Depressão perinatal pode prejudicar o
desenvolvimento cognitivo do bebê e afetar o desenvolvimento neurológico,
linguístico, comportamental e sócio emocional
No Dia Mundial da Saúde Mental, 10 de outubro, a
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)
faz um alerta sobre a importância da atenção à saúde mental de gestantes e
puérperas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 20% das
mulheres podem enfrentar transtornos mentais durante a gestação e no período
pós-parto.
A Dra. Lilian de Paiva, presidente da Comissão de
Pré-Natal da Febrasgo, explica que o período gestacional pode apresentar
diversos desafios, que variam de mulher para mulher. De acordo com a
especialista, muitas gestantes se preocupam com a saúde do bebê, com as
expectativas em relação ao parto e com a adaptação a essa nova fase da vida.
Essas preocupações podem impactar a saúde mental da mãe, tornando essencial o
apoio emocional durante essa jornada.
A médica explica que essas preocupações podem resultar em
diferentes níveis de ansiedade. As flutuações hormonais típicas da gestação
podem provocar oscilações de humor, tornando a gestante mais suscetível a
momentos de tristeza ou irritação. Algumas mulheres podem apresentar sintomas
de depressão durante a gravidez, que podem ser agravados por fatores como
histórico familiar de distúrbios emocionais. Além disso, a percepção da mudança
em sua imagem corporal pode gerar inseguranças.
“O medo da dor ou de complicações durante o parto, bem como a
incerteza em relação à experiência que está por vir, são preocupações comuns. É
fundamental que as gestantes busquem apoio emocional, seja por meio de amigos e
familiares, grupos de apoio ou profissionais de saúde mental, para enfrentar
esses desafios de maneira saudável”, ressalta.
A saúde mental materna influencia diretamente o desenvolvimento da
criança. A depressão perinatal, em particular, pode prejudicar a relação entre
mãe e bebê, afetando o desenvolvimento neurológico, linguístico, cognitivo,
comportamental e sócio emocional. Assim, perturbações nas interações iniciais,
muitas vezes causadas por sintomas depressivos maternos, podem contribuir para
o surgimento de problemas emocionais e comportamentais na criança.
A Dra. Lilian explica que, embora o histórico prévio de problemas
de saúde mental seja o maior fator de risco para o desenvolvimento de
transtornos perinatais, existem outros fatores que podem contribuir para o
adoecimento, recaída ou agravamento de condições já existentes. Situações de
risco incluem uma gravidez não planejada, complicações durante a gestação ou o
parto, parto prematuro, malformações ou até mesmo a perda do bebê, além de
violência doméstica, entre outras. Todas essas circunstâncias aumentam a
vulnerabilidade das mulheres ao desenvolvimento de transtornos emocionais no
período perinatal.
“É fundamental que a equipe de saúde esteja atenta para
diferenciar entre depressão e os sintomas de cansaço e fadiga relacionados à
privação de sono e ao aumento do estresse. Algumas mulheres podem experimentar
o "baby blues" entre o terceiro e o décimo dia após o parto, devido a
alterações hormonais, sentindo-se chorosas e sobrecarregadas durante alguns
dias. Esse quadro tende a se resolver espontaneamente, sem a necessidade de
cuidados específicos, além do apoio e da compreensão de familiares e
profissionais”, explica.
O "baby blues" não é a mesma coisa que a depressão
pós-parto, e se os sintomas não desaparecerem após algumas semanas, pode ser um
sinal de algo mais sério que precisa ser investigado. Globalmente, cerca de 10%
das mulheres grávidas e 13% das mulheres no pós-parto enfrentam problemas de
saúde mental, incluindo a depressão. “Não existe uma única causa para a
depressão pós-parto”, reforça.
Os sintomas mais comuns que devem ser observados incluem:
tristeza, isolamento, dificuldade em interagir com o bebê, insônia, dificuldade
de concentração, choro fácil, sensação de profunda infelicidade e, nos casos
mais graves, pensamentos suicidas.
A médica esclarece que essas preocupações devem ser abordadas de
forma cuidadosa e clara durante a avaliação em uma consulta de rotina. É
fundamental estabelecer uma relação de confiança entre o obstetra e a gestante
ou parturiente. A avaliação e o acompanhamento pelo médico devem ser realizados
até que se tenha um diagnóstico mais claro, incluindo, quando necessário, o encaminhamento
para serviços especializados.
Prevenção e Estilo de vida
Para a obstetra, a alimentação e o estilo de vida desempenham
papéis cruciais na saúde mental durante a gestação. Uma dieta rica em ômega-3,
folato, ferro e zinco pode beneficiar a saúde cerebral e emocional. Alimentos
como peixes, vegetais verdes, leguminosas e grãos integrais são especialmente
benéficos. O consumo de refeições equilibradas ajuda a manter níveis estáveis
de açúcar no sangue, o que pode reduzir oscilações de humor e irritabilidade.
As vitaminas do complexo B, especialmente B6, B9 e B12, estão
associadas à saúde mental, e a deficiência dessas vitaminas pode aumentar o
risco de depressão. Além disso, é fundamental manter uma boa hidratação.
Praticar atividades físicas regularmente ajuda a liberar
endorfinas, que melhoram o humor e reduzem os sintomas de ansiedade e
depressão. Um sono adequado é vital para a saúde mental, pois a falta de sono
pode acentuar a ansiedade e o estresse. Práticas como meditação, yoga e
técnicas de relaxamento são eficazes para gerenciar o estresse emocional. Além
disso, um ambiente social positivo, com uma rede de apoio formada por
familiares e amigos, contribui para uma melhor adaptação às mudanças e desafios
da gestação. Evitar álcool, cafeína e outros estimulantes pode prevenir o
aumento da ansiedade e da depressão.
Outras
medidas efetivas para manter uma boa saúde mental durante a gravidez
Psicoterapia:
o acompanhamento
psicológico pode ajudar a processar emoções e enfrentar os desafios associados
à gravidez.
Planejamento
para a Chegada do Bebê: Ter um planejamento pode ajudar a reduzir a ansiedade e aumentar a
confiança em relação à nova fase que se aproxima.
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