Médico do Hospital
Paulista explica os principais aspectos a serem observados por pais e
responsáveis
A deficiência auditiva em crianças é uma condição
que, muitas vezes, passa despercebida, especialmente nos primeiros meses de
vida. No entanto, seu impacto pode ser significativo no desenvolvimento da
linguagem e da comunicação, afetando diretamente a aprendizagem e a interação
social da criança. A detecção precoce e o tratamento adequado são essenciais
para garantir um desenvolvimento saudável.
De acordo com o médico otorrinolaringologista e
foniatra Gilberto Bolivar Ferlin, do Hospital Paulista, o diagnóstico precoce
desempenha um papel crucial na prevenção de danos ao desenvolvimento
linguístico e cognitivo das crianças.
"Os sinais de perda auditiva podem variar
bastante dependendo da idade. Nos recém-nascidos, muitas vezes, a perda de
audição passa despercebida, o que reforça a importância do Teste da Orelhinha,
que é uma triagem obrigatória feita nas maternidades brasileiras. Quando
identificada qualquer suspeita em relação ao desenvolvimento da comunicação, o
diagnostico audiológico completo deve ser realizado", explica o
especialista.
Sinais iniciais
Dr. Ferlin alerta que, nos primeiros meses de vida,
a criança deve ser capaz de localizar sons e começar o balbucio, imitando as
vozes que escuta. "Bebês que demonstram dificuldade em localizar sons ou
que atrasam o início do balbucio devem ser investigados quanto à presença de
deficiência auditiva. Além disso, se a criança não se assustar com barulhos
intensos ou estouros, isso deve ser interpretado como um indicativo
evidente", aponta o médico.
Em crianças “mais velhas”, a perda auditiva pode se
manifestar como atraso no surgimento da fala e dificuldades na aquisição da
linguagem. A partir da fase em que a criança já possui fala, o especialista
alerta para a presença de trocas fonológicas que podem indicar comprometimento
auditivo.
"Crianças com perda auditiva mais intensa,
podem não responder quando chamadas, o que pode ser confundido com distração,
mas é um sinal claro que precisa ser investigado", afirma.
Impacto na linguagem
A deficiência auditiva pode comprometer o
desenvolvimento da linguagem, uma vez que a fala e a audição estão diretamente
relacionadas ao desenvolvimento cognitivo. "Precisamos de uma língua para
pensar e representar o ambiente. É através da fala que nos comunicamos com os
outros, expressamos nossos sentimentos, imaginamos e contamos histórias", explica
o Dr. Ferlin.
Para minimizar os prejuízos, é fundamental que o
diagnóstico seja feito o mais cedo possível. A reabilitação auditiva pode
envolver desde tratamentos clínicos ou cirúrgicos realizados por um
otorrinolaringologista até o uso de aparelhos auditivos, próteses implantáveis
ou implantes cocleares. Além disso, a terapia fonoaudiológica desempenha um
papel importante na reabilitação da linguagem, ajustando-se conforme o tipo e o
grau da deficiência auditiva.
Dificuldade no diagnóstico
A deficiência auditiva e os transtornos de
linguagem frequentemente apresentam sintomas semelhantes, e podem estar
associados, potencializado os prejuízos e dificultando o diagnóstico. Ambos os
quadros podem atrapalhar a comunicação, seja pela compreensão ou pela
expressão.
Dr. Ferlin destaca que, enquanto a deficiência
auditiva prejudica a compreensão, o transtorno de linguagem, além da
compreensão, pode estar relacionado a dificuldades na expressão.
"É fundamental realizar o diagnóstico
diferencial para determinar se a criança tem deficiência auditiva ou transtorno
de linguagem isolados ou se o caso se trata de prejuízos associados. A
avaliação foniátrica e otorrinolaringológica é crucial para garantir que a
criança receba o tratamento adequado, seja ele médico, terapêutico, com o uso
de próteses auditivas, ou o que for necessário para garantir a reabilitação já
a partir do diagnostico funcional”, afirma o especialista.
Dr. Ferlin lembra que os prejuízos auditivos e de
linguagem comprometem o desenvolvimento infantil e impactam na aquisição de
habilidades acadêmicas em crianças mais velhas, levando, muitas vezes, à
falência no processo de aprendizagem, se não tratados.
Para ambos os casos, segundo o médico, o tratamento
eficaz envolve abordagem multidisciplinar, com o auxílio de fonoaudiólogos,
médicos otorrinolaringologistas e, dependendo do caso, outras especialidades,
como psicopedagogos e neurologistas.
O que é preciso observar
Para ajudar pais e responsáveis a identificarem os
sinais de deficiência auditiva, Dr. Ferlin oferece algumas orientações
importantes:
Bebês e Crianças Pequenas. Observe se a criança reage a sons ao seu redor, como o som da campainha
ou música. Durante a amamentação, por exemplo, a mãe ou o cuidador estão em
posição privilegiada para notar as reações do bebê à fala e aos sons sutis do
ambiente. Aos poucos, ela deve começar a balbuciar e imitar sons.
Respostas a Sons. Se a criança não se assustar com sons altos ou não responder quando
chamada pelo nome por volta do primeiro aniversário, é fundamental investigar a
possibilidade de deficiência auditiva.
Atraso na Fala. Atrasos no início da fala e dificuldades em formar palavras podem
indicar problemas também auditivos.
Comportamento Distrato. Crianças mais velhas com perda auditiva, mesmo que leve, podem parecer
distraídas ou desinteressadas, como se não estivessem ouvindo.
Triagem Auditiva. Mesmo que a criança tenha passado no teste da orelhinha, é importante
monitorar o desenvolvimento auditivo e de linguagem e se houver suspeita de
perda auditiva progressiva, realizar novos exames.
Em caso de qualquer sinal de suspeita, é fundamental
buscar um diagnóstico adequado o quanto antes. O diagnóstico precoce e a
intervenção terapêutica apropriada podem garantir o desenvolvimento da
linguagem e da inteligência da criança, minimizando os impactos da deficiência
auditiva.
Hospital Paulista de
Otorrinolaringologia
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