quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Agosto Dourado: um mês para apoiar a amamentação em todas os contextos


O leite materno é nosso primeiro e mais importante alimento, aquele que inaugura a relação da criança com a nutrição do seu corpo, seu sistema imunológico e o desenvolvimento de vínculos afetivos. Com uma combinação ideal de nutrientes e anticorpos que protegem a saúde do recém-nascido e promovem um desenvolvimento saudável, é a forma mais natural e completa de nutrir os bebês em seus primeiros meses de vida. A amamentação também traz benefícios para as mães no pós-parto, reduzindo a incidência de doenças como diabetes, colesterol, hipertensão e alguns tipos de câncer.

Apesar dos benefícios comprovados, e a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que o aleitamento exclusivo se dê até os seis meses de idade, a adesão nem sempre é simples. O aleitamento pode ser um desafio por diversas razões, especialmente em realidades marcadas pela vulnerabilidade social e econômica, já que muitas mulheres são as responsáveis pelo sustento familiar, tendo que retomar suas funções antes desse período. Dados de 2023 do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) indicam que apenas 55% dos bebês brasileiros têm acesso ao aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade.

Para dar visibilidade ao tema e promover ações de apoio às mães no Brasil, o Agosto Dourado foi instituído por lei em 2017, se somando à Semana Mundial de Aleitamento Materno, mundialmente celebrada desde a década de 1990. Este ano, o mote ‘apoie a amamentação em todas as situações’ destacou o impacto das desigualdades sobre o direito de todos os bebês ao leite materno, um tema fundamental para um país diverso como o Brasil.

A necessidade de apoio contínuo e irrestrito às mães, independentemente das circunstâncias em que se encontram, deve considerar os diferentes contextos sociais do país, a realidade daquelas que vivem em grandes centros urbanos, territórios rurais ou regiões isoladas. Nesse sentido, a campanha de 2024 se alinha às metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 da ONU, que prevê ações para acabar com a fome no mundo, alcançando segurança alimentar e uma nutrição adequada para todas as populações. Para tal, é preciso dar especial apoio às mães e famílias que vivem em contextos de vulnerabilidade, especialmente em tempos de emergências ambientais e climáticas de grandes proporções. Mas o que pode ser feito?

Como as principais cuidadoras da sociedade, muitas vezes as mulheres acumulam jornadas de trabalho enquanto possuem os piores salários. Segundo dados do IBGE, mais de 56% das famílias chefiadas por mulheres com filhos vivem abaixo da linha da pobreza, percentual que passa de 64% entre as negras. Os números são reforçados pelo Dieese, que em 2023 contabilizou 37,5% das brasileiras ocupando postos de trabalho informal, mais de 17 milhões de mulheres. Além da questão financeira, os postos informais dificultam ainda mais o aleitamento exclusivo nos primeiros meses de vida, já que não garantem licença maternidade às trabalhadoras.

A priorização do aleitamento materno também depende de ações que garantam acesso a espaços apropriados para amamentar, horários flexíveis e suporte no ambiente de trabalho. Investir em políticas de apoio contínuo ao aleitamento tem benefícios significativos para a saúde pública e pode ajudar a reduzir as desigualdades, garantindo que todas as mães, independentemente de sua situação socioeconômica ou cultural, tenham acesso ao suporte necessário para amamentar com sucesso. 

Um exemplo nessa direção é o projeto de lei nº 1490 /2023 que tramita na Assembleia Legislativa de São Paulo com a intenção de garantir o direito à amamentação e ao aleitamento materno em creches. Ao promover uma abordagem inclusiva e universal, incentivamos o suporte essencial para que todas as mães e bebês tenham a oportunidade de amamentar. Este é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais solidária e consciente da importância de oferecer condições adequadas ao desenvolvimento de todas as crianças. 



Dr. Moisés Chencinski - pediatra, membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), afiliado da Aliança Mundial para Ação de Aleitamento Materno e autor de cinco livros no tema do desenvolvimento infantil.


Marina Helou - mãe do Martin e da Lara e deputada estadual em seu segundo mandato pela Rede Sustentabilidade.


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