segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Conscious unbossing: o fim dos chefes ou só mais uma moda de gestão?

Poucas coisas geram mais discussões no ambiente corporativo do que a relação entre líderes e liderados. O mundo do trabalho já assistiu à ascensão dos chefes autoritários, à valorização dos líderes servos e, agora, à promessa de uma gestão quase sem chefes. O nome da vez? Conscious unbossing. Para alguns, um avanço necessário para a autonomia e inovação nas empresas. Para outros, apenas mais uma tendência passageira que pode acabar em caos organizacional. 

O termo ganhou força nos últimos anos, especialmente em grandes corporações que buscam estruturas mais flexíveis e colaborativas. A ideia central do conscious unbossing não é simplesmente eliminar a figura do chefe, mas transformá-lo de um tomador de decisões para um facilitador, alguém que destrava processos e empodera equipes. 

Na prática, isso significa menos microgestão e mais confiança. Os colaboradores passam a ter mais autonomia para decidir e inovar, sem precisar esperar pelo aval de um gestor para cada movimento. E, claro, indica que os líderes precisam abrir mão do controle tradicional, um desafio que muitos não estão preparados para encarar. 

O modelo hierárquico tradicional tem sido contestado há décadas. Empresas como Spotify e Haier já implementaram modelos organizacionais descentralizados com resultados interessantes. Segundo um estudo da McKinsey, empresas que adotam práticas de gestão mais horizontais reportam 25% a mais de inovação e engajamento dos funcionários. 

Mas nem tudo são flores. A Harvard Business Review alerta que, sem processos bem definidos e sem líderes preparados para essa transição, a descentralização pode gerar confusão, queda de produtividade e conflitos internos. Afinal, se ninguém manda, quem resolve os impasses?

 

O perigo do unbossing mal feito

Para quem está cansado de chefes controladores, a ideia do conscious unbossing pode soar libertadora. Mas a realidade não é tão simples. 

Autonomia sem preparo pode facilmente se transformar em desorganização. Quando as equipes não têm clareza sobre suas responsabilidades, é natural que se sintam perdidas. Por isso, os líderes precisam aprender a “desaparecer” de maneira consciente, garantindo que a transição para um modelo mais horizontal não seja confundida com abandono. No entanto, nem todas as empresas estão prontas para essa mudança. Em setores altamente regulados ou em organizações tradicionais, esse modelo pode encontrar resistência e até inviabilizar operações críticas. 

No Brasil, o modelo de gestão ainda é amplamente hierárquico. Muitas empresas resistem à ideia de dar autonomia total aos times, seja por desconfiança ou por cultura organizacional. No entanto, startups e setores mais inovadores já experimentam formas de gestão mais descentralizadas. 

A questão é: será que o conscious unbossing funciona em uma cultura onde a figura do chefe ainda é vista como essencial para manter a ordem e a responsabilidade? Ou será que essa resistência é justamente o que impede um avanço necessário na forma como trabalhamos?

 

Futuro: liberdade ou caos?

A verdade é que não há respostas simples. Enquanto alguns defendem que o futuro do trabalho passa por menos hierarquia e mais autonomia, outros alertam para os riscos de um ambiente onde ninguém quer assumir a responsabilidade final. 

O conscious unbossing está longe de ser uma solução universal, mas levanta uma discussão fundamental: precisamos mesmo de chefes ou precisamos de líderes que saibam sair do caminho na hora certa? Fica a reflexão.

 

Virgilio Marques dos Santos- sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria



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