quinta-feira, 2 de maio de 2024

Pacientes com câncer de endométrio têm nova opção de tratamento aprovada no Brasil

Combinação de imunoterapia com quimioterapia recém-aprovada pela Anvisa pode reduzir em até 58% do risco de progressão ou morte de pacientes com a doença avançada em subgrupo específico 

 

 O câncer de endométrio é o sétimo tumor mais comum entre as mulheres, com cerca de 8 mil novos casos por ano no Brasil[1]. Estimativas apontam que haverá um aumento de 40% na incidência da doença em todo o mundo até 2040[2] e um aumento de 60% no número de mortes no mesmo período[3]. A recém-aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) relacionada a adição da imunoterapia, durvalumabe, ao tratamento padrão de primeira linha com quimioterapia, carboplatina/paclitaxel[4], traz uma nova perspectiva para pacientes com câncer de endométrio avançado, já que estudos apontam uma redução de 58% no risco de progressão ou morte de subgrupo específico[5].

Atualmente, cerca de 15% a 20% dos casos de câncer de endométrio são diagnosticados em estágio avançado (estágio III e IV), os quais são, comumente, tratados com quimioterapia, e têm pior prognóstico, com taxa de sobrevida em 5 anos de 20% a 30%[6],[7],[8],[9],[10]. Já para pacientes em que a doença avançou ou retornou, as opções de tratamento são ainda mais limitadas, pois não se acredita que o câncer responda à terapia hormonal e que será tratado com quimioterapia7,[11].

A médica do Grupo Oncoclínicas, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e pesquisadora do estudo que levou a recém-aprovação, Dra. Andreia Melo, comenta que a combinação da imunoterapia com quimioterapia tem o potencial de revolucionar o cenário de tratamento do câncer de endométrio avançado no Brasil. “Estávamos há muitos anos sem novas perspectivas de tratamento para pacientes no cenário avançado. Essa aprovação supre uma necessidade médica não atendida com significativo benefício de sobrevida livre de progressão, especialmente em subgrupo específico, e demonstra, pela primeira vez, o poder da combinação da imunoterapia com a quimioterapia em primeira linha de tratamento”, reforça médica.

A aprovação foi baseada no estudo DUO-E, o qual analisou, em um de seus braços, a adição do anti-PD-L 1 durvalumabe ao padrão de primeira linha em pacientes com câncer de endométrio avançado5. Participaram do estudo pacientes com câncer de endométrio em estágio III e IV recém diagnosticadas ou recorrente5. A comparação foi realizada entre paclitaxel e carboplatina combinada com placebo e paclitaxel e carboplatina combinada com durvalumabe por 6 ciclos5 seguido por manutenção com durvalumabe em monoterapia. O endpoint primário do estudo foi de sobrevida livre de progressão, o qual demonstrou redução de 29% no risco de progressão ou morte na análise por intenção de tratar (ITT)5.

O estudo demonstrou um benefício ainda mais significativo para pacientes pertencentes ao subgrupo dMMR, com redução de 58% do risco de progressão da doença ou morte. “O subgrupo dMMR corresponde a cerca de 20% a 30% dos casos de câncer de endométrio avançado, caracterizada deficiência nas enzimas de reparo do DNA. O resultado significativo de sobrevida livre de progressão sugere que a adição da imunoterapia ao tratamento padrão paclitaxel + carboplatina, pode se tornar o novo padrão de tratamento em primeira linha de pacientes com câncer de endométrio avançado ou recorrente”, complementa Melo.

O perfil de segurança e tolerabilidade de durvalumabe em combinação com quimioterapia foi amplamente consistente com o observado em ensaios clínicos anteriores e com os perfis conhecidos de cada medicamento individual. O endpoint secundário de sobrevida global do estudo ainda não foi concluído, mas as tendencias são positivas.


Câncer de endométrio

O câncer de endométrio é uma doença heterogênea que se origina no tecido que reveste o útero. A condição é mais comum em mulheres no período pós-menopausa[12], com idade média de diagnóstico superior a 60 anos[13].

