Altas temperaturas afetam escolas e impactam
o aprendizado de crianças em todo o país, aponta pesquisa do Instituto AlanaDivulgação
Instituto Alana
O mês de janeiro de 2025 foi o mais quente da história, segundo
dados do programa de observação Copernicus. O Brasil vem sofrendo os impactos
de ondas de calor severas desde o início do ano, com termômetros registrando recordes
históricos em diversas regiões. Em uma situação na qual todos somos
prejudicados, as crianças sofrem particularmente, por serem especialmente
vulneráveis ao calor extremo. No Rio Grande do Sul, o jeito de minimizar esse
impacto foi adiar a volta às aulas. Em boa parte do país, as escolas não têm
infraestrutura adequada: faltam áreas verdes, oferta de água e outras soluções
que ajudem a amenizar o calor e criar resiliência climática.
A Região Sudeste tem uma capital — Vitória — entre as
dez com a maior proporção de escolas em ilhas de calor, com
desvios de temperatura considerados altos, de pelo menos 3,57ºC acima da média
urbana, de acordo com a pesquisa “O acesso ao verde e a resiliência climática nas
escolas das capitais brasileiras”, realizada pelo
Instituto Alana em parceria com a Fiquem Sabendo, a partir de dados levantados
pelo MapBiomas.
O estudo traz dados sobre o acesso à natureza e a incidência de
risco climático em 20.635 escolas públicas e particulares, de educação infantil
e fundamental, das capitais brasileiras. Na região Sudeste, as capitais com
maior porcentagem de escolas em ilhas de calor são: Vitória,
no Espírito Santo (em 7º lugar, com 49,7% das escolas em áreas com temperaturas
maiores do que a média urbana); Rio de Janeiro, no Rio de Janeiro
(em 14º, com 27,5% das escolas); e São Paulo, em São Paulo (em 18º,
com 18% das escolas).
O estudo — que apontou que cerca de 370 mil alunos estudam em
instituições localizadas em áreas de risco hidrogeológico — revelou que, em uma
a cada três capitais, pelo menos metade das escolas ficam em locais que
apresentaram desvios de temperatura considerados altos, ao registrarem pelo
menos 3,5ºC a mais de temperatura de superfície em seu território do que a
média urbana. Ou seja, são escolas localizadas em ilhas de calor.
A falta de natureza e a urbanização desenfreada são fatores que contribuem
para essa situação: a pesquisa mostrou que 78% das escolas mais quentes não têm
área verde no lote ou têm menos de 20% de cobertura vegetal. O cenário se
agrava na educação infantil, com 43,5% das escolas sem áreas verdes. Ao todo,
20% das escolas nas capitais também não têm praças e parques no entorno de 500
metros, impactando diretamente mais de 1,5 milhão de alunos.
“A exposição a altas temperaturas pode causar danos duradouros na
saúde e no desenvolvimento, como dificuldades de aprendizagem, baixa qualidade
do sono e efeitos negativos à saúde mental. Para bebês e crianças pequenas, é
ainda mais perigoso, pois seus corpos, por serem menores, se aquecem mais
rapidamente e transpiram menos, liberando menos calor. Além disso, eles também
têm mais dificuldade em procurar ambientes frescos e menos autonomia para se
hidratarem”, alerta JP Amaral, Gerente de
Natureza do Instituto Alana.
Embora a intensidade do calor seja influenciada pela
infraestrutura de cada escola, sempre há perda de aprendizado em um dia letivo
sob calor extremo, pois a capacidade de concentração das crianças cai, e muitas
vezes aulas são canceladas. Evidências também mostram que durante o recreio,
quando a temperatura aumenta, as crianças diminuem a atividade física e procuram
por sombra.
Confira o ranking com a proporção de escolas em áreas mais quentes
do que a temperatura média urbana nas capitais brasileiras:
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Fonte: O acesso ao verde e a resiliência climática nas escolas das capitais brasileiras |
“Esse cenário que estamos vivendo, com ondas de calor cada vez mais intensas e frequentes, mostra que é essencial investir em políticas públicas de resiliência climática, que possam assegurar às crianças o pleno direito de conviver e aprender em ambientes saudáveis. Isso passa pela ampliação do contato com a natureza e por uma maior presença de verde nas escolas e em seus entornos”, afirma JP Amaral, Gerente de Natureza do Instituto Alana. “Temos sempre de ter em mente que as crianças e os bebês são especialmente vulneráveis aos efeitos da crise climática, e as desigualdades sociais também desempenham um papel central em como determinados grupos são particularmente afetados”.
Se as ilhas de calor e os danos causados pelas altas temperaturas
afetam tanto escolas públicas quanto particulares, a falta de presença de
natureza nas escolas é agravada pelas desigualdades raciais e econômicas, sendo
maior para estudantes que vivem em favelas e comunidades urbanas, bem como para
alunos negros. Cerca de 35% das escolas mais quentes são escolas negras (em que
mais de 60% dos alunos se declara negro), enquanto apenas 8,6% são escolas
brancas.
O estudo não só traçou diagnósticos como também apresentou recomendações
que podem ajudar a orientar gestores públicos e profissionais de educação no
combate ao problema, a partir de soluções baseadas na Natureza:
- Planejar a infraestrutura de novas escolas e a reforma
de escolas já existentes priorizando o conforto térmico, por meio de
pavimentos "frios", telhados com superfície branca, reflexiva ou
permeável, materiais isolantes, ventilação cruzada, refrigeração,
iluminação natural e salas de aulas abertas.
- Aumentar o plantio de árvores e florestas urbanas para incrementar
as áreas de sombra e favorecer o uso de espaços abertos para o
aprendizado, a convivência e o brincar, reduzindo a necessidade de
refrigeração artificial dos ambientes fechados.
- Adaptar a organização, as rotinas e o tempo escolar
para que as atividades ao ar livre ocorram nos horários mais frescos do
dia ou sob a sombra para maximizar a atividade física, o conforto e a
segurança dos estudantes. Disponibilizar água abundantemente, priorizar o
uso de uniformes leves e incentivar o uso de chapéu ou boné.
Para
saber mais sobre o assunto, acesse as redes do Instituto Alana.
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