Sociedade reforça que trabalho baseado em evidências científicas não
pode perder espaço para conteúdos que levam à
desinformação
A cada dia, aumenta o número das chamadas fake news. Na área da saúde, por exemplo, as informações falsas disseminadas nas redes sociais e nas plataformas diversas passam por chás que curam câncer e tratamentos que “prometem a juventude eterna”, entre outros mitos. Além de induzirem a população ao erro, os conteúdos, desprovidos das devidas checagem e apuração, atrapalham o trabalho dos profissionais da saúde.
Para se ter ideia, a pesquisa “Condições de trabalho dos profissionais da saúde no contexto da covid-19 no Brasil”, realizada pela Fiocruz em 2021, aponta que as fake news tornaram-se um obstáculo no combate ao vírus Sars-CoV-2 segundo 91% dos entrevistados. Outrossim, 76,1% relataram ter atendido pacientes que acreditaram em notícias falsas sobre a covid-19. Mais de 16 mil profissionais que atuaram no combate à pandemia foram ouvidos.
O excesso de informações (corretas ou não) é
tratado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como infodemia. “Por conta das
falsas notícias, médicos e demais profissionais da saúde são confrontados
diariamente por pacientes com teorias encontradas nas redes sociais. Antes, o
paciente se consultava com o ‘Dr. Google’. Agora, já chegam ao consultório com
o diagnóstico e o tratamento”, analisa o presidente da Sociedade Brasileira de
Direito Médico e Bioética (Anadem), Raul Canal.
Plataformas
Segundo o especialista, é imprescindível que haja maior controle das autoridades para que o trabalho real, baseado em evidências científicas, não perca espaço para conteúdos que levam à desinformação. O desafio é árduo. De acordo com a Pesquisa Anual do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada, cada vez mais os brasileiros acessam notícias por meio de dispositivos móveis (celular, tablet e notebook), sem qualquer tipo de checagem. “É justamente essa a causa raiz do problema. A disseminação de uma notícia sem a verificação de onde ela vem”, afirma Canal.
Um levantamento da Fundação Getulio Vargas mostra
que, atualmente, o Brasil conta com 480 milhões de dispositivos digitais. Além
disso, entre março e agosto de 2024, segundo estudo feito pelo Centro Regional
de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), mais
de 140 milhões de pessoas conectaram-se ao ambiente digital. “É por essa razão
que o tema infodemia precisa ser abordado e, principalmente, entendido.
Especialistas e sociedades médicas precisam de mais espaço para levar a informação
correta às pessoas e não disputar esse espaço com as fake news”, afirma o
presidente da Anadem.
Perspectivas?
Algumas medidas já estão sendo tomadas. Em 2024, a pesquisa TIC Saúde, organizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), identificou avanços na utilização de ferramentas de segurança da informação por parte dos estabelecimentos de saúde. Destaque para o uso de criptografia dos arquivos e e-mails, que passou de 46% para 54% entre 2023 e 2024, e para a criptografia da base de dados, que foi de 40% para 46%. Além disso, o uso de certificado digital aumentou de 52% para 57% nesse período.
Diante do aumento da disseminação de conteúdos
falsos, o Ministério da Saúde (MS), em parceria com o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), e a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo
federal, criou a plataforma “Saúde com Ciência” (Saúde com Ciência — Ministério da Saúde). “Além de combater as notícias falsas, o Saúde
com Ciência conta com espaço para denúncias de crimes na internet contra a
saúde pública. É um passo importante, mas ainda longe do ideal”, avalia Canal.
Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética - Anadem
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