Afetando principalmente mulheres na meia idade, a
enfermidade pode levar à cirrose e insuficiência hepática
A
colangite biliar primária (CBP) é uma rara doença autoimune do fígado,
caracterizada pelo ataque do sistema imunológico aos ductos biliares
intra-hepáticos - que transportam a bile para o intestino. Isso resulta em uma
inflamação crônica, que pode evoluir para cirrose e insuficiência hepática, com
possibilidade de necessidade de transplante em estágios avançados. Os
principais sintomas incluem coceira persistente, cansaço extremo e
eventualmente pode haver presença de icterícia (coloração amarelada da pele e
dos olhos devido ao acúmulo de bilirrubina).1
A
hepatologista Débora Terrabuio destaca que a CBP afeta de quatro a seis
mulheres para cada homem, e que o diagnóstico precoce é um desafio. “Os
sintomas muitas vezes são inespecíficos, confundidos com outras doenças, como
depressão, alergias e muitas vezes predominam os sintomas de doenças
reumatológicas associadas, como olhos e boca secos, o que dificulta que se
pense no diagnóstico de uma doença hepática. Por isso, é fundamental aumentar a
conscientização sobre a doença, tanto na sociedade quanto entre os
profissionais de saúde”, enfatiza. Ela também ressalta a importância do Dia
Internacional da Colangite Biliar Primária (10 de setembro), data que visa
ampliar o debate e dar mais visibilidade ao tema.
A
especialista explica que a maioria dos pacientes com colangite biliar primária
(CBP) está na meia-idade, embora a doença possa acometer também mulheres
jovens. “Não é raro que pessoas com CBP também tenham alterações na tireoide,
artrite reumatoide ou a síndrome de Sjögren, que são as três doenças autoimunes
mais frequentemente associadas à CBP, por exemplo”, comenta a Dra. Débora.
“Geralmente, a suspeita de CBP surge após exames de rotina que revelam
alterações nas enzimas hepáticas, atuando como uma triagem inicial. Estima-se
que 50% dos casos sejam diagnosticados nessa fase. Por isso, é importante que
os profissionais de saúde como dermatologistas, ginecologistas e
reumatologistas conheçam a CBP e levantem a possibilidade do diagnóstico desta
doença nos pacientes que acompanham”, acrescenta.
Para
confirmar o diagnóstico de CBP, os critérios são bem estabelecidos, incluindo
alterações laboratoriais como o aumento das enzimas hepáticas associadas à
colestase e a presença de anticorpos antimitocôndria e/ou alguns padrões de
anticorpos antinúcleo (AAN).1 “Em alguns casos, uma biópsia hepática
pode ser necessária para confirmação”, explica Débora. Quanto à origem da CBP,
a especialista destaca que há uma predisposição genética, o que torna o
rastreamento familiar relevante. “Contudo, essa predisposição é ativada por
fatores ambientais específicos, que ainda não estão totalmente esclarecidos”,
complementa.
Não
há cura para a CBP, mas existem medicamentos que ajudam a controlar a doença e
retardar a progressão dos danos ao fígado, aumentando a sobrevida do paciente.
A Dra. Débora explica que o tratamento deve ser multidisciplinar e envolver,
além de hepatologistas, outras especialidades como reumatologistas,
dermatologistas, psicologia/psiquiatria, devido à associação com condições
autoimunes e a ocorrência de prurido cutâneo, que pode ser de difícil manejo em
5-10% dos casos, com prejuízo da qualidade de vida.
Entre
as complicações mais comuns, está o aumento do colesterol e a diminuição da
densidade óssea, que frequentemente requer suplementação de cálcio e vitamina D
para prevenção de osteoporose. Também pode haver déficits de vitaminas, tais
como vitamina A, D, E e K. O transplante hepático é recomendado em casos de
cirrose descompensada, prurido intratável ou câncer de fígado associado à
cirrose. “Atualmente, novas drogas estão sendo aprovadas, e diversos estudos
estão em andamento, o que pode ajudar a controlar a doença e evitar a
necessidade de um transplante”, afirma a especialista.
A
Dra. Débora ressalta que o diagnóstico precoce é crucial para o manejo eficaz
da CBP, pois o tratamento é mais eficiente quando iniciado antes da perda
significativa dos ductos biliares e da ocorrência de fibrose hepática. “Os
sintomas da CBP impactam profundamente a qualidade de vida. A coceira
incessante, que tende a piorar à noite, prejudica o sono dos pacientes e pode
deixar marcas no corpo. Somada à fadiga, essa condição pode levar à depressão,
afetando a vida social e profissional dos indivíduos”, conclui.
Referências
1 AMERICAN LIVER FOUNDATION. Colangite Biliar
Primária (PBC). Disponível em: https://liverfoundation.org/pt/doen%C3%A7as-do-f%C3%ADgado/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-autoimunes/colangite-biliar-prim%C3%A1ria-pbc/.
Acesso em: 2 set. 2024.
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