No Brasil, o câncer é uma realidade que afeta milhares de famílias todos os anos. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam para 704.470 novos casos anuais, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 130 mortes a cada 100 mil habitantes. Diante desse cenário, além dos desafios impostos pela doença, os tratamentos oncológicos, como quimioterapia e radioterapia, trazem efeitos colaterais que podem comprometer a qualidade de vida dos pacientes. Náuseas, perda de apetite, alterações no paladar e dificuldades digestivas são alguns dos sintomas que tornam a alimentação um desafio.
Mas e se a dieta pudesse ser uma arma poderosa não só na prevenção, mas também no sucesso do tratamento? A nutricionista Daise Mesquita, da Clínica Sainte Marie, explica como uma alimentação equilibrada pode ser decisiva nessa batalha.
Dieta como prevenção e tratamento
Estudos científicos já comprovaram que uma dieta rica em
frutas, verduras, legumes, grãos integrais e proteínas magras pode reduzir o
risco de desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como os de mama, próstata e
intestino. No entanto, a nutricionista vai além: “Durante o tratamento, a
nutrição adequada é crucial para fortalecer o sistema imunológico, manter a
massa muscular e reduzir os efeitos colaterais”, afirma.
Deise ressalta que a alimentação balanceada não só previne
a perda excessiva de peso, mas também fortalece a energia e melhora a resposta
imunológica, fatores essenciais para a recuperação. Além disso, ela destaca o
impacto psicológico positivo de uma dieta saudável. “Comer bem traz conforto e
bem-estar emocional, o que é fundamental para o paciente enfrentar o tratamento
com mais disposição”, explica.
Personalização é a chave
Cada paciente oncológico é único, e a dieta deve ser
adaptada às suas necessidades individuais. “É fundamental ouvir o paciente, conhecer
suas preferências e resgatar o prazer de comer, ajustando a alimentação ao tipo
de tratamento e às condições clínicas”, reforça a especialista.
O preparo dos alimentos também merece atenção. Métodos
como cozimento a vapor, assado ou grelhado são recomendados por preservarem os
nutrientes e evitarem a sobrecarga do sistema digestivo. Já alimentos ricos em
gorduras saturadas e açúcares devem ser evitados, pois podem agravar
inflamações e comprometer a saúde.
Dicas práticas para enfrentar os efeitos colaterais
Para ajudar os pacientes a lidarem com os desafios da
alimentação durante o tratamento, Daise Mesquita compartilha algumas
estratégias:
1. Fracione as refeições
Comer pequenas porções ao longo do dia, em vez de grandes refeições, pode reduzir a sensação de enjoo. A nutricionista sugere seis a oito refeições leves, com intervalos de duas a três horas.
2. Prefira alimentos frios ou em temperatura ambiente
Alimentos quentes tendem a exalar odores mais fortes, o que pode piorar a náusea. Iogurtes, frutas frescas, sanduíches leves e saladas são boas opções.
3. Use temperos naturais para ativar o paladar
Limão, hortelã, gengibre e ervas frescas podem estimular o apetite e melhorar o sabor dos alimentos, especialmente para pacientes com alterações no paladar.
4. Mantenha-se hidratado de formas variadas
Água pura pode ser difícil de consumir em grandes quantidades. Chás gelados, água saborizada com frutas, caldos leves e sorvetes naturais são alternativas para garantir a hidratação.
5. Evite alimentos gordurosos e muito condimentados
Esses alimentos sobrecarregam o sistema
digestivo e podem agravar o mal-estar. Prefira preparações simples, como carnes
grelhadas, legumes cozidos no vapor e arroz integral.
6. Experimente o gengibre
Conhecido por suas propriedades antieméticas,
o gengibre ajuda a reduzir náuseas e vômitos. Pode ser consumido em chás,
raspado sobre alimentos ou em forma de balas naturais.
O papel da família e dos profissionais
A nutricionista enfatiza que o apoio da família e dos profissionais de saúde é essencial para motivar o paciente a seguir o tratamento. “A alimentação vai além da nutrição física. Ela é um ato de cuidado e carinho que pode fazer toda a diferença”, conclui.
Em um cenário onde o câncer ainda assusta, a alimentação surge como uma aliada poderosa, capaz de transformar não só o corpo, mas também a mente de quem enfrenta essa batalha. Com orientação adequada e cuidados personalizados, é possível tornar o tratamento mais eficiente e menos desgastante.
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