segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Setembro Laranja: pediatras incentivam o combate à obesidade infantil

 Para evitar que o Brasil alcance as projeções drásticas de 50% de crianças e adolescentes obesos em 2035, médicas instruem que o trabalho deve envolver a família e a sociedade

 

Não é de hoje que se teme pela saúde das crianças em função dos fatores da vida contemporânea, como a vida baseada em telas; a agenda corrida de toda a família dificultando momentos em conjunto, como as refeições; os perigos externos que fazem os cuidadores manterem seus filhos majoritariamente em casa; e, claro, a escalada dos alimentos ultraprocessados. 

Essa combinação de fatores contribui para os dados alarmantes do Atlas Mundial da Obesidade 2024, de que a obesidade infantil poderá atingir 20 milhões em 11 anos, significando que 50% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos estarão com sobrepeso em 2035. 

Em face disso, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) promove a campanha Setembro Laranja, de combate à obesidade infantil, a fim de conscientizar a comunidade médica e a população sobre o assunto. 

"A obesidade infantil está associada a uma série de problemas de saúde, incluindo hipertensão, diabetes tipo 2, dislipidemias, problemas ortopédicos, distúrbios respiratórios e problemas psicológicos, como baixa autoestima e depressão", alerta a Prof. Dra. Elisabeth Fernandes, médica pediatra, com doutorado pela FMUSP e pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), completando que a obesidade na adolescência conduz a 80% de chance se tornar um adulto obeso pela perpetuação de hábitos. 

Por sua vez, a Dra. Anna Bohn, também pediatra pela SBP, aponta que as causas desse fenômeno são multifatoriais, porém todas relacionadas ao estilo de vida. "A diminuição dos espaços abertos, a infância mais restrita à permanência dentro de casa, o aumento do sedentarismo e do uso de telas, além da piora importante da qualidade alimentar com excesso de ultraprocessados geram esse resultado que vemos", explica a médica. Ela observa também que todo esse quadro estimula um aumento na velocidade das refeições, quase sempre em frente a telas, minando a autopercepção ao comer.

 

Soluções possíveis 

As médicas concordam que a mudança dessas projeções deverá ser baseada em uma mobilização multifatorial, envolvendo o entorno da criança e a sociedade, deixando as interferências medicamentosas apenas para casos muito específicos. "O tratamento da obesidade infantil deve envolver sempre uma abordagem multidisciplinar que inclui mudanças no estilo de vida, com ênfase na alimentação saudável, aumento da atividade física e acompanhamento psicológico e o envolvimento de toda a família", aponta a Dra. Elisabeth. 

"Não se trata de dietas rígidas e restritivas, mas de readequar o estilo de vida e a alimentação como um todo para que a criança pare de ganhar peso, enquanto cresce e, assim, melhora a proporção de peso e sua saúde como um todo", concorda a Dra. Anna.

 

Atividade física: uma medida inquestionável  

As pediatras enfatizam que atividades físicas diariamente são parte fundamental do desenvolvimento de um estilo de vida que distancia da obesidade. "O esporte promove o gasto energético, melhora o condicionamento físico e contribui para o desenvolvimento motor e social da criança. A recomendação atual é que as crianças pratiquem pelo menos 60 minutos de atividade física moderada a intensa diariamente", orienta a Dra. Elisabeth. 

O peso dos esportes na formação do indivíduo também sustenta a opinião da Dra. Anna: "Além de ser um momento de prazer quando a criança percebe um esporte que gosta ou algo que faz bem, pode ajudar a construir vínculos e uma boa autoestima".

 

Dicas para começar agora com as crianças

As médicas especialistas reuniram sugestões para início imediato, em casa, com envolvimento de todos, mirando o bem-estar da criança e do adolescente: 

  • Seja exemplo. Construir hábitos na infância é muito mais fácil através da observação e repetição do que da imposição;
  • Incentive uma alimentação saudável, com comida de verdade e variação nos ingredientes: alimentos frescos, frutas, legumes, verduras, carnes magras e cereais integrais, e evite ultraprocessados;
  • Estimule a prática regular de atividades como brincadeiras ao ar livre, esportes e caminhadas;
  • Controle de forma enfática o uso de telas após os 2 anos (e não apresente telas antes disso). O sedentarismo é o grande vilão da infância atual;
  • Cuide de você e leve seu filho junto. Praticar atividades físicas em família pode ser uma forma de criação e manutenção de fortes vínculos, além de cuidar da própria saúde e dele;
  • Estabeleça rotinas saudáveis: Mantenha horários regulares para as refeições e atividades físicas, e garanta uma boa qualidade de sono.

 

Dra. Elisabeth Canova Fernandes - CRM 94686; RQE 105.527. Pediatra formada pela Faculdade de Medicina do ABC. Residência médica em pediatria pela FMUSP. Complementação especializada em reumatologia pediátrica pelo Instituto da Criança – FMUSP. Título de especialista em Pediatria pela SBP. Título de especialista em reumatologia pediátrica pela SBP e SBR. Mestrado e doutorado em pediatria pela FMUSP. Pós-graduação em nutrição infantil pela Boston Umjversity e também pela Ludwig Maximilian University of Munich. Professora de graduação em Medicina na Universidade São Caetano do Sul. Médica proprietária da Clínica Pediátrica Crescer Participação ativa em diversos congressos nacionais e internacionais em pediatria voltados para alimentação infantil, amamentação, cuidados com o bebê e doenças comuns da primeira infância. Palestrante frequente nos temas de amamentação, alimentação infantil e primeiros cuidados com o bebê.

 

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