A Agência Nacional mostra que, a cada 24 horas, ao menos 8 mulheres foram vítimas de violência doméstica em 2023, um aumento de 22,04% de casos em relação a 2022. O 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 também demonstra a piora nos indicadores de violência contra a mulher no país: o homicídio e feminicídio, a ameaça e perseguição, as agressões domésticas, a violência psicológica e o estupro foram as modalidades de violência observadas.
Esses
dados são assustadores e infelizmente não retratam toda a realidade das
mulheres no país. Quando esses números são analisados, é preciso considerar que
muitas vítimas não têm seus casos julgados, se constrangem no momento de
denunciar, ou não sabem que sofrem violência.
Justamente
essa falta de conhecimento sobre o que é o machismo e de entendimento sobre as
questões emocionais fez com que essa cultura se perpetuasse até hoje em nossa
sociedade. Atualmente temos dados porque tudo está mudando, mas a violência
contra as mulheres é algo que ocorre há séculos - não somente no Brasil. Por
isso, muitas pessoas não se dão conta de que estão passando por abusos, outras
que estão abusando e a maioria nem percebe que está contribuindo para a
continuidade deste sistema.
A
cultura machista é perpetuada, por exemplo, quando pais, cuidadores e a
sociedade dizem para meninos que “homem não chora”. Ela é mantida quando os
obriga a reprimir e julgar comportamentos masculinos ligados à demonstração de
sentimentos, emoções ou até flexibilidade corporal para dançar, por exemplo.
Quando o menino somente é respeitado e visto como forte e corajoso se ele for
rígido e viril, isso é uma crueldade, porque fere e desumaniza os homens
tornando muitos deles explosivos, violentos e depressivos.
Imagine
esse menino também vendo a violência que sua mãe sofreu de um outro homem que
muitas vezes é seu pai? Imagine ter a agressividade como referência de
comportamento masculino? Imagine esse menino tendo que reprimir emoções,
sentimentos e mecanismos de equilíbrio emocional desde cedo? Quantas feridas e
dores emocionais esse menino alimenta dentro de si? Essa cultura machista
educou os homens a acreditar que são donos das mulheres e que estas devem se
submeter e viver em função de cuidar e servir a eles e ao lar. Os homens não
foram criados para serem pai e companheiros (muitos nunca puderam brincar de boneca
e casinha).
Por
outro lado, as mulheres foram criadas para casar, ter filhos, servir aos homens
e à família, sem o direito de ser alguém além dos papéis sociais, sem direito
ao menos de descansar. Desde cedo recebemos brinquedos que nos condicionam a
este papel de servir. Numa casa onde se tem filhas mulheres e filhos homens,
são sempre as mulheres que cuidam de tudo, da casa, da alimentação e até de
colocar o prato na mesa e limpá-los depois. Os homens sempre têm tempo para
estarem consigo e com os amigos, as mulheres não. Até pouco tempo, muitas
mulheres acabavam sendo mães sem ao menos terem a consciência de que realmente
tinham dom para essa missão de tamanha responsabilidade.
Mesmo
com as mudanças dos últimos anos, em que as mulheres buscam sua autonomia e
desenvolvimento no mercado de trabalho, ainda assim elas continuam
sobrecarregadas, sofrendo violências, desrespeitos e abusos. Enquanto não
curarmos nossas feridas e dores interiores, os índices de violência e os
desequilíbrios relacionais-sociais continuarão presentes, pois continuaremos,
homens e mulheres, a perpetuar comportamentos machistas.
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