Criar filhos felizes não significa dizer sim para tudo. Trata-se
de gastar tempo de qualidade com eles, em um relacionamento de proximidade, e
educá-los com amor.
Uma
antiga canção infantil, interpretada por diversos grupos musicais e escrita por
Rogério Cauchioli, embalou a infância de muitos adultos. A letra diz: “Criança
feliz, feliz a cantar, alegre a embalar, seu sonho infantil...”. Com poucas
palavras, a música ressalta a importância de uma infância bem vivida e cheia de
felicidade. Mas será que é fácil criar filhos felizes nos dias de hoje? Há uma
expressão muito repetida que diz: "é preciso pouco para fazer uma criança
feliz". Será mesmo? Se fosse tão simples, não estaríamos vivendo uma época
em que cada vez mais crianças parecem tristes, isoladas em suas telas e
tecnologias, reclusas em suas emoções, ansiosas, angustiadas e solitárias.
Segundo
a educadora Cris Poli, coordenadora da EDF - Escola do Futuro Brasil, os pais
hoje estão muito mais preocupados em criar filhos felizes. Contudo, essa
preocupação, por vezes, se torna confusa, já que muitos não sabem exatamente
como agir. Será que criar filhos felizes é atender a todos os seus desejos para
evitar choros, reclamações, birras rebeldias ou frustrações? “Na realidade,
criar filhos felizes não é dizer sim para tudo, é ter um relacionamento íntimo,
conhecer os filhos e passar tempo de qualidade com eles, seja brincando,
compartilhando uma refeição, assistindo a um filme, lendo um livro ou simplesmente
se divertindo. A maior felicidade para uma criança é o tempo dedicado a ela, em
que há interação, confiança e compartilhamento de sentimentos. Essas atitudes
levam a uma criação feliz”, comenta a educadora.
Presença
emocional dos pais
Mônica
F.L. Romão, psicopedagoga e psicanalista clínica, mãe de Gabriel, de 14 anos,
que estuda no 9º ano da EDF, também destaca que o desenvolvimento saudável das
crianças depende de relacionamentos estáveis com a família, baseados no amor e
no incentivo ao aprimoramento de habilidades. “Esse vínculo oferece segurança
emocional, apoio e um ambiente propício para o crescimento social e cognitivo.
Ajuda também a construir a autoestima e a confiança da criança, além de
promover habilidades de interação social e lidar com emoções, fatores
essenciais para o bem-estar e o crescimento saudável”, explica.
Ela
alerta que, nos dias de hoje, as famílias enfrentam inúmeros compromissos, e
muitas vezes deixam de lado o "estar presente" na vida dos filhos.
Ser pai ou mãe vai além de cumprir funções básicas de cuidado; é fundamental
estar presente emocionalmente para o desenvolvimento saudável da criança. “Essa
presença emocional envolve ouvir, validar os sentimentos da criança e
proporcionar um ambiente seguro e amoroso, fortalecendo os laços afetivos e
promovendo a autoestima. Demonstrar amor e empatia ajuda as crianças a
compreenderem suas próprias emoções e a entender como a vida funciona”, afirma
a psicanalista.
Famílias
felizes criam filhos felizes, e isso é uma construção. Não é fácil, mas sim uma
busca contínua que exige investimento de tempo, dedicação e muita conversa.
“Para trazer felicidade à vida dos filhos, é necessária muita interação e
priorização das suas necessidades, ainda que todos estejam muito ocupados. Os
pais precisam entender a importância de separar, diariamente, um tempo para
conviver com seus filhos. Não há melhor forma de interação do que criar
momentos em família”, recomenda Cris Poli.
Base
sólida para o desenvolvimento saudável
Crianças
e adolescentes precisam de uma base sólida para um desenvolvimento saudável.
“Quando seu filho errar, como você vai acolhê-lo? Porque isso vai acontecer –
todos erramos. Instrua, acolha e ame. Isso proporciona estabilidade emocional,
promove segurança e fortalece as habilidades sociais e o caráter. Em nossos
lares, precisamos diariamente direcionar nossos esforços para uma base sólida,
que inclua amor, apoio e relacionamentos positivos, além de muita instrução.
Esses elementos ajudam na formação da autoimagem, resiliência e na capacidade
de formar relacionamentos saudáveis no futuro. Também são cruciais para o
desenvolvimento cognitivo e para enfrentar desafios. É essencial que a criação
de um ambiente saudável seja prioridade nas diferentes fases da vida dos nossos
filhos”, orienta Mônica Romão.
Os
pais podem influenciar as crianças para o bem ou para o mal, por isso é
importante que estejam conscientes da importância de dar bons exemplos. “O
relacionamento dos pais impacta significativamente o comportamento dos filhos.
A dinâmica familiar e os padrões de interação entre os adultos moldam como as
crianças percebem os relacionamentos, como se comunicam e gerenciam emoções.
Para ser um bom exemplo, devemos demonstrar comportamentos saudáveis, como
resolução positiva de conflitos, respeito mútuo e comunicação aberta. Essas
atitudes ajudam os filhos a desenvolverem habilidades sociais e emocionais
saudáveis”, pontua.
Valores
e crenças que impactam a criança
Como
primeiros responsáveis pela socialização dos filhos, os pais têm a tarefa de
transmitir valores e crenças que impactam positivamente o comportamento dos
filhos ao longo de seu desenvolvimento. As crianças absorvem informações e
emoções desde a gestação, e essas impressões as moldam para sempre.
Cris
Poli explica que os pais precisam se comunicar claramente com os filhos sobre o
que esperam deles e como eles devem se comportar, mostrando os princípios que
devem reger a convivência familiar. “Eles devem falar com clareza que desejam o
melhor para os filhos – com amor e também firmeza –, fazendo-os entender o
motivo das correções. Mostrem que a vida é feita de escolhas, e que ao escolher
obedecer, ouvir e seguir os direcionamentos, as consequências serão boas. A
concordância traz alegria e paz, mas o desentendimento não é bom. Disciplinar
com sabedoria não requer violência física, verbal ou emocional. Disciplinar é
ensinar, com firmeza e determinação, sem precisar bater”, esclarece.
A
coordenadora da Escola do Futuro ainda orienta que o melhor modelo para educar
é dado por Deus: Ele é Pai, nós somos seus filhos e Ele nos educa. “Como Deus
nos educa? Primeiro, Ele nos dá os princípios, valores e orientações. Da mesma
forma, os pais devem comunicar claramente suas expectativas aos filhos. Quais
valores você deseja passar para eles? Quais princípios de relacionamento e
convivência você está transmitindo?”, alerta.
Por
fim, o que faz uma criança feliz é ver seus pais e sua família felizes. É
receber beijos afetuosos, abraços, elogios por conquistas, ouvir palavras de
afirmação, sentir os pais presentes física e emocionalmente, ter tempo de
qualidade com eles, e ser ajudada no que for necessário. Ganhar presentes cujo
valor seja mais sentimental do que material e viver momentos juntos são
essenciais. As crianças e adolescentes precisam de um lar que seja um castelo
de conforto emocional e de pais que sejam seu porto seguro. A verdadeira
felicidade é feita de momentos, de amar e ser amado, ainda que com crises,
dificuldades e regras. Tudo isso deve ser vivido com sabedoria, intensidade e,
claro, muita felicidade.
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