Implante hormonal de gestrinona promete aliviar dores e melhorar a qualidade de vida, mas exige critérios rigorosos de indicação
A recente aprovação da Anvisa para o uso do
implante hormonal conhecido como “Chip da Saúde” reacendeu debates sobre sua
eficácia no tratamento da endometriose. O dispositivo, que contém gestrinona,
surge como uma opção inovadora para mulheres que sofrem com dores pélvicas
crônicas, cólicas intensas e impactos na rotina. Mas os especialistas alertam:
nem todas as pacientes podem fazer esse tratamento.
“A gestrinona no implante subdérmico tem um
desempenho melhor, garantindo mais controle da dor pélvica, melhora na vida
sexual e na qualidade de vida das mulheres. Mas é essencial avaliar caso a
caso”, explica a ginecologista e pesquisadora Fabiane Berta, referência nacional
em endometriose e menopausa.
De acordo com a especialista, uma grande vantagem
do implante é a liberação contínua do hormônio. “O pellet absorvível de
gestrinona tem mostrado ótimos resultados para quem sente dor crônica, mas não
é indicado para todas. Mulheres com obesidade ou problemas metabólicos podem
não responder bem ao implante. Para essas pacientes, o uso dos transdérmicos ou
comprimidos orais pode ser uma opção melhor”, esclarece.
A pesquisadora ressalta que a regulamentação da
Anvisa não mudou muito para os ginecologistas que já indicavam esse tratamento
para endometriose, mas trouxe regras mais rígidas para o mau uso e abuso dos
implantes. “O foco da Anvisa foi controlar o uso da substância para melhorar a
performance física, no qual nunca foi a prioridade, já que o tratamento surgiu
para fins de saúde feminina e doenças ginecológicas. Para quem trata
endometriose, a única mudança foi um reforço na necessidade de indicar o
tratamento corretamente”, afirma a especialista.
Estudo GLADE: evidências científicas
O estudo GLADE, conduzido pelo Instituto e Pesquisa
Science Valley junto com o doutor André Malavasi e doutora Fabiane Berta, é
pioneiro na área e comprova a eficácia desses medicamentos quando
prescritos corretamente. O estudo, apresentado no Mundial de Ginecologia
Endócrina em 2024, trouxe dados concretos sobre a eficácia do implante de
gestrinona e acompanhou mulheres que usaram o pellet subdérmico de gestrinona
(85 mg) junto com o dispositivo intrauterino Kyleena. “Os resultados mostraram
que ele ajuda muito a reduzir a dor pélvica em mulheres que ainda sofriam com
sintomas mesmo depois da cirurgia”, explica Fabiane Berta.
A médica reforça que cada caso deve ser avaliado
individualmente. “A endometriose não afeta só o útero, mas todo o organismo da
mulher e o tratamento precisa ser personalizado para garantir os melhores
resultados sem prejudicar a saúde”, finaliza.
Fabiane Berta - Médica, ginecologista e obstetra
especializada em medicina fetal, formada pela FMSCSP. Atualmente, mestranda no
núcleo da Endometriose, Dor pélvica e Menopausa pela UNIFESP. Pós-graduada em
Endocrinologia, Neurociências e Comportamento. Esportista com alma tenista e
mãe de pets: Mirena e Ocitocina. Creator e Founder MYPAUSA que propõe a criação
de um registro nacional da menopausa em todos os 27 estados do Brasil, com a
finalidade de promover uma reforma nacional na saúde feminina que assegure
acessibilidade a inovações e tratamentos atualizados, impactando políticas
públicas e privadas, respeitando e abrangendo as diversidades regionais e suas
mulheridades.
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