Levantamento
encomendado em parceria com a Folha de S. Paulo junto ao Instituto Datafolha
ouviu 2.045 pessoas em 145 cidades
- Os
dados apontam também que 14 milhões de pessoas reconhecem a existência de
cemitérios clandestinos em suas cidades
- Outros
10 milhões de pessoas tiveram um parente ou um conhecido que desapareceu
ao longo de um período de 12 meses
- 30 milhões
de pessoas declararam viver em bairros que contam com serviços de
vigilância privada prestados por policiais de folga
- Segundo
a pesquisa, 6.790 mulheres foram agredidas a cada dia no Brasil, muito
acima do que mostram as estatísticas oficiais
- 16,5%
da população convive diariamente com “Cracolândias” em seus trajetos entre
casa e trabalho e/ou casa e escola;
- 142
milhões de brasileiros com mais de 16 anos de idade declararam ter um
smartphone capaz de acessar aplicativos de bancos ou redes sociais
Ao menos 23,5 milhões de brasileiros com idade
acima de 16 anos vivem atualmente em áreas com forte presença de facções
criminosas ou milícias. A estimativa é do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP), a partir dos dados da Pesquisa de Vitimização e Percepção Sobre Violência
e Segurança Pública, encomendada pela entidade e pelo jornal Folha de S.
Paulo junto ao Instituto Datafolha. Os dados também apontam que 14
milhões de pessoas reconhecem a existência de cemitérios clandestinos em suas
cidades, enquanto outros 10 milhões tiveram um parente ou um conhecido que
desapareceu ao longo dos últimos 12 meses.
“Esses dados demonstram o impacto da presença do
crime organizado no dia a dia dos brasileiros, sobretudo nas grandes cidades, o
que têm despertado atenção maior de jovens e adultos da faixa etária entre 16 e
24 anos”, explica Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro
de Segurança Pública.
Segundo ele, essa percepção também ocorre em
cidades do interior que se transformaram em pontos estratégicos da cadeia de
distribuição de drogas e outros negócios ilícitos das duas principais facções
criminosas do país. “O Estado brasileiro está diante de um imenso desafio, que
passa pela retomada do controle sobre territórios, a identificação do caminho
percorrido pelo dinheiro desses grupos nacionais e transnacionais e também pelo
controle de produtos do crime a partir do rastreamento de mercadorias
utilizadas para lavagem de recursos”.
O diretor-presidente do FBSP também diz que é
importante avaliar uma correlação entre os dados de cemitérios clandestinos e
pessoas desaparecidas, percebidos por 8,5% e 6,2% dos entrevistados pelo
Datafolha, respectivamente. “A existência de cemitérios clandestinos está,
muito provavelmente, correlacionada ao número de pessoas desaparecidas e à
presença de facções e milícias nos territórios. Isso traz um problema grande
para as autoridades públicas, que apostam em uma queda do número de homicídios,
quando na verdade os dados podem estar sendo mascarados por desaparecimentos
forçados, ou seja, pessoas que são retiradas de seu convívio familiar pelo
acerto de contas com o crime organizado ou outras situações”.
Vigilância privada e
Cracolândias
A pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança
e pela Folha de S. Paulo junto ao Datafolha ouviu 2.045 pessoas em 145
municípios do país, entre os dias 11 e 17 de junho, e também abordou temas como
vigilância privada, presença de Cracolândias, abordagens das PMs, violência
contra a mulher, além de recolher informações sobre crimes digitais e hábitos
das pessoas no uso de celulares. As estimativas foram realizadas a partir do
percentual dos resultados obtidos em cada uma das ocorrências, tendo como base
as projeções do Censo 2024 do IBGE.
O levantamento aponta que 18% dos entrevistados, ou
cerca de 30 milhões de pessoas, vivem em bairros que contam com a oferta de
serviços de vigilância privada prestados por policiais de folga. A prestação
desse tipo de serviço é maior entre os entrevistados que ganham mais de 10
salários mínimos (28,4% do total) e menor entre aqueles que ganham até dois
salários mínimos (16,2%). Os dados também mostram que a presença de policiais
prestando serviços de vigilância privada no horário de folga aumenta em 45% a
chance de a pessoa presenciar ou ser vítima de violência policial.
“A participação de agentes públicos na gestão de
empresas de segurança ou na prestação direta de serviços de proteção é proibida
pelas organizações policiais brasileiras. Entretanto, é um fenômeno disseminado”,
aponta o pesquisador Cléber Lopes, coordenador do Laboratório de Estudos sobre
Governança da Segurança (LEGS). “Eles podem prestar serviços sem grandes riscos
trabalhistas, afinal, a ilegalidade do bico inibe a busca por direitos
trabalhistas. Além disso, oferecem recursos que não estão disponíveis às suas
contrapartes privadas (os vigilantes), como o porte de arma, o treinamento, o
contato privilegiado com outros policiais e o poder legal para impor a lei. São
vistos como portadores de soluções ‘mágicas’ para problemas de segurança”.
