quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

"Chip da Saúde" revoluciona o tratamento da endometriose, mas será que é indicado para todas as mulheres?

Implante hormonal de gestrinona promete aliviar dores e melhorar a qualidade de vida, mas exige critérios rigorosos de indicação 

 

A recente aprovação da Anvisa para o uso do implante hormonal conhecido como “Chip da Saúde” reacendeu debates sobre sua eficácia no tratamento da endometriose. O dispositivo, que contém gestrinona, surge como uma opção inovadora para mulheres que sofrem com dores pélvicas crônicas, cólicas intensas e impactos na rotina. Mas os especialistas alertam: nem todas as pacientes podem fazer esse tratamento.

“A gestrinona no implante subdérmico tem um desempenho melhor, garantindo mais controle da dor pélvica, melhora na vida sexual e na qualidade de vida das mulheres. Mas é essencial avaliar caso a caso”, explica a ginecologista e pesquisadora Fabiane Berta, referência nacional em endometriose e menopausa.

De acordo com a especialista, uma grande vantagem do implante é a liberação contínua do hormônio. “O pellet absorvível de gestrinona tem mostrado ótimos resultados para quem sente dor crônica, mas não é indicado para todas. Mulheres com obesidade ou problemas metabólicos podem não responder bem ao implante. Para essas pacientes, o uso dos transdérmicos ou comprimidos orais pode ser uma opção melhor”, esclarece.

A pesquisadora ressalta que a regulamentação da Anvisa não mudou muito para os ginecologistas que já indicavam esse tratamento para endometriose, mas trouxe regras mais rígidas para o mau uso e abuso dos implantes. “O foco da Anvisa foi controlar o uso da substância para melhorar a performance física, no qual nunca foi a prioridade, já que o tratamento surgiu para fins de saúde feminina e doenças ginecológicas. Para quem trata endometriose, a única mudança foi um reforço na necessidade de indicar o tratamento corretamente”, afirma a especialista.

Estudo GLADE: evidências científicas

O estudo GLADE, conduzido pelo Instituto e Pesquisa Science Valley junto com o doutor André Malavasi e doutora Fabiane Berta, é pioneiro na área e comprova a eficácia desses medicamentos quando prescritos corretamente. O estudo, apresentado no Mundial de Ginecologia Endócrina em 2024, trouxe dados concretos sobre a eficácia do implante de gestrinona e acompanhou mulheres que usaram o pellet subdérmico de gestrinona (85 mg) junto com o dispositivo intrauterino Kyleena. “Os resultados mostraram que ele ajuda muito a reduzir a dor pélvica em mulheres que ainda sofriam com sintomas mesmo depois da cirurgia”, explica Fabiane Berta.

A médica reforça que cada caso deve ser avaliado individualmente. “A endometriose não afeta só o útero, mas todo o organismo da mulher e o tratamento precisa ser personalizado para garantir os melhores resultados sem prejudicar a saúde”, finaliza.

 

 

 

Fabiane Berta - Médica, ginecologista e obstetra especializada em medicina fetal, formada pela FMSCSP. Atualmente, mestranda no núcleo da Endometriose, Dor pélvica e Menopausa pela UNIFESP. Pós-graduada em Endocrinologia, Neurociências e Comportamento. Esportista com alma tenista e mãe de pets: Mirena e Ocitocina. Creator e Founder MYPAUSA que propõe a criação de um registro nacional da menopausa em todos os 27 estados do Brasil, com a finalidade de promover uma reforma nacional na saúde feminina que assegure acessibilidade a inovações e tratamentos atualizados, impactando políticas públicas e privadas, respeitando e abrangendo as diversidades regionais e suas mulheridades.

 

 

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