O tabagismo e o consumo excessivo de álcool estão
entre as práticas que podem levar ao desenvolvimento de várias neoplasias,
afirma a médica Rafaela Pozzobon, da Oncologia D’Or.
Embora
seja o tumor mais comum na população masculina, o câncer de próstata não é a
única neoplasia a ameaçar a saúde dos homens. Jovens e adultos adotam
comportamentos que favorecem o desenvolvimento de alguns tipos de câncer.
É
o caso do tabagismo, um grande fator de risco para os cânceres de pulmão e
bexiga, que são mais prevalentes na população masculina. De acordo com a
pesquisa Vigitel Brasil 2023¹, do Ministério da Saúde, os fumantes representam
9,3% da população, sendo a maioria homens.
Outra
prática também associada a esse modelo comportamental é o consumo excessivo de
bebida alcoólica. Junto com o tabagismo, esse hábito aumenta em até 20 vezes o
risco do surgimento do câncer de cabeça e pescoço² – termo genérico
para designar tumores na boca, nas regiões da orofaringe e nasofaringe, na
laringe e nos seios nasais.
Por
isso, a campanha Novembro Azul é um momento importante para a disseminação de
informações não só sobre o câncer de próstata, mas também sobre outros tumores
comuns nos homens, que podem ser prevenidos com mudanças no estilo de vida.
O tabagismo aumenta o risco do desenvolvimento dos cânceres de pulmão, cabeça e pescoço e de bexiga. |
Cabeça e pescoço
É
o quinto tipo de tumor mais comum no Brasil, sem considerar o câncer de pele
não melanoma³. Nos homens, 4,6% dos casos totais de câncer atingem a cavidade
oral e 2,7% a laringe. Nas mulheres, 5,8% afetam a glândula tireoide³.
O
tabagismo e o consumo de álcool em grande quantidade ampliam a propensão à
doença. Como o número de fumantes tem caído no Brasil, os especialistas
atribuem o crescimento da enfermidade às infecções por HPV, um vírus
sexualmente transmissível que responde por 50% a 80% dos casos de câncer de
orofaringe.
“A
falta de informação leva parte da população, sejam homens ou mulheres, a não
fazer sexo seguro, o que propicia as infecções pelo Papilomavírus Humano, o
HPV, em pessoas não vacinadas”, explica a médica oncologista Rafaela Pozzobon,
da Oncologia D’Or.
A
descoberta do câncer em fase inicial pode levar à cura. O tratamento consiste
basicamente em cirurgia, seguido, em alguns casos, de quimioterapia e
radioterapia. Por falta de informação sobre a doença, 76% dos casos são
descobertos em estágio avançado, o que dificulta o tratamento e eleva a
mortalidade.
A
maneira mais eficaz de prevenir esse tipo de câncer é não fumar, evitar o
consumo excessivo de bebidas alcoólicas, praticar sexo seguro e se vacinar
contra o HPV. A vacina é oferecida na rede pública para meninos e meninas entre
9 e 14 anos, além de homens e mulheres até 46 anos que convivem com o HIV,
realizaram transplantes ou estão em tratamento contra o câncer. Na rede
privada, a imunização pode ser feita em pessoas entre 9 e 59 anos, a critério
médico.
Câncer de pulmão
O
tabagismo é responsável por cerca de 80% dos casos de câncer de pulmão – o
quarto tipo de tumor mais recorrente no Brasil, sem considerar o tumor de pele
não melanoma. Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca)²,
32.560 casos deverão ser diagnosticados este ano – mais de 55% em homens.
Como
não apresenta sintomas nas fases iniciais, 70% dos casos só são identificados
em estágios avançados. Para reverter esse quadro, o 1º Consenso Brasileiro para
Rastreamento de Câncer de Pulmão recomenda a realização anual de tomografia do
tórax de baixa radiação para grupos de alto risco para a doença.
Grandes
ensaios clínicos nos Estados Unidos e na Europa⁴,⁵ demonstram que o rastreio,
seguido de uma abordagem diagnóstica e terapêutica apropriada, reduz em 20% ou
mais a mortalidade pela doença.
Compõem
os grupos de alto risco as pessoas com mais de 50 anos, fumantes ou ex-fumantes
há menos de 15 anos e com carga tabágica igual ou superior a 20 anos-maço. O
cálculo da carga equivale à multiplicação do número de maços fumados por dia
pelo número de anos de tabagismo. Por exemplo, se uma pessoa fumou 40 cigarros
por dia (dois maços) durante 20 anos, a carga tabágica é de 40 anos-maço (2 x
20).
Câncer de bexiga
Perto
de 70% dos 11.370 casos de câncer de bexiga diagnosticados em 2024 serão em
homens. A doença ocupa a 12ª posição entre os tumores mais frequentes no país²,
tendo na Região Sudeste as maiores taxas de incidência.
O principal fator de risco é o tabagismo, seguido da exposição ocupacional a certas substâncias cancerígenas utilizadas nas indústrias de tecidos, pintura, corantes, borracha e alumínio, além da exposição à radiação e ao arsênico.
Os
sintomas mais comuns da enfermidade são a presença de sangue na urina, dor
forte ao urinar, sentir vontade e não conseguir urinar, incontinência urinária,
sensação de dor ou ardência ao urinar e mudanças no fluxo de urina.
A
doença é diagnosticada pela cistoscopia, um procedimento semelhante à
endoscopia, que permite a visualização da bexiga e da uretra e a busca por
lesões suspeitas. De modo geral, o tratamento consiste em cirurgia, às vezes
combinada com a radioterapia e a quimioterapia. Os casos mais graves podem
exigir a remoção da bexiga, que é substituída por um novo órgão (neobexiga),
criado a partir de pedaços do intestino.
Oncologia D'Or
Referências
- Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde
e Ambiente. Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças
Não Transmissíveis .Vigitel Brasil 2006-2023
- Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço.
Disponível em Link
- Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Estimativa 2023: incidência
de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2022.
- National Lung Screening Trial Research
Team, Aberle DR, Adams AM, Berg CD, Black WC, Clapp JD, et al. Reduced
lung-cancer mortality with low-dose computed tomographic screening. N Engl
J Med. 2011;365(5):395-409.
- de Koning HJ, van der Aalst CM, de
Jong PA, Scholten ET, Nackaerts K, Heuvelmans MA, et al. Reduced
Lung-Cancer Mortality with Volume CT Screening in a Randomized Trial. N
Engl J Med. 2020;382(6):503-513.
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