terça-feira, 22 de outubro de 2024

Temporada de balanços do terceiro tri: especialistas compartilham expectativas

Com a aproximação da temporada de balanços do terceiro trimestre de 2024, o mercado financeiro brasileiro se prepara para analisar os resultados das principais empresas do país. As expectativas são grandes em relação ao desempenho de setores estratégicos, como commodities, bancos e consumo, em um cenário econômico ainda desafiador, com oscilações nos preços de insumos e o impacto das taxas de juros elevadas.  

Especialistas destacam a importância de acompanhar de perto tanto os números apresentados quanto as projeções para o futuro, que podem sinalizar os rumos do mercado nos próximos meses. Para Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, os resultados das empresas brasileiras neste trimestre serão observados com atenção especial devido à complexidade do ambiente econômico atual. "O mercado está ansioso para ver como as empresas se saíram em meio a um cenário cheio de desafios", afirma.  

Ele aponta que setores como commodities, bancos e consumo estarão no foco dos investidores. "Empresas como Vale e Petrobras terão seus resultados acompanhados de perto, especialmente porque seus lucros são muito impactados pela oscilação nos preços de commodities, como o minério de ferro e o petróleo, que dependem da demanda da China", explica Silva. 

No setor bancário, que inclui grandes instituições como Bradesco e Santander, a principal preocupação será avaliar a qualidade das carteiras de crédito em meio a um contexto de juros elevados. "Com as taxas de juros ainda altas, o que o mercado quer saber é se a inadimplência está controlada e como está o desempenho das receitas com serviços e produtos financeiros", comenta o especialista.  

Já no segmento de consumo e varejo, os investidores avaliarão como a alta dos juros e a inflação afetaram o poder de compra dos consumidores e, consequentemente, as vendas e lucros dessas empresas. Silva sugere que os investidores fiquem atentos a três fatores principais nos balanços: margens de lucro, endividamento e previsões futuras.  

"É fundamental verificar se as empresas estão conseguindo manter suas margens, mesmo diante do aumento dos custos e da menor demanda por parte dos consumidores", observa. Quanto ao endividamento, o especialista alerta para os riscos de empresas altamente alavancadas em um ambiente de juros altos. "As companhias com dívidas elevadas podem sentir mais o impacto dos custos financeiros", afirma. Ele também destaca a importância das projeções das empresas para os próximos trimestres, que podem indicar como as companhias estão se preparando para os desafios futuros. 

Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, acredita que há sinais no mundo de que as economias estão saindo ou reduzindo os efeitos do processo inflacionário, com pacotes de estímulos econômicos na China, Europa e EUA. Ele acredita que essa tendência ajuda a melhorar o sentimento de confiança entre consumidores e investidores, aumentando o apetite por riscos. “Até mesmo o fiscal brasileiro, que vinha afastando investidores, já começa a ser revisado com possíveis cortes pela frente, o que reduz a pressão nas contas públicas sobre tributos e, consequentemente, sobre a inflação. Tudo isso deve pesar positivamente”, diz. 

O especialista também ressalta que o ambiente macroeconômico sugere um "pouso suave" para a economia global, que, após um período de forte pressão inflacionária e aperto monetário, demonstra sinais de resiliência. "Temos diversas variáveis que poderiam influenciar os preços de forma estrutural, como conflitos, crise climática e competitividade no ambiente de negócios, que, no momento, têm adicionado mais volatilidade fazendo os índices andarem de lado. Mas temos uma perspectiva de melhora na economia global que deve seguir nos próximos meses". 

Sobre setores que podem ter um desempenho inferior ao do trimestre anterior, Alves aponta para o varejo, que segue enfrentando desafios significativos, especialmente devido à concorrência com grandes players globais e fornecedores de marketplaces. "Em uma briga de preços, normalmente o menor vence, o que comprime as margens e exige esforços crescentes para obter lucro", observa.  

Por outro lado, setores considerados mais defensivos, como o elétrico, de seguros, bancos e saneamento básico, tendem a apresentar resultados mais consistentes: "Essas empresas, que historicamente pagam dividendos, agregam valor ao portfólio por serem menos voláteis e conseguirem repassar aumentos de preço ao consumidor", acrescenta. 

Uma possível surpresa nesta temporada, segundo Alves, seria a estabilização dos preços das commodities, como o petróleo e o minério de ferro, além de uma maior previsibilidade em relação ao dólar e à política fiscal brasileira. "Essas variáveis têm trazido muita volatilidade ao mercado local e, caso haja uma previsibilidade maior, poderíamos ter um cenário mais claro para a tomada de decisões", analisa. Ele recomenda que os investidores revisem suas teses de investimento para garantir que suas carteiras estejam preparadas para enfrentar eventuais tempestades econômicas. 

Para aqueles que estão começando a investir, os especialistas são unânimes em recomendar a diversificação dos investimentos e o foco nos fundamentos das empresas, em vez de se deixarem levar pelas oscilações diárias do mercado. "A diversificação é essencial para reduzir riscos e garantir uma carteira mais equilibrada", sugere Silva, que também enfatiza a importância de estudar o mercado e ter paciência para alcançar resultados no longo prazo. Alves concorda e destaca que "a bolsa de valores não é um lugar para ganhar dinheiro rápido. Os melhores resultados aparecem com uma visão de longo prazo".


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