terça-feira, 18 de março de 2025

‘Dia Nacional de Atenção à Disfagia’ completa 15 anos e alerta precisa permanecer ligado

Foto: Jep Gambardella
 Pexels
Especialista do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), elenca causas, sintomas e consequências da doença, presente em boa parte da população brasileira acima de 50 anos

 

Há 15 anos, portanto, desde 2010, o 20 de março, graças à Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, ganhou um novo sentido: passou a ser conhecido como o Dia Nacional de Atenção à Disfagia. O intuito é ampliar a divulgação sobre sintomas, consequências e tratamento da patologia, ainda pouco difundida de maneira geral na população brasileira, alertando sobre riscos e a importância de diagnóstico e tratamento precoces. 

De acordo com pesquisa da USP (Universidade de São Paulo) publicada pela Scielo, de 16% a 22% das pessoas acima de 50 anos, e de 70% a 90% das pessoas idosas no país sofrem da condição, que é a dificuldade e/ou a incapacidade de deglutir alimentos ou até mesmo a saliva de forma segura e adequada: um distúrbio que pode afetar diferentes partes do trato digestivo, desde a boca até o estômago. 

Dentre as causas mais comuns estão a presença de doenças neurológicas, tais como acidente vascular cerebral; traumatismo cranioencefálico; Parkinson; Alzheimer; paralisia cerebral; doenças oncológicas, como câncer de cabeça e pescoço, pulmonares e tumores de sistema nervoso central; linfomas; pacientes que fizeram uso de ventilação mecânica invasiva; doença pulmonar obstrutiva crônica e, no cenário atual, a Covid-19; assim como o envelhecimento natural. 

“A disfagia pode resultar de distúrbio na passagem do alimento da orofaringe para o esôfago (disfagia orofaríngea) ou na passagem pelo esôfago até o estômago (disfagia esofágica). A primeira, também chamada de ‘disfagia alta’, acontece durante a fase oral e/ou faríngea da deglutição; a segunda, ‘disfagia baixa’, ocorre quando os alimentos já estão na fase esofágica da deglutição”, explica Rebeca Torezim, coordenadora da equipe de fonoaudiologia do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP). 

Segundo a especialista, os sintomas mais comuns são a dificuldade para engolir e engasgos frequentes; a pessoa percebe que pode estar desenvolvendo a condição caso apresente perda de peso acentuado, tempo aumentado para realizar refeições, e tosses e pigarros frequentes durante e/ou após comer. “Pode causar sensação de ‘algo parado na garganta’, aumento de tosse e pigarro relacionado ao momento da refeição, e evoluir com broncoaspiração, que é a entrada de alimentos, líquidos, saliva, vômito nas vias aéreas, causando pneumonia, traqueobronquite, infecções pulmonares, obstrução de vias aéreas e até a morte”, salienta. 

Assim, é preciso ter atenção a certos sinais:

  • Dificuldade para mastigar e/ou engolir alimentos e líquidos;
  • Necessidade de engolir várias vezes a porção de alimento e/ou líquido colocado na boca, ou, até mesmo, a própria saliva;
  • Tempo de refeição mais longo que o habitual;
  • Dor para engolir;
  • Sensação de alimento parado na garganta;
  • Tosse ou pigarro constante durante e/ou após a alimentação;
  • Mudança na voz após engolir;
  • Mudança na cor da pele durante ou após a alimentação (palidez/cianose ou “pele roxa”);
  • Falta de ar;
  • Perda de peso ou inapetência;
  • Internações frequentes por pneumonia ou infecções respiratórias;
  • Resíduo alimentar na boca após engolir.

 

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é realizado multidisciplinarmente, com fonoaudiólogo, médico, gastroenterologista, otorrinolaringologista, nutricionista, entre outros. Inicialmente, é feita uma avaliação clínica, podendo ser indicados exames instrumentais (videonasofibroscopia da deglutição, feito por especialistas em otorrinolaringologia e fonoaudiologia; e a videodeglutograma, exame de imagem fonoaudiológico). “O fonoaudiólogo é o profissional capacitado para o diagnóstico funcional e a reabilitação das disfagias orofaríngeas, sendo imprescindível sua atuação para identificação de causas, indicação de reabilitação e orientação sobre as modificações necessárias (consistência dos alimentos mais seguras; exercícios necessários fortalecer e estimular os processos de deglutição; manobras para deglutição; organização de ambiente e demais estratégias que o profissional julgar importante)”. 

O tratamento depende de cada caso e da gravidade. Pode ser curável, mas alguns casos potencialmente não reabilitáveis são trabalhados por meio de intervenção fonoaudiológica, medidas adaptativas e compensatórias. “Para a disfagia esofágica, o tratamento é focado na origem do problema, o que pode ser feito com a prescrição de medicamentos que atuam na inibição da produção de ácidos para pessoas que apresentam refluxo, por exemplo. Caso haja a necessidade, podem ser indicados procedimentos que dilatam o esôfago ou cirurgia para quadros desenvolvidos por tumores”, detalha. 

A disfagia orofaríngea pode levar à aspiração traqueal do material ingerido, de secreções orais, ou ambos. A aspiração pode causar pneumonia e, se recorrente, uma doença pulmonar crônica. Se prolongada, muitas vezes leva à alimentação inadequada, emagrecimento, à perda ponderal, desnutrição, redução da qualidade da vida e impacto social (privação do prazer de se alimentar). “Compartilhar a informação é de extrema importância. Qualquer dúvida, não existe em procurar um especialista”, conclui Rebeca.  



Vera Cruz Hospital



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