quadro a situação piora bastante. Fatores culturais
como o que chamamos de normas prejudiciais de gênero faz com que meninas e
mulheres tenham menos tempo para desenvolver suas habilidades de liderança e
aprimorar o conhecimento sobre política e se fazerem presente em espaços de
disputa político partidária”, atesta ela.
Ainda
segundo a antropóloga, para mudar essa realidade, “é necessário maior
investimento em formação política, sobretudo de pessoas de grupos minorizados,
redes de apoio e mentorias dentro dos partidos políticos para fortalecer
candidaturas de mulheres (cis e trans), junto a reformas institucionais que
aprimorem sistema internos de cotas de gênero e raça com incentivo financeiro,
programas mais efetivos de combate à violência de gênero e maior debate público
sobre o tema para dar mais visibilidade à representatividade de mulheres, em
toda sua diversidade, em espaços de política”, reforçou ela.A baixa
participação de mulheres em cargos de liderança, bem como a baixa representação
feminina na política são dois fatores críticos que têm
atrasado o Brasil na luta pela igualdade de gênero, que se permanecer nesse
ritmo, levará 5 gerações (134 anos) para ser alcançada.
Para
a Plan Brasil, duas estratégias trabalhadas em seus projetos por todo o Brasil,
com crianças, adolescentes e jovens, são fundamentais para acelerar esse o
relógio da igualdade. São elas:
-
Aumentar o poder econômico de jovens mulheres e mulheres;
-
Aumentar a participação de jovens mulheres e mulheres em cargos políticos e de
liderança.
“Aliar
as estratégias preconizadas pelo estudo do Fórum Econômico Mundial, que é uma
instituição tão importante e reconhecida, aos programas e projetos que a Plan
International Brasil implementa é de suma importância para atuarmos na raiz dos
problemas que intensificam as discriminações de gênero no país. Trabalhar para
garantia de direitos de crianças e adolescentes, com olhar atento para as
meninas e jovens mulheres, em toda sua diversidade, é atuar diretamente para
acelerar o Relógio da Igualdade, pois um mundo bom para as meninas é um mundo
mais justo e igualitário para todas as pessoas.” sintetiza Nery.
Plan International Brasil
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