Às vésperas das
comemorações do Dia da Amazônia, a Agência Sebrae de Notícias apresenta
histórias de empreendimentos que têm em seu DNA o objetivo de cuidar da floresta
e das pessoas que dependem dela
Quarenta e dois anos de aprendizado e um “ideal
diferente” colocaram o paranaense Francisco Samonek à frente de projetos que
valorizam a Amazônia como uma potência socioambiental da borracha. Desde a
década de 1980, quando o empreendedor chegou à região e multinacionais eram
priorizadas por políticas públicas voltadas para o látex, até a realidade
atual, com mais de 1.500 famílias de seringueiros trabalhando na produção de
insumos para dar vida a calçados compostos por bioativos da região. Essa é a
história das marcas Seringô e Jucarepa que a Agência Sebrae de Notícias
apresenta nesta xxxxx-feira (XX), para marcar o Dia da Amazônia, celebrado em 5
de setembro.
“Nós não vamos ter condições de manter a floresta
preservada se não tivermos o seringueiro morando lá, andando no meio da mata
para colher a borracha todo dia e zelando por esse ambiente”, assegura Samonek.
O empresário é também fundador do Polo Probio, uma Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público (Oscip) que, desde 1998, desenvolve projetos como a
Seringô e promove as potencialidades da bioeconomia na Amazônia, aliando
desenvolvimento comunitário, inovação e cultura.
Do Paraná para o Acre, do Acre para o Pará, no meio
do caminho, aprendizados com Chico Mendes e com os povos da floresta, tudo por
um objetivo maior. “O nosso propósito é ajudar as famílias que estão na
Amazônia que estão hoje totalmente invisíveis à sociedade”, afirma Samonek. Ele
conta que sua trajetória teve marcos importantes a cada dez anos, sendo o
último deles a participação no Inova Amazônia, iniciativa do Sebrae.
A instituição finalizou em agosto o segundo ciclo
do programa, com um total de mais de dois mil empreendedores inscritos. “Nós
pré-aceleramos 660 ideias, desenvolvemos 409 empresas e tivemos mais de 850
projetos e 580 bolsistas nesses dois ciclos”, informa o analista de inovação do
Sebrae, Thyago Gatto. A Seringô foi uma das empresas selecionadas para o Módulo
Tração do Inova Amazônia, “um banho de capacitação”, como define o analista.
“Nós estamos hoje trabalhando a rastreabilidade do
produto. É uma exigência do mercado europeu que os produtos não sejam de áreas
desmatadas, que mantenham a floresta em pé”, conta Samonek. Ele adianta que
está desenvolvendo, em parceria com uma startup da Suíça, a rastreabilidade da
borracha e do calçado. “Nós queremos catalogar tudo, e isso já é um resultado
do Inova Amazônia”, salienta.
A iniciativa do Sebrae também contempla pessoas
físicas, pesquisadores ou empreendedores que estão com alguma ideia nova, que
ainda não saiu do papel, no Módulo Ideação. “A gente desenvolve essas ideias e
tenta, ao final do ciclo, fazer com que se tornem efetivamente empresas”,
comenta Thyago. Em ambos os módulos, o conceito é o mesmo: capacitação
coletiva, mentorias individuais e conexão com o mercado.
Feitos basicamente com borracha e caroço do açaí,
os tênis e chinelos “flip flop” da Seringô são 100% sustentáveis. Segundo
Samonek, mesmo as grandes marcas produzem poucas coisas realmente sustentáveis.
Por isso, sua expectativa é, também, influenciar o mercado. “O nosso produto
tem um diferencial: ele provém de fontes renováveis, que são as fibras
vegetais, como o caroço do açaí, que além disso vem de um resíduo, de um
subproduto”, diz.
“A bioeconomia será o grande motor de
desenvolvimento. O Brasil tem um potencial muito grande, não só na Amazônia,
mas em todos os biomas, de geração de produtos e serviços a partir de insumos
da natureza. E o objetivo do Sebrae é fortalecer essa economia, gerar,
desenvolver negócios, produtos e serviços com maior valor agregado para, com
essa geração de riqueza, promover o desenvolvimento econômico e social e
reduzir o desmatamento, mostrando que a floresta em pé vale muito mais do que
deitada”, avalia Thyago Gatto.
A baunilha brasileira
Outro exemplo de negócio que alia a bioeconomia com
o comprometimento social é a marca Jucarepa, que “pivotou”, ou seja, mudou de
direção, em 2023, e hoje desenvolve insumos para a indústria alimentícia a
partir das sementes do cumaru. Comercializada há mais de um século,
principalmente para a indústria de cosméticos, a semente amazônica também é
conhecida como a baunilha brasileira.
“Nossa ideia de inovação foi sair, ser disruptivo
dessa indústria de cosméticos e ir para a indústria alimentícia. A partir de
testes laboratoriais, de biotecnologia, começamos a fazer insumos para o uso
específico da área de alimentos”, conta Juliana Carepa, fundadora da marca, que
começou a trabalhar com o insumo quando ainda era confeiteira.
“Hoje, a gente trabalha com um caramelo de cumaru,
que é o que a gente chama de produto de apresentação e chega ao consumidor
final por meio de revenda para pequenos mercados, conveniências, lojas de
produtos naturais. Mas o nosso maior foco é a semente desidratada, o cumaru em
pó, e o extrato, que a gente vem desenvolvendo”, explica.
Segundo a empreendedora, para fazer seus produtos,
ela compra a semente in natura de comunidades extrativistas. “A maior parte do
cumaru é exportada in natura, que é como a Amazônia faz e sempre fez, com a maioria
dos nossos insumos. Então, a nossa ideia já tem como primeiro ponto essa lógica
e praticar um preço justo”, explica.
Juliana ainda destaca os desafios que a pequena
empresa enfrenta com custos laboratoriais e questões regulatórias. “Não existe
regulamentação de extrato de cumaru ainda no Brasil, então a gente entraria
como pioneiro, e tudo que é pioneiro é mais difícil ainda”. Ela relata que é um
desafio extra o fato de que o cumaru é um bioativo natural ainda desconhecido.
“Seja pela necessidade de um aporte financeiro para
conseguir testes laboratoriais, conseguir inserção de biotecnologia, até mesmo
discussões regulatórias; os nossos órgãos não conhecem todos os bioativos
dentro de uma floresta”, ressalta.
Além disso, Juliana é crítica ao modelo que ainda impera no país, que
ela chama de “exportador de commodities”. “As pequenas e médias empresas da
Amazônia precisam existir para que continuem dando suporte para que a Amazônia
se estruture e possa crescer a partir da Amazônia, pela Amazônia, para a Amazônia
e, aí sim, para o mundo”, comenta. “A gente nunca pode esquecer que floresta em
pé quer dizer pessoas em pé. Para mim, esse discurso de ‘abraçar a árvore’ não
pode estar dissociado de ‘abraçar as pessoas’”, conclui a empreendedora.
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