Do total de respondentes, 11,5%, mais de 19 milhões
de pessoas, relataram ter sido roubados ou assaltados no transporte, no
trabalho ou em casa ao longo de 12 meses. Outros 16,5%, ou cerca de 28 milhões
de pessoas, afirmam que convivem com Cracolândias, ou áreas de uso de drogas a
céu aberto, em seu trajeto para casa, trabalho ou escola. Os entrevistados
também foram questionados se testemunharam algum tipo de abordagem violenta por
parte da Polícia Militar: 14,3% das respostas foram positivas, o que indica um
universo de quase 24 milhões de pessoas.
Violência contra as mulheres
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública também se
preocupou em compreender um fenômeno que aflige a sociedade brasileira, que é a
violência contra as mulheres. Para se ter uma ideia do problema, o último
Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostrou que todos os registros de
violência contra as mulheres brasileiras cresceram no ano de 2023, a partir de
dados públicos disponibilizados pelos entes federativos.
Diante desse quadro, os pesquisadores do Datafolha
foram a campo e constataram que 26,8% dos entrevistados conhecem alguma mulher
que sofreu violência doméstica por parte do parceiro íntimo (como namorado,
marido, companheiro ou ex). Em números absolutos, isso indica um universo de
mais de 24 milhões de mulheres brasileiras que sofreram agressão física entre
junho de 2023 e junho de 2024, o que daria uma média de 6.790 agressões físicas
por dia.
Trata-se de um número superior ao coletado pelo
Anuário Brasileiro de Segurança Pública junto aos órgãos de segurança, que
apontaram 258.941 registros de lesão corporal dolosa em contexto de violência
doméstica, com vítimas mulheres, em 2023.
“Ainda que não sejam exatamente comparáveis (em
razão de diferenças na coleta e na definição da violência), esses dois dados
demonstram claramente a insuficiência das estatísticas oficiais para medir o
fenômeno da violência contra mulheres, confirmam a importância de pesquisas de
vitimização e, além disso, reforçam a necessidade da expansão e aprimoramento
de políticas públicas de proteção às mulheres”, destaca Isabella Matosinhos,
pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Prejuízos financeiros e
hábitos com celulares
A pesquisa também estimou o prejuízo com crimes
virtuais e roubos de celulares no Brasil, que ultrapassou a cifra de R$ 186
bilhões nos últimos 12 meses. Os resultados apontam ainda para uma mudança na
dinâmica criminal no país: os crimes digitais agora já superam os físicos. Para
se ter ideia, dos 13 crimes patrimoniais prevalentes no Brasil, as modalidades
cibernéticas aparecem no topo, causando prejuízo de cerca de R$ 25 bilhões no
período analisado. Fora do ambiente digital, os roubos e furtos de celulares
continuam em alta, atingindo quase 15 milhões de vítimas, com prejuízo estimado
de R$ 22 bilhões. Foram, em média, 1.680 aparelhos subtraídos por hora no país.
Mais de 8 milhões de pessoas relatam que seus celulares foram clonados ou
utilizados indevidamente por terceiros para a aplicação de golpes na internet.
Além dos prejuízos financeiros, a pesquisa também
buscou compreender como os brasileiros usam os celulares em seu dia a dia. No
universo analisado, 85% das pessoas declararam ter um smartphone, ou seja,
cerca de 142 milhões brasileiros. O índice é majoritário em todas as variáveis
sociodemográficas, mas alcança patamar mais alto na faixa dos 16 aos 24 anos
(93%) e entre os que têm de 25 a 34 anos (96%, ante 65% entre os que têm 60
anos ou mais); também é maior na faixa de renda familiar de mais de 5 a 10
salários mínimos (98%) e acima de 10 salários mínimos (96%, ante 78% entre os
que possuem renda familiar de até 2 salários mínimos).
Da parcela que detém a propriedade de celular
smartphone, 81% possuem algum aplicativo de banco no dispositivo, 61% declaram
que efetuam transações bancárias pela internet e 55% fazem compras pela rede;
outros 77% são donos de conta em alguma rede social. Da parcela que tem
smartphone, 54% costumam usar o aparelho enquanto caminham pelas ruas, mas 53%
declararam evitar circular em determinadas áreas da cidade em certos horários.
Outros 21% declararam possuir seguro de proteção contra roubo ou furto de
celular e 20%, contra golpes envolvendo aplicativos de banco, Pix e cartão de
crédito.
Da parcela que possui aplicativo de banco no
smartphone, um terço (34%) costuma deixar o smartphone em casa ou em algum
lugar seguro quando sai para a rua. Nesse caso, o índice é mais alto entre os
que têm 60 anos ou mais (43%, ante 30% entre os que têm 16 a 24 anos), entre os
menos instruídos (42%), entre os que possuem renda familiar de até 2 salários
mínimos (40%). E ainda 33% destacaram que costumam ocultar ou desinstalar
aplicativos de banco, loja ou serviços como forma de segurança.
Fórum Brasileiro de Segurança
Pública
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