Médica alerta para os riscos de negligenciar o sono e destaca os impactos profundos na saúde física e mental
Em um mundo cada vez mais acelerado e digital, o
sono se tornou uma das principais vítimas de nossas rotinas agitadas. Longas
jornadas de trabalho, a constante exposição a dispositivos eletrônicos e o
estresse diário estão entre os principais fatores que comprometem a qualidade
do sono, essencial para nossa saúde física, mental e bem-estar.
Muitas vezes, o sono é visto apenas como uma pausa
entre um dia e outro. Contudo, esse período de descanso é fundamental para a
"manutenção" de todas as nossas funções biológicas. É durante o
sono que ocorrem processos importantes, como a consolidação da memória, o
reparo celular e a regulação de hormônios que afetam desde o humor até o
apetite, além da prevenção de doenças graves, como Alzheimer e obesidade.
Hoje é fato incontestável que um sono fragmentado
ou insuficiente pode aumentar significativamente o risco de desenvolver uma
série de condições crônicas.
“Dormir não é apenas 'desligar' o corpo, mas um
momento de regeneração profunda”, afirma a Dra. Simone Nascimento,
médica com especialização em saúde mental e bem-estar corporativo, que compara
o dormir com o colocar o carro em manutenção para evitar que ele quebre ou pare
de rodar. Segundo ela, é durante as diferentes fases do sono — como o sono
profundo e a fase REM (Rapid Eye Movement) — que o organismo realiza funções
críticas que afetam diretamente nossa saúde a longo prazo. “O sono
profundo, por exemplo, é responsável pela reparação celular e pela produção de
hormônios que regulam o crescimento e o metabolismo, como o GH, a leptina e a
grelina. Isso significa que noites mal dormidas podem afetar o peso corporal, a
imunidade e a capacidade de recuperação muscular, especialmente para aqueles
que praticam atividades físicas”, explica.
Porém, apesar de sua importância, o sono tem sido
sabotado pelo estilo de vida moderno. O aumento do período de vigília, com
maiores jornadas de trabalho e deslocamento, a exposição constante à luz
azul emitida por telas de celulares, computadores e televisores, além de
hábitos noturnos irregulares, desregulam o nosso ciclo circadiano — o relógio
biológico que guia nosso ciclo de sono e vigília. Esse descompasso provoca
níveis elevados de cortisol, o hormônio do estresse, resultando em uma cadeia
de efeitos negativos que pode incluir ansiedade, fadiga crônica e até
depressão.
“Estudos mostram ainda que a privação de sono está
associada a um aumento no risco de doenças neurodegenerativas, como o
Alzheimer. Isso ocorre porque é durante o sono que o cérebro elimina toxinas
acumuladas ao longo do dia, como a proteína beta-amiloide, uma das principais
responsáveis pelo desenvolvimento da doença”, explica a Dra.
Simone.
É nesse contexto que o sono deve ser visto como uma
ferramenta poderosa de autocuidado. Ajustar nossa rotina para respeitar os
ritmos naturais do corpo pode trazer benefícios imensos. Uma das maneiras mais
eficazes de melhorar a qualidade do sono é aumentar a exposição à luz solar
pela manhã. A luz natural não apenas sinaliza ao corpo que é hora de estar
acordado, mas também ajuda a regular a produção de melatonina, o hormônio que
desempenha um papel crucial no ciclo do sono. Ao reduzir a luz artificial
durante a noite, especialmente a luz azul, o corpo é capaz de se preparar
melhor para um sono reparador.
Estabelecer horários regulares para dormir e
acordar também é essencial. O corpo humano tem um ritmo circadiano que prospera
com regularidade. Dormir e acordar no mesmo horário todos os dias ajuda a
sincronizar esse relógio interno, tornando mais fácil adormecer à noite e
acordar revigorado pela manhã.
Outra estratégia eficiente é reduzir o uso de
dispositivos eletrônicos antes de dormir. “A luz azul interfere diretamente na produção de
melatonina, o hormônio que regula o sono, e pode dificultar a transição para um
descanso profundo e reparador”, alerta a médica. Para preparar o
corpo para uma boa noite de sono, pequenas mudanças no estilo de vida podem ser
significativas. Rituais de relaxamento, como a leitura de um livro, a prática
de meditação ou um banho morno, podem ajudar a acalmar a mente e preparar o
corpo para o descanso.
“Dormir bem não é um luxo, mas sim uma necessidade
biológica que afeta diretamente nossa qualidade de vida. Um corpo descansado é
a melhor casa para uma mente alerta e criativa”, reforça a Dra.,
que complementa dizendo que o sono é uma parte fundamental do autocuidado que,
quando priorizado, se traduz em melhorias não apenas no desempenho pessoal, mas
também no profissional.
O sono é, sem dúvida, um dos pilares essenciais do bem-estar e deve ser tratado como tal em nossas vidas aceleradas”, conclui.
Dra. Simone Nascimento - médica e possui especialização em Saúde Mental Corporativa pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein. Possui certificação em Medicina do Estilo de Vida pelo American College of Lifestyle Medicine e cursa MBA de Saúde e Qualidade de Vida como estratégia de negócio. Simone é fundadora do Projeto Equilibria - Saúde Individual e Coletiva e atua como palestrante e consultora de programas de saúde e qualidade de vida no trabalho.
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