A anquiloglossia, popularmente conhecida como "língua
presa", é uma condição que pode afetar significativamente o
desenvolvimento infantil, desde a amamentação até a fala e a socialização.
Embora seja um problema comum, ainda existem muitas dúvidas e desinformações em
torno do tema. Dra Ligia Conte, fisioterapeuta especializada em pediatria e CEO
da Desenvolve Criança, esclarece os principais aspectos da anquiloglossia,
desmistificando crenças e orientando sobre diagnóstico e tratamento adequado.
O que é a anquiloglossia?
A anquiloglossia é definida como a permanência de um tecido
remanescente da fase embrionária sob a língua. "Todos nós temos o freio
lingual, mas, em algumas pessoas, ocorre uma alteração genética que faz com que
esse tecido permaneça em excesso, limitando os movimentos da língua",
explica Ligia Conte. Por ser um gene autossômico dominante, a condição pode ser
herdada diretamente dos pais. Embora a anquiloglossia nem sempre provoque
dificuldades evidentes, em muitos casos, ela pode afetar funções básicas como a
amamentação, a mastigação e a articulação e produção da fala.
Qual conduta tomar?
A frenectomia (ou frenulectomia) é o procedimento cirúrgico
mais indicado para corrigir a anquiloglossia. "A grande dificuldade está
em obter um diagnóstico correto. Muitas línguas presas passam despercebidas, e,
quando o diagnóstico é feito adequadamente, a frenectomia é o início do
tratamento indicado", afirma Dra Ligia.
Mitos e Verdades Sobre a Anquiloglossia
Um dos principais mitos em torno da anquiloglossia é a
ideia de que ela sempre causa dificuldades na fala. Segundo Dra Ligia Conte,
isso não é uma regra: "Em alguns padrões de freio alterado, especialmente
no caso do freio posterior, não há prejuízo evidente na articulação da
fala".
Outro ponto relevante é a relação entre a língua presa e a
amamentação. "A língua presa interfere na função de sugar o leite materno
de forma eficaz, o que pode causar cólicas, fissuras mamárias, mastite e
dificuldade para ganhar peso. Muitas vezes, os bebês conseguem mamar, mas o
fazem com compensações que prejudicam tanto a mãe quanto a criança",
alerta.
Sobre a segurança do procedimento cirúrgico, Dra Ligia
reforça: "A frenectomia é um procedimento simples, mas precisa ser realizado
por um profissional especializado, como um odontopediatra com formação em
cirurgia a laser. Apesar de ser invasiva, é uma intervenção segura quando
conduzida corretamente, além disso, sua indicação deve ser sempre feita por uma
Fonoaudióloga especializada”
Diagnóstico Precoce Faz a Diferença
Identificar a anquiloglossia logo nos primeiros meses de
vida é essencial para prevenir complicações futuras. Dra Ligia destaca alguns
sinais que os pais devem observar em bebês: "Estalos durante a
amamentação, choro com a língua baixa, engasgos frequentes, refluxo, cólicas
excessivas e dificuldade de sucção são indícios importantes".
O diagnóstico deve ser realizado por uma equipe
multidisciplinar. "A fonoaudióloga especializada é a profissional indicada
para avaliar e confirmar a anquiloglossia. O tratamento, quando necessário,
envolve a atuação conjunta de odontopediatras, fonoaudiólogos e
fisioterapeutas", reforça Ligia.
Impactos da Anquiloglossia Não Tratada
Quando não diagnosticada e tratada, a anquiloglossia pode
gerar consequências duradouras. Além das dificuldades alimentares e de fala, os
impactos emocionais e sociais são expressivos. "Vemos muitos adultos com
histórias de baixa autoestima, dificuldades de relacionamento e problemas de
comunicação que remontam à infância não tratada", destaca a especialista.
Dra Ligia ainda alerta para as consequências em longo prazo: "Estudos demonstram que disfunções orais como a anquiloglossia podem estar relacionadas a distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva, que afeta significativamente a qualidade de vida e está associada a problemas cardíacos e metabólicos em adultos".
Para a fisioterapeuta, a
conscientização é essencial: "A anquiloglossia é um problema real e,
quando ignorado, pode ter desdobramentos sérios. O diagnóstico precoce e o
tratamento adequado são fundamentais para garantir uma infância mais saudável e
um desenvolvimento pleno". conclui Ligia Conte, CEO da Desenvolve Criança.
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