Dr. Mauricio
Chehin alerta para a importância de conscientizar médicos, pacientes
oncológicas e familiares sobre o congelamento de óvulos antes do início
tratamento contra o câncer
De acordo com um levantamento do Oncoguia, mais de
70 mil mulheres são afetadas somente pelo câncer de mama. E o número de pacientes
jovens vem crescendo ano a ano, chegando a atingir atualmente cerca de 15%
de mulheres em idade reprodutiva, segundo dados do Instituto Peito Aberto. Sem
dúvidas, a luta contra o câncer é um desafio que afeta não apenas a saúde
física, mas também a vida emocional e, também, a fertilidade das mulheres
diagnosticadas com a doença. Um tema emergente e de extrema importância nesse
contexto é a criopreservação de óvulos, uma técnica que oferece esperança
para aquelas que desejam preservar sua capacidade de ser mãe após tratamentos
oncológicos agressivos, como quimioterapia e radioterapia.
Quem pode fazer a
criopreservação?
Segundo o Dr. Maurício Chehin, especialista em
reprodução assistida da Clínica Huntington Medicina Reprodutiva, a
criopreservação de óvulos é recomendada para todas as mulheres em idade
reprodutiva que são diagnosticadas com qualquer tipo de câncer e que necessitam
se submeter a tratamentos que podem ser gornadotóxicos, isto é, que afetam de
maneira negativa a função ovariana. “Esses tratamentos podem levar à redução da
reserva ovariana, aumentando a dificuldade de engravidar no futuro",
afirma o médico.
Além das pacientes em tratamento de câncer na
região pélvica, segundo o especialista, a criopreservação dos óvulos também se
aplica a mulheres cujos tratamentos não estão diretamente ligados aos órgãos
reprodutivos. “Quando existe uma situação que pode comprometer a fertilidade, é
crucial que se considere a criopreservação dos óvulos antes do início do tratamento”,
comenta.
Como funciona o processo de
criopreservação de óvulos para casos de oncologia
De acordo com o Dr. Maurício, a criopreservação dos
óvulos exige preparação. Com um intervalo de pelo menos 12 dias entre o
diagnóstico e o início do tratamento oncológico, a mulher pode ser encaminhada
para a coleta de óvulos. “Em situações em que esse tempo não é viável, o médico
deve recomendar a criopreservação do tecido ovariano, um procedimento que é
realizado por meio da videolaparoscopia. Essa técnica envolve a remoção e
congelamento de uma parte do ovário, possibilitando o reimplante do tecido em
um momento futuro, após a cura do câncer”, explica o especialista.
Quais os riscos?
Entretanto, segundo o médico, o processo não é
isento de riscos. Dr. Maurício alerta sobre a teórica possibilidade de
reintroduzir células cancerígenas ao organismo por meio do tecido ovariano
congelado, particularmente em pacientes com leucemia. “Esses desafios tornam
fundamentais o acompanhamento e a avaliação criteriosa para garantir a
segurança e eficácia do procedimento”, ressalta.
Conscientização e apoio
psicológico
Ainda de acordo com o especialista, nos últimos
anos, uma das principais evoluções no campo da oncofertilidade não se limitam
apenas nas técnicas avançadas, mas na conscientização de profissionais de saúde
e pacientes sobre a importância da preservação da fertilidade. “Muitas mulheres
diagnosticadas com câncer entram em um estado de sobrevivência, focando apenas
no tratamento e, frequentemente, negligenciando a capacidade de uma gestação
futura”, explica o médico.
Sendo assim, o Dr. Maurício diz que é essencial que
as equipes multiprofissionais de tratamento oncológico incluam um especialista
em fertilidade logo que o diagnóstico é confirmado, assegurando um atendimento
que compreenda e respeite as necessidades emocionais e físicas da paciente.
Além disso, o especialista ressalta que o suporte
psicológico é indispensável, já que as mulheres, especialmente as mais jovens
enfrentam medos, perda de autoestima e questões ligadas à sexualidade, o que
pode resultar em quadros de depressão. “Um apoio psicológico constante pode
ajudar essas mulheres a tomar decisões mais informadas e menos impulsivas,
permitindo que vejam além do diagnóstico e considerem todas as opções
disponíveis para preservar sua fertilidade”, acrescenta.
Avanços da Medicina
Reprodutiva no Brasil
De acordo com o médico, enquanto as pesquisas
continuam em busca de medicamentos capazes de proteger os ovários durante a
quimioterapia, outras inovações estão surgindo. Especialistas estão atuando
em cultivos de tecidos ovarianos congelados para a possível criação de óvulos
em laboratório, uma técnica que ainda está em fase experimental.
Humanização
No entanto, cada vez mais é necessário priorizar um
atendimento humanizado aos pacientes, especialmente na oncofertilidade,
onde a agilidade, clareza nas informações e o suporte psicológico precisam
estar disponíveis para todas as pacientes. “Com um atendimento multidisciplinar
e individual, é possível minimizar as sequelas em longo prazo e proporcionar um
futuro mais seguro e promissor para as pacientes. Em um momento tão difícil
como o diagnóstico de câncer, a discussão sobre a preservação da fertilidade é
essencial. Essa técnica representa não apenas um procedimento clínico, mas uma
luz de esperança para a realização do desejo de ser mãe no futuro”, conclui o
médico.
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