terça-feira, 30 de julho de 2024

Volta às aulas: pediatra defende restrição de celulares nas escolas

Quando se descobre que, após olhar o celular, o cérebro humano leva 14 minutos para entrar em atenção plena de novo, torna-se natural pensar medidas que estanquem este e outros sintomas até piores causados principalmente em crianças e adolescentes. Dr. Paulo Telles explica o Movimento Desconecta na sala de aula para preservar a saúde.

 

"Vivemos em uma era digital, em que a tecnologia faz parte do nosso dia a dia, mas infelizmente temos que assumir que fomos negligentes quanto ao letramento digital, nosso e de nossos filhos", reflete o Dr. Paulo Telles, Pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Ele lembra que, segundo dados do IBGE, 90% das crianças e adolescentes estão conectadas à internet, dos quais 95% usam celular como fonte principal de navegação. 

O médico faz parte do Movimento Desconecta, que debate a regulamentação do uso de celulares nas escolas, visando barrar os efeitos negativos na formação das crianças e adolescentes."O uso adequado pela escola é importante e pode ajudar no processo educacional, mas, da forma que temos visto, certamente atrapalha o desenvolvimento emocional, cognitivo e social dos nossos filhos", observa. 

Em sua visão, o assunto abarca a necessidade de muitas frentes conjuntas de ação, e o pontapé inicial é dado em casa. "Precisamos de muito mais que um simples alerta na capa dos aparelhos ou jogos, afinal já temos isso e seria só olhar a faixa etária indicativa de cada jogo ou app antes de baixar. Mas, a realidade é outra: os pais não checam e nem seguem as orientações. Letramento digital também é essencial para que pais possam iniciar toda esta proteção dentro de casa", enfatiza o Dr. Paulo.

 

Atuação conjunta com a escola

Na esfera da educação, dados da Unesco informam que um em cada quatro países já baniu o uso de celulares nas escolas, depois do relatório da própria Unesco mostrar uma relação negativa entre o uso excessivo de tecnologia e o desempenho dos alunos. 

"Não podemos mais uma vez falhar neste processo, como fizemos ao liberar o uso para nossos filhos, é absolutamente primordial educar, orientar, informar e conduzir este processo com pais, alunos, e escola, estabelecendo limites, restrições e regras para garantir um ambiente saudável e propício ao desenvolvimento de nossos filhos", pontua o pediatra.

 

Sociabilização e saúde mental em risco 

Dr. Paulo reflete que a escola é um lugar de convívio, interação e aprendizado, onde crianças e adolescentes devem desenvolver habilidades sociais e emocionais fundamentais para a vida. Ele enxerga o celular como uma distração, um obstáculo para a concentração e o aprendizado. É nosso papel como pais e educadores orientar nossos filhos sobre o uso responsável da tecnologia", convida o médico. 

"Vamos incentivar mais momentos de contato humano, mais conversas olho no olho, mais interações reais. Vamos ajudar nossos filhos a enxergarem a importância de estabelecer conexões verdadeiras, de viver o momento presente e de se desenvolver plenamente, longe das telas.", receita o Dr. Paulo. 

Por fim, o especialista em pacientes infantis e adolescentes lembra a complexidade que é característica da própria vida e precisa ocupar seu espaço na vivência do ser humano desde pequeno. "A vida real tem um algoritmo muito mais complexo, com frustrações, emoções variadas, relações boas e ruins, quedas, acertos e erros, ganhos e perdas. Estar muito conectado atrapalha a forma que as crianças encaram o mundo real, deixando a realidade parecer dura, triste e muito abaixo das suas expectativas. Em um momento de mudanças emocionais e neurológicas como a infância e adolescência, é preciso presença para aprender a lidar com sentimentos que ainda não são capazes de suportar e administrar", enfatiza o pediatra.

 

PRINCIPAIS MALEFÍCIOS DO USO PRECOCE DE CELULAR: 

Dependência digital | Ter um celular na mão pode reduzir em 25% a atenção do adolescente, mesmo que não esteja acessando o aparelho, ele fica com o que chamamos de Fear Of Missing Out (FOMO), ou medo de estar perdendo algo nas redes, nos chats, o que invariavelmente atrapalha a atenção na hora das aulas. 

Problemas de saúde mental | Irritabilidade, ansiedade e depressão; 

Transtornos do sono | Dificuldades para dormir, que afetam o rendimento escolar; 

Problemas de alimentação | Sobrepeso, obesidade, anorexia e bulimia; 

Sedentarismo | Vontade de ficar com o corpo parado e diminuição da prática de exercícios; 

Bullying | Potenciação através do cyberbullying; 

Riscos de abuso sexual | Exposição precoce a pornografia, sexting, sextorsão, abuso sexual e estupro virtual; 

Transtornos posturais e músculo-esqueléticos | Devido às horas nos dispositivos, sem atenção à postura, em plena fase de construção a amadurecimento da musculatura e estrutura óssea; 

Problemas visuais e auditivos | Miopia, síndrome visual do uso excessivo de tela e perda auditiva induzida pelo ruído excessivo dos fones de ouvido. 

Transtornos da imagem corporal e autoestima | Automutilação e até suicídio; 

Aumento do uso de substâncias | Nicotina, vaping, bebidas alcoólicas, maconha, anabolizantes e outras drogas; 

Interferência no desempenho escolar | Piora do desempenho cognitivo e dificuldades de concentração.

 

PRINCIPAIS MEDIDAS PARA SOLUCIONAR O PROBLEMA:

 Educação e orientação | Educar, orientar, informar e conduzir o processo de uso do celular com pais, alunos e escola; 

Estabelecimento de limites | Determinar limites, restrições e regras para o uso de celulares; 

Diálogo aberto | Manter um diálogo aberto e honesto sobre o uso do celular na escola; 

Promoção de interações reais | Incentivar mais momentos de contato humano, conversas olho no olho e interações reais; 

Regulação e controle | Regular adequadamente as redes sociais e controlar a venda de aparelhos e uso de aplicativos e jogos; 

Avisos sobre riscos | Expor avisos obrigatórios sobre os potenciais riscos para a saúde mental dos adolescentes; 

Proibição em escolas | Considerar a proibição do uso de celulares em escolas, como já feito em alguns países; 

Apoio governamental | Cobrar ações dos governantes para proteger os jovens de assédio, abuso e exploração online; 

Letramento digital | Promover o letramento digital para que pais possam iniciar a proteção dentro de casa; 

Restrição de recursos prejudiciais | Limitar o uso de recursos como notificações push, reprodução automática e rolagem infinita; 

Compartilhamento de dados | Obrigar as empresas a compartilhar dados sobre os efeitos à saúde com cientistas independentes e o público; 

Auditorias de segurança | Permitir auditorias de segurança independentes nas plataformas. 

 

Dr. Paulo Nardy Telles - CRM 109556 @paulotelles. Formado pela Faculdade de medicina do ABC. Residência médica em pediatra e neonatologia pela Faculdade de medicina da USP. Preceptoria em Neonatologia pelo hospital Universitário da USP. Título de Especialista em Pediatria pela SBP. Título de Especialista em Neonatologia pela SBP. Atuou como Pediatra e Neonatologista no hospital Israelita Albert Einstein 2008-2012. 18 anos atuando em sua clínica particular de pediatria, puericultura.



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