sexta-feira, 29 de novembro de 2024

InCor divulga pesquisa inédita sobre cigarros eletrônicos em parceria com a Vigilância Sanitária do Estado de S. Paulo e Laboratório de Toxicologia da FMUSP

Estudo revela que os níveis de nicotina nos usuários de cigarro eletrônico podem ser até seis vezes superiores aos encontrados em fumantes de cigarro convencional

 

O Instituto do Coração (InCor) HCFMUSP, em parceria com a Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo e o Laboratório de Toxicologia da Rede Premium* de Equipamentos Multiusuários da FMUSP, divulgou os resultados de um estudo inédito realizado com mais de 400 usuários de cigarros eletrônicos, frequentadores de bares, shows e eventos no estado de São Paulo, incluindo a capital. O estudo teve como objetivo avaliar o comportamento, percepção de risco, perfil socioeconômico e hábitos dos usuários - além de medir os níveis de nicotina nos produtos consumidos. 

A coordenadora da pesquisa e diretora Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor, área de cardiologia, Dra. Jaqueline Scholz, alertou para os dados impactantes sobre a saúde dos usuários: “Os níveis de nicotina nos usuários de cigarro eletrônico podem ser extremamente elevados, muitas vezes superiores aos de usuários do cigarro convencional, quando o consumo do produto é diário e intenso. A nicotina é uma substância tóxica com efeito danoso ao sistema cardiovascular e responsável pela dependência química.
 

Impactos psicológicos e físicos 

A pesquisa também revelou que 20% dos participantes gerais declaram ter alguma doença clínica, sendo asma, alergia e hipertensão as doenças mais frequentes. Quando comparados com a população não fumante da mesma faixa etária, os usuários de cigarro eletrônico apresentaram uma prevalência maior de asma, possivelmente relacionado ao uso desses dispositivos. 

Em relação a saúde mental, 31% dos jovens entrevistados referiram ter distúrbios de ansiedade e depressão, com a ansiedade sendo a condição mais prevalente, representando 75% entre os respondentes jovens. Entre os usuários com concentração de nicotina muito elevada (> 400 mg/ml) a associação com ansiedade foi ainda maior, cerca de 41%. A dependência do cigarro eletrônico foi associada a um aumento nos níveis de ansiedade, especialmente entre aqueles que já possuíam problemas de saúde mental. “Ação da nicotina no cérebro causa sensação de bem-estar momentâneo, fazendo com que pessoas ansiosas tendam a usar o produto para esta finalidade, mas na medida que esta exposição se torna frequente a própria ausência da nicotina aumenta a sensação de ansiedade, tornando o consumo ainda mais intenso, dificultando o abandono”, esclarece a médica.


Níveis de nicotina alarmantes 

Os dados mostram que os níveis de nicotina encontrados no organismo dos usuários de cigarro eletrônico com uso diário e intenso chegam a ser alarmantes. Isto correspondeu a 13% amostra e nesses indivíduos os níveis superaram em até 6 vezes o valor médio encontrado em fumantes de 20 cigarros/dia (média de 400 nanograma (ng/ml). Esses indivíduos apresentaram valores de 1000, 2000, 3000 até máximo de 4530 ng/ml. Na média, este grupo apresentou concentração de 2400 ng/ml. Ela também destacou que, enquanto um fumante de cigarro tradicional costuma dar cerca de 200 tragadas por dia, os usuários de cigarro eletrônico com consumo elevado podem chegar a dar mais de 1500 tragadas dias. 

“As pessoas não se incomodam em saber o que estão consumindo e não possuem interesse em saber e isso é um padrão comportamental que não é apenas do brasileiro é personificação de outros países também”, esclareceu a médica.
 

Perfil dos usuários de cigarro eletrônico 

A pesquisa indicou que o uso de cigarro eletrônico a média de idade foi 27 anos, sendo 52% na faixa etária de 18 a 25 anos, com a maioria dos usuários sendo brancos, de classe média alta e com alta escolaridade. Aproximadamente 60% dos entrevistados eram usuários iniciantes, enquanto 40% eram ex-fumantes de cigarro tradicional, sendo que metade deles haviam deixado de fumar há algum tempo e a outra metade trocou o cigarro convencional pelo vape. 

O estudo desmistifica o conceito de ser um produto mais seguro que o cigarro convencional, especialmente no quesito dependência nicotina, com tentativas pregressas de interromper o uso em mais de 70% dos usuários, chegando a 80% nos usuários que reportam dependência moderada a intensa. Cerca de 40% dos usuários estavam usando o produto a menos de 1 ano, cerca 46% usando de 1 há 3 anos e 18% usando há mais de 3 anos. A percepção da dependência se intensificou na medida que o tempo de uso aumentou, e com isto a elevação das concentrações de nicotina obtidas.
 

Considerações finais 

A pesquisa do InCor, juntamente com outras entidades de saúde, revela que a média de idade total de usuários foi de 27 anos. O estudo destaca a urgência de se aumentar a conscientização sobre os riscos do cigarro eletrônico, especialmente entre os jovens. Embora esses dispositivos sejam frequentemente percebidos como uma alternativa mais segura ao cigarro tradicional, os dados revelam que eles apresentam riscos substanciais à saúde, com altos níveis de nicotina, potenciais problemas respiratórios e emocionais, além de uma alta taxa de dependência. A falta de regulamentação e controle sobre esses dispositivos no Brasil também levanta sérias preocupações sobre a segurança e o bem-estar dos usuários. 

O estudo reforça a necessidade de políticas públicas eficazes e de campanhas educativas para proteger a saúde da população jovem e combater o uso indiscriminado de cigarros eletrônicos.
 

* Dados relevantes da Pesquisa

Cerca de 60% nunca fumaram

Cerca de 40% estão usando há um ano

Cerca de 44% usam entre 1 a 3 anos.

 

Entre os que nunca fumaram, a curiosidade foi o principal motivo para experimentar 

Entre os ex-fumantes o motivo de uso foi substituição ao cigarro comum e/ou para parar de fumar cigarro convencional 

A forma como conheceram o produto foi: 

66% através de amigos e familiares; 16% publicidade (influencers); 18% conheceu o dispositivo por pesquisa própria, sendo isto mais frequente entre ex-fumantes.

 

Com relação a nicotina

54% revelaram não saber sobre nicotina

8% afirmaram que o produto não continha nicotina, mas neste subgrupo, a pesquisa encontrou nicotina em 55% nestes usuários

40% referiam saber da presença da nicotina presente no dispositivo

 

Dados Sócios-Demográficos

Cerca de 96% com a escolaridade superior

 

Renda

75% possuem renda superior a R$ 2.500,00

50% possuem renda superior a R$ 2.500,00

 

Etnia

70% brancos

20% pardos

8% negros

2% amarelos
 

*O Laboratório de Toxicologia da Rede Premium de Equipamentos Multiusuários contou como apoio da ACT – Promoção da Saúde.

 

InCor


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