Apesar
de muitas pessoas achem que seja coisa somente de jovens ou adultos, a
sexualidade nesta fase da vida existe e é benéfica
A apresentadora Regina Casé, de 70 anos, recentemente,
decidiu comemorar seus 28 anos de casamento ao lado do marido em um motel no
Rio de Janeiro. O assunto viralizou e foi destaque em inúmeros sites de
notícias e de celebridades. “Quem tem um namorado, que depois desse tempo todo,
na avenida Niemeyer, de carro, sem combinar, do nada, dobra à direita, sobe a
ladeira, pra passar uma noite de amor num motel com uma lareirinha falsa? É pra se apaixonar mais,
né?”, escreveu Regina em sua conta no Instagram.
Para quem achou incomum o local escolhido
por Regina para comemorar seu casamento e o fato de ela ter ainda 70 anos,
saiba que as pessoas idosas são um público que frequenta motéis. Uma pesquisa
realizada pela Associação Brasileira de Motéis (ABMotéis) em 2023, feita com
mil pessoas entre quem frequenta e não frequenta motéis, mostrou que as pessoas
com idade entre 50 anos e 65 anos correspondem a 37% do público que frequenta
motéis no Brasil.
“Atualmente, 85% dos casais que
frequentam estão em relacionamentos estáveis como casados e namorados. Nos
últimos anos, o setor de motéis tem feito investimentos e se renovado. Hoje, os
principais motéis do Brasil oferecem uma experiência de hospedagem que inclui
suítes com arquitetura moderna e gastronomia elaborada com cardápios assinados
por chefs renomados. Com base em nossa pesquisa e percepção do
dia a dia, as pessoas idosas têm procurado cada vez mais celebrar seu
relacionamento em um motel e para o cultivo da sexualidade”, afirma Felipe
Martinez, presidente da ABMotéis.
Desmistificando o
tabu
Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a sexualidade diz respeito à motivação das pessoas em buscar amor, contato
e intimidade, integrando pensamentos, sentimentos e ações que impactam
diretamente sua saúde física e mental. No entanto, no caso das pessoas idosas,
a sexualidade ainda é um tabu, com a sociedade acreditando, por exemplo, que
pessoas com mais de 60 anos são assexuais, o que dificulta a inserção da
sexualidade nesta fase da vida.
De acordo com Diego Félix Miguel,
presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria
e Gerontologia (SBGG) de São Paulo, há singularidades biológicas que podem
alterar, sim, o desejo sexual nesta faixa etária, como questões hormonais,
doenças e o uso de medicamentos, por exemplo.
Mas, a sexualidade em pessoas mais
velhas muda ao longo do tempo e, quando vivida, é parte importante de uma vida
saudável. “A sexualidade nesta fase da vida não deixa de existir e traz
benefícios à saúde. Ela proporciona bem-estar físico, mental e social, e deve
fazer parte do processo de envelhecimento das pessoas de maneira ativa e
saudável. Dar visibilidade à sexualidade da pessoa idosa contribui com a
desmistificação do assunto”, diz o especialista da SBGG.
Apoio médico pode
ser necessário
Como a percepção da sociedade sobre a
pessoa idosa envolve tabus e desinformação, essa faixa etária tende a se isolar,
evitando oportunidades de interação com outras pessoas e evitando também
compartilhar seus problemas de saúde que podem afetar sua sexualidade. Neste
caso, o especialista da SBGG orienta a procura de apoio médico, que pode abrir
um diálogo sobre o assunto e realizar exames para identificar como recuperar a
sexualidade. “Pelo lado social, é importante que a pessoa idosa participe de
espaços que estimulem sua convivência com outras pessoas como clubes, academias
e bailes. E, ao abrir espaço para o diálogo, o médico ou profissional de saúde
pode proporcionar um ambiente de respeito, educação e apoio, ajudando a
combater estigmas e a melhorar o bem-estar geral das pessoas idosas”, completa
Miguel.
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - SBGG
Associação Brasileira de Motéis - ABMotéis
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