Infectologista Vera Rufeisn, do Vera Cruz Hospital,
em Campinas (SP), alerta sobre o clima propício para o desenvolvimento do Aedes
Aegypt e os riscos de reinfecçãoFotoshopTofs para Pixabay
Quem teve dengue e viveu os sintomas de cada fase da dengue entende bem o quanto é primordial eliminar os focos do mosquito Aedes aegypti. Primeiro, para que outras pessoas não sejam contaminadas; e, segundo, para diminuir o risco de reinfecção, que pode ser fatal, de quem já teve contato com o vírus. Pelas previsões do site Climatempo, o verão 2025, que começa nesta terça-feira (21), deve ser marcado por dias quentes e chuvosos, ou seja, ideal para a proliferação do mosquito transmissor da doença. A médica infectologista Vera Rufeisen, do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), alerta para que população e poderes públicos evitem cenários epidemiológicos piores que o do início deste ano.
Até outubro 2024, Campinas já havia registrado mais de 120 mil casos confirmados e 77 mortes, destacando-se pela gravidade da circulação dos sorotipos 2 e 3, raros na cidade nos últimos anos. A população sem imunidade a esses tipos, especialmente crianças e adolescentes, está mais vulnerável às formas graves da doença.
Segundo
a especialista, os sintomas principais da doença em sua versão menos grave
incluem febre alta, dor de cabeça, dor no corpo, dor atrás dos olhos
(retro-orbital), náuseas e manchas na pele, que surgem entre cinco e sete dias
após a contaminação. As formas graves podem causar hemorragias, choque, e
falência de órgãos, exigindo atendimento médico urgente. Por isso, o
diagnóstico precoce é crucial para evitar complicações. “Cada reinfecção
aumenta o risco de complicações, como dengue hemorrágica, podendo ser fatal”,
alerta.
Mesmo sorotipo
“A
literatura médica sugere que a infecção por um sorotipo confere algum grau de
imunidade cruzada aos outros, mas esta proteção não é absoluta, e dura por
algum tempo (possivelmente meses)”, destaca.
Sorotipo diferente
“No caso de infecção secundária, por um sorotipo diferente, existe um risco aumentado de dengue grave, especialmente se o intervalo entre as infecções é superior a dois anos. Portanto, mesmo com uma exposição anterior, o risco de infecção por dengue pode existir, especialmente em áreas endêmicas com múltiplos sorotipos circulantes”, afirma a médica.
A
prevenção de novas picadas de mosquito é essencial para reduzir o risco de
transmissão comunitária, portanto, o paciente deve ser aconselhado a utilizar
repelentes durante sua doença para interromper o ciclo de transmissão.
Diagnóstico
"O
diagnóstico é feito por exames de sangue e, nos casos leves, o tratamento
envolve hidratação e medicamentos para dor e febre. Já as formas graves
requerem hospitalização imediata", diz a médica.
Sequelas
Estudos recentes, publicados pelo National Institute of Health (NIH), nos Estados Unidos, em 2024, têm demonstrado que uma proporção significativa de pacientes com dengue pode apresentar sintomas persistentes e complicações crônicas após a fase aguda da infecção. “Há dados recentes que indicam que 18% dos pacientes com dengue apresentaram sintomas persistentes, como fadiga, sonolência, dor de cabeça, dificuldade de concentração e problemas de memória, até três meses após a infecção. Esses sintomas foram associados a uma piora na saúde mental e funcional dos pacientes.”
Outro
estudo, também publicado pela NIH, em 2020, identificou que 61,5% dos
participantes relataram, pelo menos, um sintoma recorrente, como dores de
cabeça, queda de cabelo, cansaço extremo, dores no corpo até oito anos após a
infecção. A infectologista do Vera Cruz Hospital diz que outros estudos são
necessários para uma melhor elucidação.
Prevenção
Devido à gravidade, a palavra de ordem é a prevenção, que deve incluir diversas estratégias combinadas para um resultado eficiente. A infectologista destaca alguns:
- Controle do vetor: O
principal é o controle do vetor, que é o mosquito Aedes aegypti,
por meio de intervenções ambientais (cobertura de recipientes de água,
campanhas de limpeza e eliminação de locais de reprodução de mosquitos,
eficazes para reduzir as populações de larvas e pupas. Também existem
métodos biológicos, como o uso de bactérias, fungos e peixes larvívoros,
utilizados para controlar a população de vetores;
- Métodos químicos: O
uso de inseticidas, tanto sintéticos quanto naturais para eliminação dos
mosquitos, é uma prática comum. Existe o risco de resistência a estes
agentes com o uso prolongado, por isso hoje há a preferência por agentes
naturais;
- Vacinas: Há
dois tipos de vacina contra a dengue: a vacina tetravalente Dengvaxia ®,
cujo uso é limitado a indivíduos que já foram expostos ao vírus, e a
vacina Qdenga®, também tetravalente, uso indicado para indivíduos entre 4
e 60 anos, que não apresenta preocupações com a segurança em
soronegativos, mas não deve ser utilizada em pacientes com
imunodeficiência e gestantes, por ser uma vacina de vírus vivo atenuado;
- Comportamentos preventivos pessoais: O
uso de repelentes de mosquitos e a eliminação de água parada são medidas
eficazes para reduzir o contato humano-vetor. A conscientização da
comunidade e a participação ativa são cruciais para o sucesso dessas
medidas;
- Inovações biotecnológicas:
Técnicas como a liberação de mosquitos geneticamente modificados para
reduzir a população de vetores e o uso de bactérias Wolbachia para
diminuir a capacidade de transmissão do vírus estão sendo estudadas.
União de esforços
Mobilizar
a população e as autoridades para intensificar ações de prevenção e combate à
doença são essenciais. "É preciso conscientizar sobre os riscos da dengue,
reforçar a importância de eliminar focos do mosquito Aedes aegypti e
promover medidas educativas para reduzir a incidência de casos. O essencial é
adotar abordagem integrada e multifacetada, constantes. Sempre incentivando o
engajamento comunitário, contribuindo para a proteção da saúde pública e a
diminuição das epidemias no Brasil, por isso participação de todos é
essencial", conclui Vera.
Vera Cruz Hospital
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