Especialista discute o papel das lideranças para prevenir as práticas de love bombing no trabalho e explica como o fenômeno pode ser identificado
Na rotina de trabalho, um clima organizacional positivo e motivador impacta diretamente na produtividade e satisfação dos colaboradores. Isso porque, um estudo realizado pela Universidade de Oxford em uma empresa de telecomunicações indicou aumento de 13% na produtividade entre as pessoas que se sentiam felizes no trabalho. No entanto, quando o reconhecimento e os incentivos ultrapassam limites saudáveis e se tornam excessivos ou manipuladores, surge o fenômeno chamado love bombing. Mais comum em relações interpessoais, esse comportamento também pode ocorrer no trabalho e gerar impactos negativos a longo prazo.
Como explica Rennan Vilar, diretor de Pessoas e Cultura do
Grupo TODOS Internacional, o love bombing no ambiente
profissional se caracteriza por uma enxurrada de elogios, promessas e
incentivos que visam criar uma dependência emocional entre o colaborador e a
empresa ou liderança. “Essa prática pode parecer, a princípio, inofensiva, e
dar a sensação de um ambiente extremamente acolhedor. Mas, com o tempo, os
profissionais podem perceber uma relação desequilibrada, em que o excesso de
agrados vem acompanhado de cobranças exageradas e expectativas irreais”,
explica.
Love Bombing na série Ruptura
A série estadunidense Ruptura (Severance),
da Apple TV, em alta devido ao lançamento da segunda
temporada, ilustra de forma intensa como práticas de manipulação podem estar
presentes no ambiente corporativo. Na trama, os funcionários de uma empresa têm
suas memórias divididas cirurgicamente entre vida pessoal e profissional,
criando uma realidade em que a empresa exerce total controle sobre seus
sentimentos e percepções dentro do ambiente de trabalho. O excesso de
incentivos artificiais, o sistema de recompensas, a tentativa de criar um senso
de pertencimento forçado e a manipulação emocional dos colaboradores são
elementos que se assemelham ao love bombing corporativo,
mostrando como a falsa valorização pode mascarar um ambiente de trabalho
tóxico.
Como identificar sinais do love bombing
Diferenciar uma cultura de valorização genuína de um love bombing pode ser desafiador, mas segundo Vilar, alguns sinais de alerta incluem:
·
Excesso de elogios e promessas de crescimento rápido sem base
concreta;
·
Dependência emocional criada pela liderança, tornando o
colaborador reticente em questionar demandas excessivas;
·
Mudanças bruscas no comportamento da gestão, alternando momentos
de extrema valorização com cobranças desproporcionais;
·
Dificuldade dos colaboradores em estabelecer limites saudáveis,
levando a uma cultura de sobrecarga e burnout.
Equilibrando incentivo e reconhecimento
Para evitar que uma cultura de incentivo ultrapasse os limites e se torne prejudicial, as lideranças devem adotar estratégias equilibradas. “A chave está na transparência e na coerência das ações”, afirma Vilar. Ele destaca algumas boas práticas:
·
Reforço positivo com base em
desempenho real, e não apenas como estratégia de manipulação emocional;
·
Promessas concretas e alinhadas à
realidade do negócio, evitando expectativas irreais;
·
Feedbacks claros e construtivos, tanto positivos
quanto negativos, para um desenvolvimento profissional saudável;
· Estímulo à autonomia, permitindo que os colaboradores tenham liberdade para expressar opiniões e definir limites.
Estratégias para uma cultura
organizacional saudável
Para evitar que o love bombing se torne uma prática na empresa, é essencial que a área de Pessoas e Cultura e as lideranças trabalhem juntas na construção de um ambiente corporativo transparente e ético. “Um RH bem estruturado deve atuar como guardião da cultura organizacional, garantindo que as práticas de gestão sejam saudáveis e benéficas para todos”, pontua Vilar.
Algumas iniciativas recomendadas
incluem:
·
Treinamentos para lideranças sobre relações saudáveis no
ambiente de trabalho;
·
Políticas claras de reconhecimento e recompensa, evitando
excessos e expectativas irreais;
·
Canais de comunicação abertos, onde os colaboradores possam
relatar desconfortos sem medo de represálias;
· Monitoramento do clima organizacional, a fim de avaliar periodicamente e anonimamente o bem-estar da equipe.
Vilar
alerta ainda que o love bombing no trabalho pode
comprometer a saúde emocional dos colaboradores e impactar negativamente a
produtividade. “A construção de um ambiente organizacional sólido e saudável
passa pela transparência, pelo respeito e pelo equilíbrio nas relações de
trabalho”, finaliza Rennan Vilar.
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