Dados da Planisa e do DRG Brasil, referentes ao
período de 2022 a 2024, reforçam a tendência de aumento de partos e da taxa de
cesáreas entre adolescentesLevantamento também revela um aumento constante
no número de partos em adolescentes
Freepik
A
gravidez é um evento significativo na vida de uma mulher e de sua família, mas
quando ocorre na adolescência, ela pode trazer desafios ainda maiores. A
condição de vulnerabilidade da adolescente, somada à necessidade de conciliar
uma fase de transformações naturais com a responsabilidade de cuidar de um
bebê, provoca mudanças profundas que impactarão a vida de ambos de forma
definitiva. De 1° a 8 de fevereiro, a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez
na Adolescência é marcada pela conscientização dos impactos da gestação
precoce, que traz implicações para a vida das jovens mães, de suas famílias, para
o desenvolvimento dos filhos e o sistema de saúde como um todo.
Um
estudo inédito realizado pela Planisa (líder em soluções para gestão de custos
na saúde na América Latina) e pelo DRG Brasil, com dados de 442 hospitais
brasileiros, públicos e privados, e 633.705 altas hospitalares no período de
2022 a 2024, concluiu que 5,32% dos casos envolveram adolescentes de 12 a 18
anos, gerando um custo aproximado de R$ 254,5 milhões em internações. O
levantamento revela, ainda, um aumento constante no número de partos em
adolescentes: em 2022, a taxa foi de 4,66%; em 2023, subiu para 5,32%; e em
2024, atingiu 5,75%.
Alerta para DST’s e eventos adversos
Outro
dado da pesquisa é a alta incidência de sífilis em gestantes adolescentes: 3,36%,
contra 1,61% entre gestantes adultas.
Além
disso, os índices de eventos adversos e eventos adversos graves são
significativamente mais elevados entre as mães adolescentes. O estudo apontou
21,63% de eventos adversos e 6,21% de eventos adversos graves nas adolescentes,
comparado a 13,38% e 4,31%, respectivamente, entre as mães adultas. Os eventos
adversos são complicações indesejadas decorrentes do cuidado prestado aos
pacientes, não atribuídas à evolução natural da doença de base. Já os eventos
adversos graves incluem qualquer ocorrência médica que resulte em morte, ameace
a vida, exija hospitalização ou prolongamento da internação, cause incapacidade
persistente ou significativa, anomalias congênitas, ou efeitos clinicamente
importantes.
“Esses
fatores resultam em maior tempo de internação e, consequentemente, aumentam os
custos hospitalares para o sistema de saúde”, explica o diretor de Serviços da
Planisa e especialista em custos hospitalares, Marcelo Tadeu Carnielo.
Índice de prematuridade
O
levantamento mostra um índice de prematuridade de 12,55% entre mães
adolescentes, contra 11,43% entre mães adultas. A permanência hospitalar dos
recém-nascidos prematuros também foi maior: 4,6 dias para os bebês de mães
adolescentes, contra 3,9 dias para os bebês de mães adultas. “Esses fatores
agravam ainda mais os custos hospitalares, pois a maior incidência e a maior
permanência de recém-nascidos prematuros aumentam os custos e pressionam o
sistema de saúde”, salienta Carnielo.
De
acordo com relatório publicado em 2018 pela Organização Pan-Americana da
Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF) e pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a
taxa mundial de gravidez na adolescência é estimada em 46 nascimentos para cada
mil jovens entre 15 e 19 anos. Na América Latina e no Caribe, essa taxa sobe
para 65,5 nascimentos por mil adolescentes. No Brasil, um estudo de 2020 do
Ministério da Saúde indicou que 14% de todos os nascimentos ocorreram em mães
com até 19 anos.
Dentre
essas mães adolescentes, 69% são negras ou pardas, e 66% das gestações são
indesejadas. A gravidez precoce eleva o risco de morte tanto para a mãe quanto
para o bebê, além de aumentar as chances de prematuridade.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano passado, mostram que, em 2023 (período da análise), 23,1% das dos jovens de 14 a 29 anos abandonaram os estudos por conta da gravidez.
“Programas
de prevenção à gravidez, com acesso a informações, educação e serviços de
saúde, são essenciais para promover uma gestação consciente. Além disso, é
fundamental adotar uma abordagem acolhedora e livre de preconceitos para as
mães adolescentes, pois esses fatores são primordiais para o enfrentamento dos
desafios da maternidade na adolescência”, conclui Carnielo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário