Especialista em Nutrição do CEUB defende a alimentação saudável como combate eficaz contra a doença
O câncer de mama é o mais comum entre as mulheres
no Brasil e a prevenção, com o diagnóstico precoce, é essencial para reduzir a ocorrência
e a mortalidade em decorrência da doença. A campanha Outubro Rosa de 2024 tem
como foco conscientizar a população sobre o cuidado integral do câncer de mama
e do colo do útero, incentivando práticas de saúde e a detecção precoce.
Ana Salomon, professora de Nutrição do Centro
Universitário de Brasília (CEUB), destaca que a alimentação saudável é um fator
determinante na prevenção da doença. Segundo ela, adotar hábitos alimentares
equilibrados e realizar exames periódicos podem fazer toda a diferença na
prevenção do câncer.
Confira entrevista na íntegra:
Quais alimentos são os vilões da alimentação para
as mulheres?
AS: Dentre os alimentos considerados inadequados,
estão os fast foods, alimentos ultraprocessados, que contêm quantidades elevadas
de gorduras saturadas e açúcar, além de gorduras trans – que não devem ser
consumidas em quantidade alguma. O consumo elevado de carnes vermelhas (mais de
500 g de carne por semana), bem como das gorduras das carnes (gordura aparente,
peles e couro) também impacta na saúde feminina e na produção de hormônios,
interferindo de forma negativa na amamentação e na própria fertilidade. As
bebidas com altos teores de açúcar e bebidas alcoólicas também são prejudiciais
e devem ser evitadas.
Existem grupos de alimentos cancerígenos que
devemos banir da alimentação?
AS: Peixes em salga, carnes em conserva e embutidos
devem ser evitados por aumentarem o risco para câncer. Além, é claro, dos
alimentos ricos em açúcar e gordura. O mesmo deve ser considerado para as
bebidas açucaradas e bebidas alcoólicas, que devem ser igualmente evitadas.
Quais alimentos ajudam o corpo a funcionar melhor e
prevenir o surgimento de câncer?
AS: Os alimentos ricos em fibras, como as frutas,
legumes e verduras e cereais integrais que, além das fibras, são compostos por
vitaminas e minerais antioxidantes que protegem o corpo contra os efeitos
danosos dos fatores ambientais a que estamos expostos, como a poluição e a
fumaça oriunda das queimadas, dentre outros agentes ambientais prejudiciais.
Dentre os vegetais, destaco o consumo dos vegetais
não amiláceos: cenoura, beterraba, aipo, nabo, assim como vegetais verdes,
folhosos (como espinafre e alface); vegetais crucíferos (brócolis, repolho e
agrião); e do gênero allium, como cebola, alho e alho-poró. As batatas e
tubérculos (inhame, cará, mandioca) devem ser consumidos com moderação, por
conterem teores mais elevados de energia e carboidratos, o que pode contribuir
para o aumento de gordura corporal que, quando localizada em abdome, promove o
aumento de risco cardiovascular e de alguns tipos de câncer.
Quanto às frutas, vale reforçar a importância do
consumo de frutas de cores diferentes (por exemplo, vermelha, verde, amarela,
branca, roxa e laranja), para garantir um aporte adequado de vitaminas e
minerais. Assim, a grande base da alimentação deve ser composta por grãos
integrais, vegetais não amiláceos, frutas e leguminosas (como feijão, soja,
grão de bico, lentilha ou ervilha fresca).
Quais substâncias benéficas encontradas nos alimentos
que preservam a saúde da mulher, em especial?
AS: Vitaminas, minerais e fibras, que atuam
mantendo o equilíbrio corporal, evitam o estresse oxidativo (que favorece o
câncer) e promovem um funcionamento intestinal normal. Segundo o INCA, não
existe benefício em substituir as fontes alimentares desses nutrientes por
suplementos vitamínicos e minerais que, além de não gerarem o mesmo efeito (por
não conterem todas as substâncias que os alimentos possuem), podem aumentar o
risco para certos tipos de câncer, quando consumidos em doses excessivas
(principalmente sem a orientação e prescrição de um médico ou nutricionista).
Qual é a relação entre os alimentos orgânicos e os
alimentos vendidos em mercados tradicionais. Dá para manter uma dieta
equilibrada e de baixo custo?
AS: Os alimentos orgânicos têm a vantagem de não
demandarem a utilização de agrotóxicos, que causam prejuízos nas células,
aumentando o risco para câncer. É possível manter uma dieta equilibrada e de
menor custo quando adquirimos esses alimentos de produtores locais que, por não
precisarem da intermediação de comerciantes, conseguem manter os preços mais
acessíveis.
Quais as gorduras podem e devem ser consumidas para
a boa saúde feminina?
AS: As melhores gorduras são aquelas provenientes
de fontes vegetais, com exceção de gordura de coco e palma. As gorduras de
melhor qualidade se mantêm na forma líquida na temperatura ambiente, como os
óleos vegetais e o óleo de peixe. Já as gorduras mais prejudiciais se mantêm
mais pastosas em temperatura ambiente (como a gordura do coco). Exemplos de
boas gorduras são o azeite de oliva, as gorduras presentes em frutas (como o
abacate), oleaginosas (castanhas, amendoim, amêndoas, nozes, entre outras) e
sementes (girassol, gergelim, entre outras).
Os laticínios são boas opções dentro dessa proposta
de alimentação saudável?
AS: São, sim. Especialmente porque o leite e seus
derivados são boas fontes de cálcio, entre outros minerais e vitaminas. Devem
ser escolhidas as opções com menores teores de gorduras, que são os desnatados
ou semidesnatados.
Existe alguma suplementação ou reposição capaz de
evitar o aparecimento dessas doenças?
AS: Não existem pesquisas que comprovem que
suplementos são boas opções para a substituição do alimento em si, o que é
reforçado pelo INCA. Na realidade, um suplemento utilizado sem a prescrição de
um profissional habilitado pode inclusive prejudicar o funcionamento do corpo e
aumentar o risco de câncer.
Assim, não é indicado o uso de suplementos para a
prevenção de doenças. O que se indica é a realização de um acompanhamento
regular com o médico e o nutricionista, que, na suspeita de alguma deficiência,
solicitarão exames e, caso seja comprovada, farão a reposição específica de
nutrientes em deficiência.
Qual recado você gostaria de deixar às mulheres, em
relação ao cuidado com a alimentação e a prevenção de doenças?
AS: Uma alimentação saudável, que inclui
preparações à base de alimentos naturais e que contemple variedade e quantidade
corretas de frutas, verduras e legumes (no mínimo 400 gramas ao dia ou 5
porções), além de cereais integrais, é fundamental para manter um estado
nutricional adequado e para prevenir vários tipos de doenças. E não só isso:
garantir o consumo de uma alimentação saudável é garantir um futuro saudável,
com qualidade de vida!
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