Pneumologista do
CEJAM esclarece dúvidas relacionadas ao vício e destaca utilização de vapes
eletrônicos
O ano é 2024 e o tabagismo persiste como uma grave
questão de saúde pública que exige ação imediata. Segundo dados da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS), existem cerca de 1,3 bilhão de usuários de
tabaco ao redor do mundo. Anualmente, o uso dessa substância tem sido
responsável pela morte de aproximadamente 8 milhões de pessoas, sendo mais de 1
milhão delas não fumantes, mas expostas ao fumo passivo.
Nesse contexto e em comemoração ao Dia Nacional de
Combate ao Fumo (29), conversamos com a Dra. Thais Moreira De Figueiredo,
pneumologista do CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”. Em
entrevista, a especialista compartilhou informações relevantes sobre os
impactos do tabagismo na saúde. Confira!
Quais os efeitos gerais do
tabagismo na saúde?
O tabagismo tem efeitos bastante nocivos, incluindo
danos às vias aéreas e aumento da susceptibilidade a infecções. A exposição
prolongada e intensa ao tabaco acaba agravando esses quadros.
As doenças associadas mais comuns entre os fumantes
incluem câncer de pulmão, boca, lábio, faringe e esôfago, doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC), asma, infecções pulmonares e doenças intersticiais
pulmonares que podem levar à fibrose pulmonar. O tabagismo também aumenta o
risco de doenças cardiovasculares, levando a mais casos de infarto e AVC. Além
disso, reduz a expectativa de vida em pelo menos 10 anos.
Um estudo feito por
pesquisadores da Fundação do Câncer aponta que o tabagismo responde por cerca de
80% das mortes por câncer de pulmão em homens e mulheres no Brasil. Qual é a
relação?
A fumaça do tabaco contém mais de 7 mil substâncias
tóxicas, muitas delas prejudiciais às células e com potencial cancerígeno.
Essas substâncias causam inflamação, morte celular e alterações genéticas,
aumentando o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão, entre outros.
Existe um tempo mínimo de uso
de tabaco para alguma dessas condições de saúde aparecerem?
Não há um tempo mínimo estabelecido para o
desenvolvimento dessas condições. Isso varia de acordo com a quantidade e
intensidade do uso do tabaco, além da susceptibilidade genética individual. No
entanto, em pacientes com DPOC, os sintomas geralmente aparecem após os 40 ou
50 anos.
Há alguma diferença na forma como
o tabagismo afeta homens e mulheres?
Na verdade, isso depende muito da perspectiva de
cada doença abordada. Por exemplo: o uso combinado de tabaco e
anticoncepcionais por mulheres aumenta o risco de desenvolvimento de trombose
venosa. Também sabemos que existem mais homens com DPOC.
E quanto ao envelhecimento? É
verdade que o tabagismo acelera o processo?
Sim. A fumaça inalada durante o ato de fumar gera a
produção de radicais livres que afetam as células do corpo, alterando suas
estruturas e seu funcionamento básico, o que acaba contribuindo para o
envelhecimento precoce do indivíduo.
Estamos vivenciando um momento
em que os vapes eletrônicos estão cada vez mais populares. Eles são menos
prejudiciais para a saúde do que o próprio cigarro?
O uso de vape envolve a inalação de um aerossol
gerado pelo aquecimento de um líquido, que simula a fumaça do cigarro
convencional. Este processo gera resíduos tóxicos, alguns ainda não
completamente identificados. Embora possa haver uma possibilidade de eles serem
menos prejudiciais que os cigarros convencionais, não há dados suficientes para
confirmar essa hipótese.
Além disso, em muitos países, incluindo o Brasil,
ainda não existe regulamentação para esses dispositivos, e, com isso, não
existe também o controle de qualidade ou conhecimento completo das substâncias
produzidas. No fim das contas, o recomendável é evitar o uso.
O vape também pode causar
dependência, assim como o cigarro?
Sim, o vape pode causar dependência. Isso ocorre
porque a nicotina presente nos cartuchos desses dispositivos é frequentemente
mais concentrada do que no cigarro convencional.
Ele também pode levar ao
desenvolvimento de câncer de pulmão?
Até o momento, a ciência ainda não tem evidências
da relação direta entre o uso de vape e o desenvolvimento de câncer de pulmão
ou qualquer outro tipo. No entanto, o seu uso foi associado à EVALI, uma doença
pulmonar grave que pode levar à insuficiência respiratória rápida e à morte.
Essa ligação foi observada durante um surto da doença entre 2019 e 2020,
particularmente em vapes contendo produtos derivados de THC e acetato de
vitamina E.
Por fim, existem outras
abordagens, além do uso de medicamentos, para deixar o tabagismo de lado? O que
é indicado para quem quer largar o vício?
Sim. A terapia cognitivo-comportamental, quando
combinada com medicamentos, tem se mostrado bastante eficaz. De modo
geral, as opções de tratamento medicamentoso podem incluir drogas
não-nicotínicas, como a bupropiona e a vareniclina, ou antidepressivos, como a
nortriptilina. Esses medicamentos podem ser usados isoladamente ou em
combinação com terapias tópicas à base de nicotina, como adesivos cutâneos,
pastilhas ou gomas de mascar. A escolha do tratamento depende das particularidades
de cada caso.
Além disso, é importante ressaltar que o apoio emocional e psicológico também desempenha um papel crucial no processo de abandono do tabagismo. Grupos de apoio e acompanhamento psicológico podem fazer uma grande diferença.
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial
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