Aumento da parcela
de idosos chama a atenção para a importância de manter uma boa qualidade de
vida no processo de envelhecimento, o que envolve não apenas a prevenção de
doenças
O envelhecimento saudável da população voltou a ser
discutido amplamente no início deste ano, por conta da notícia de que uma
brasileira assumiu o posto de “mulher mais idosa do mundo”, conforme o
LongeviQuest, um banco mundial de dados e pesquisas sobre longevidade e
envelhecimento. Esta liderança passou a ser da freira Inah Canabarro Lucas, que
tem 116 anos e mora em um convento católico de Porto Alegre (RS). O mesmo
instituto também mostra que o homem mais idoso também é brasileiro: o
agricultor João Marinho Neto, de 112 anos, que vive num um lar para idosos em
Apuiarés (CE).
O prolongamento da expectativa e do tempo de vida
dos brasileiros também se mostra como uma tendência. O Censo 2022, apurado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o total de
pessoas com 65 anos ou mais no país chegou a 10,9% da população, com alta de
57,4% em relação ao Censo 2010, quando esse contingente equivalia a 7,4% da
população. Atualmente, são mais de 22,1 milhões de idosos.
Estes dados refletem uma preocupação maior que vem
aumentando na mesma proporção: a qualidade deste envelhecimento, isto é, quando
a pessoa procura chegar cada vez mais ativa e saudável a esta fase da vida, com
o mínimo possível de dificuldades de ordem física e mental. A própria
Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo
bem-estar físico, mental e social”, que não se resume apenas à ausência de
doenças ou enfermidades.
“Embora o envelhecimento seja um processo
inevitável, a forma como envelhecemos e a velocidade desse processo são, em
certa medida, controláveis. Isso envolve a manutenção da capacidade funcional,
da independência, da saúde física e mental, e da participação social ativa,
permitindo que as pessoas aproveitem ao máximo os seus anos de vida, com
qualidade de vida e bem-estar. É um processo contínuo de adaptação e
resiliência, que permite o envelhecimento com vitalidade e autonomia”, define o
professor Estélio Henrique Martin Dantas, do Programa de Pós-Graduação em
Biociências e Saúde (PBS) da Universidade Tiradentes (Unit).
Dentro desse conceito, o envelhecimento saudável
engloba uma ampla gama de fatores que contribuem para a qualidade de vida na
terceira idade, incluindo a capacidade funcional (habilidade de realizar atividades
da vida diária), a participação social (manter relações sociais e atividades),
o bem-estar psicológico (sentir-se bem emocionalmente) e o bem-estar espiritual
(sentido de propósito na vida). “A ausência de doenças é importante, mas não
garante, por si só, um envelhecimento saudável e pleno. É a interação complexa
desses fatores que determina a experiência individual do envelhecimento e a
capacidade de viver uma vida longa e significativa”, diz Estélio.
Um envelhecimento saudável se caracteriza por uma
adaptação gradual às mudanças físicas e cognitivas, mantendo-se a capacidade
funcional para as atividades da vida diária, a participação social e o
bem-estar emocional. Para acompanhar a qualidade deste processo de
envelhecimento, não existe um indicador único e definitivo, mas sim uma
avaliação holística que considera aspectos físicos (mobilidade, força, resistência
a doenças), cognitivos (memória, atenção, raciocínio) e psicossociais (humor,
relações sociais, atividades que trazem significado). Segundo o professor,
outro ponto a ser observado é se as perdas destas capacidades se acumulam de
forma lenta e imperceptível ou de forma abrupta e incapacitante, além de se
levar em conta como a pessoa se sente e se percebe nesse processo.
O caminho
O principal caminho para um envelhecimento mais
saudável passa pelo equilíbrio entre a atividade física diária, a diminuição do
estresse, o acompanhamento médico com profissionais especializados e a adoção
de uma alimentação mais saudável. São atitudes que, de acordo com Estélio,
interferem positivamente na epigenética, ciência que estuda
as modificações na expressão gênica sem alteração na sequência do DNA.
“Uma alimentação balanceada e sem ultraprocessados
ativa mecanismos antioxidantes que protegem as células, preservando o DNA e
retardando o envelhecimento. Exercícios físicos estimulam a reparação tecidual
e a integridade celular, beneficiando a saúde cardiovascular, muscular e óssea.
Um ambiente limpo e com ar puro minimiza a inflamação e o estresse oxidativo
causados por poluentes, enquanto práticas como meditação e controle do estresse
regulam hormônios como o cortisol, reduzindo a inflamação. Esses hábitos geram
uma expressão gênica com efeitos antioxidantes (preservando o DNA),
anti-inflamatórios (mantendo a saúde mitocondrial e imunológica) e
anti-mutagênicos (reduzindo o risco de câncer). Assim, a combinação desses
fatores resulta em um envelhecimento mais lento e com melhor qualidade de
vida”, explica Estélio.
Por outro lado, o professor aponta que o tabagismo,
o consumo de álcool, a privação de sono e a falta de vida social impactam
negativamente o processo de envelhecimento, representando uma sobrecarga para
um organismo que já está em processo de agravo funcional. Isso aumenta o risco
de doenças crônicas, a redução da imunidade e o aumento das inflamações, a
falta de convívio social e os riscos de depressão e declínio cognitivo. “Esses
hábitos prejudiciais impõem uma demanda extra ao corpo envelhecido,
intensificando o processo de deterioração e aumentando a chance de doenças e
incapacidades”, alerta.
Estudos
Um dos principais centros que estudam o processo de
envelhecimento humano é o Laboratório de Biociências da Motricidade Humana
(Labimh), ligado ao PBS/Unit e coordenado pelo professor Estélio. Criado em
2015 com o envolvimento dos cursos da graduação e pós-graduação da área de
Saúde, ele atua em duas frentes, com foco na compreensão e comprovação
científica do envelhecimento saudável. A primeira envolve o projeto de extensão
Masterfitts, que envolve idosos e voluntários da comunidade que mora na região
do bairro Farolândia, próximo ao campus da Unit, em Aracaju. Eles têm acesso
gratuito a exercícios físicos individualizados e supervisionados, além de
palestras de educação para a saúde, com o objetivo de minimizar os problemas
causados pelo envelhecimento e promover a adoção de hábitos de vida saudáveis.
Na segunda frente, voltada à pesquisa aplicada,
estudos de pós-doutorado, doutorado, mestrado e iniciação científica buscam
investigar o impacto dos hábitos saudáveis na saúde física e mental de idosos.
E desde o ano passado, o Labimh/Unit iniciou um projeto de pesquisa pura em
parceria com a Vanderbilt University, de Nashville (Estados Unidos), sobre a
influência dos hábitos saudáveis na preservação do DNA de cada pessoa. “Ele
aprofunda o estudo da influência desses hábitos na disfunção mitocondrial e na
expressão epigenética, contribuindo para uma compreensão mais completa dos
mecanismos biológicos envolvidos no envelhecimento saudável e fornecendo base
científica para intervenções eficazes”, completa Estélio.
Universidade Tiradentes - Unit
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