Apesar de ser o sétimo câncer mais comum entre mulheres no Brasil¹, há perspectivas de aumento da incidência da doença em 40% em todo mundo até 20402. Dentre os principais fatores está a obesidade, visto que 34% dos casos de câncer de endométrio podem ser atribuídos ao excesso de peso[14].

Cerca de 80% a 85% dos casos de câncer de endométrio são diagnosticados em estágio inicial, com base nos sintomas apresentados. Dentre os sinais mais comuns estão o sangramento vaginal anormal, presente em aproximadamente 90% dos casos[15]. Dor durante a micção ou relação sexual, dor abdominal ou pélvica, inchaço, sentir-se satisfeito rapidamente ao comer, alterações nos hábitos intestinais, ou urinários e formação de massa, são alguns outros sinais que podem estar relacionados com o avanço da doença15, [16].

 


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[1] Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2023. Incidência de Câncer no Brasil. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2023.pdf. Acesso em 28 de março de 2024.

[2] IARC. WHO. Corpus Uteri. Estimated Numbers From 2020 To 2040, Females, Age [0-85+] World. Available at: https://gco.iarc.fr/tomorrow/en/dataviz/trends.

[3] World Health Organization: International agency for research on cancer. Cancer Tomorrow. Available at: https://gco.iarc.fr/tomorrow/en.

[4] Diário Oficial da União. Resolução-RE Nº 1.105, de 21 de março de 2024. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-re-n-1.105-de-21-de-marco-de-2024-549873884.

[5] Westin SN, Moore K, Chon HS, Lee JY, Thomes Pepin J, Sundborg M, et al.; DUO-E Investigators. Durvalumab Plus Carboplatin/Paclitaxel Followed by Maintenance Durvalumab With or Without Olaparib as First-Line Treatment for Advanced Endometrial Cancer: The Phase III DUO-E Trial. J Clin Oncol. 2024 Jan 20;42(3):283-99.

[6] Ferris JS, et al. Uterine Serous Carcinoma: Key Advances and Novel Treatment Approaches. International Journal of Gynecological Pathology. 2021;31(8):1165-1174.

[7] Matrai CE, et al. Molecular Evaluation of Low-grade Low-Stage Endometrial Cancer with and Without Recurrence. International Journal of Gynecological Pathology. 2022;41(3):207-219

[8] Oakin A, et al. ESMO Guidelines. Endometrial Cancer: ESMO Clinical Practice Guidelines for Diagnosis, Treatment and Follow-Up. Ann Oncol. 2022 Sep;33(9):860-877.

[9] Wright JD, et al. Contemporary Management of Endometrial Cancer. Lancet. 2012 Apr 7;379(9823):1352-60.

[10]Monk BJ, et al. Real-World Outcomes in Patients with Advanced Endometrial Cancer: A Retrospective Cohort Study of US Electronic Health Records. Gynecologic Oncology. 2022;164(2):325-332.

[11] Soumerai T, et al. Clinical Utility of Prospective Molecular Characterization in Advanced Endometrial Cancer. Clin Cancer Res. 2018 Dec 1;24(23):5939-5947.

[12] American Cancer Society. Available at: https://www.cancer.org/cancer/endometrial-cancer/about/key-statistics.html.

[13] Mahdy H, et al. Endometrial Cancer. 2022. StatPearls Publishing, Treasure Island (FL);

[14] Siegel RL et al. Cancer statistics, 2020. 2. Lu KH & Broaddus RR. N Engl J Med. 2020;383:2053–64

[15] Sociedade americana de câncer. Sinais e sintomas de câncer de endométrio. Disponível em: https://www.cancer.org/cancer/endometrial-cancer/ detection-diagnosis-staaging/igns-and-symptoms.html.

[16] Medicamento John Howkin. Câncer de Endométrio. Disponível em: https://www.OPkinmedicine.org/health/condições-and-diseases/endometrial-cancer.

 

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