quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Mulheres se destacam na aquisição de novos empregos

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 Vagas formais para mulheres crescem 45% em relação ao ano anterior. No entanto, discrepâncias salariais e estruturais ainda precisam ser superadas


O mercado de trabalho brasileiro trouxe um cenário encorajador para as mulheres no último ano. Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), as vagas formais de emprego ocupadas por mulheres cresceram 45,18% entre janeiro e agosto de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023. Esse índice supera significativamente o crescimento de 10,1% observado entre os homens.

Apesar do avanço expressivo, os números revelam um cenário ainda desigual. Em valores absolutos, as vagas ocupadas por homens continuam sendo maioria, assim como os salários médios, que permanecem superiores aos das mulheres. Dados do Relatório de Transparência Salarial, divulgado pelos ministérios do Trabalho e Emprego e das Mulheres em 2024, apontam que elas recebem, em média, 20,7% a menos que os homens.


Avanços e desafios para a igualdade

O aumento expressivo de mulheres em novas vagas de trabalho sinaliza uma redução gradual da desigualdade de gênero no mercado. Esse movimento reflete tanto políticas de inclusão promovidas por empresas quanto mudanças na percepção social sobre o papel feminino em setores tradicionalmente ocupados por homens.

No entanto, os desafios estruturais ainda são muitos. As dificuldades para ascender a cargos de liderança continuam presentes, especialmente devido à sobrecarga enfrentada por muitas trabalhadoras. Divididas entre a jornada profissional e as responsabilidades domésticas, elas são frequentemente forçadas a abrir mão de promoções ou reduzir a carga horária, o que limita seu potencial de crescimento.


Os impactos de gênero, raça e classe no mercado de trabalho

A situação das mulheres negras e de baixa renda é ainda mais complexa. Além das dificuldades relacionadas ao gênero, elas enfrentam barreiras adicionais decorrentes das desigualdades raciais e sociais. Dados do Relatório de Transparência Salarial apontam que as mulheres negras têm uma média salarial muito inferior à das mulheres não negras, o que evidencia a disparidade entre os grupos.

Enquanto as não negras ganham, em média, R$ 4.249,71, as negras recebem apenas R$ 2.745,26, o que representa 50,2% do salário de homens não negros. Essa diferença salarial é apenas um reflexo das diversas dificuldades enfrentadas por essas mulheres no mercado de trabalho, que incluem também a escassez de políticas públicas voltadas para a sua inclusão e promoção profissional.


Apesar das conquistas, aposentadoria feminina também é desafio

A dupla jornada, vivenciada por muitas brasileiras, impacta diretamente na relação com a previdência. Para muitas, o afastamento temporário do mercado de trabalho devido à maternidade ou aos cuidados com familiares representa períodos sem contribuição previdenciária. Esse cenário pode adiar a tão aguardada aposentadoria, um objetivo essencial para quem acumula trabalho dentro e fora de casa.

Entretanto, as regras diferenciadas de aposentadoria para mulher, como idade reduzida e tempo de contribuição menor, configuram um avanço importante. Essas condições reconhecem, em parte, os desafios enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho e em suas rotinas domésticas. Essa possibilidade, além de ser um direito conquistado, serve como incentivo para muitas retornarem ao mercado, mesmo após períodos de pausa.


Projeções futuras e o papel das empresas

Para consolidar o crescimento das mulheres no mercado de trabalho, é necessário que as empresas assumam um papel ativo na promoção da equidade. Programas de treinamento e capacitação específicos para trabalhadoras, aliados a políticas internas de igualdade salarial, são fundamentais. Além disso, a presença de lideranças femininas inspira novas gerações, promovendo um ciclo de transformação cultural.

O Estado também tem um papel crucial nesse processo. Medidas como ampliação de creches públicas, incentivos fiscais para empresas que promovem equidade de gênero e campanhas educativas sobre igualdade salarial podem contribuir para um mercado mais inclusivo. Tais iniciativas ajudam a garantir que as conquistas recentes não sejam pontuais, mas se tornem mudanças estruturais duradouras.

Os números do ano passado revelam que o mercado está no caminho certo, mas também demonstram que ainda há muito a ser feito. As mulheres seguem manifestando sua capacidade de ocupar espaços antes inacessíveis, mas é indispensável eliminar barreiras culturais, econômicas e institucionais para que elas possam prosperar de maneira equitativa e duradoura.

 

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