A questão climática e os impactos do aquecimento global se impõem cada vez mais como uma agenda urgente a ser tratada pelos países no âmbito doméstico e internacional. A recorrência e o aumento da gravidade de episódios de desastres naturais em todo o globo terrestre revelam que a mudança da matriz energética, como o investimento em infraestrutura para lidar com os impactos da mudança climática são cada vez mais urgentes. Ainda hoje, a maior parte da energia consumida no mundo vem de fontes não renováveis e poluentes. O carvão e o petróleo continuam sendo as principais fontes de produção de energia elétrica e transporte, respectivamente.
O processo de transformação da matriz energética dos países é complexo e envolve dimensões mais profundas do que apenas a mudança na tecnologia empregada para geração de energia. Mudar a matriz energética envolve uma completa alteração dos processos de transmissão e armazenamento de energia, o que gera impactos sobre a estrutura de prédios e das cidades, implica em modificações na infraestrutura do transporte público e particular, além de exigir o desenvolvimento de planos de contingência, especialmente, no caso de tecnologias de energia intermitentes como solar e eólica. Todos esses elementos são fundamentais para que a transição da matriz energética aconteça de forma efetiva.
Além da complexidade que uma transição energética carrega, o processo de desenvolvimento de novas tecnologias de energia e de infraestrutura é lento, custoso e apresenta poucos retornos financeiros no curto prazo, tornando-o menos interessante para a iniciativa privada. Outro agravante é o valor, pois a troca é cara e o desenvolvimento de economias de escala que possam ser aplicadas de forma ampla com custos reduzidos pode levar tempo. Além disso, todo o processo de transição energética precisa acontecer sem grandes perdas na atividade econômica dos estados. Mais ou menos como trocar o pneu com o carro andando.
Apesar das dificuldades, a questão da transição energética se apresenta como uma agenda cada vez mais urgente. Unido ao aquecimento global, os temas são de relevância para o Brasil no G20. O tema já tem sido tratado em reuniões de ministros e deve ser um dos temas de destaque da ministerial de novembro. O desafio é grande e a cooperação internacional é fundamental para o êxito de uma transição energética a nível global. Assim, o desafio para o G20, que reúne as vinte maiores economias do mundo e, consequentemente, alguns dos maiores consumidores de energia do mundo, é promover uma instância de colaboração e coordenação entre os países para que as ações em prol da mudança do padrão de consumo energético dos países se acelerem.
A
questão ambiental sempre foi uma pauta onde o Brasil exerceu protagonismo no
cenário internacional e o atual governo busca retomar esse papel do país. Ano
que vem, a COP 30 será em Belém do Pará, o que gera uma nova oportunidade de
buscar liderar os esforços de cooperação internacional em torno da questão
ambiental, especialmente, da transição energética. Para além de resgatar o
protagonismo internacional do país nos foros multilaterais, o tema em questão
deve ser pensado com maior cuidado no âmbito doméstico. Apesar de o país ter
uma matriz energética majoritariamente limpa, a maior parte do consumo
energético relacionado aos transportes ainda é de hidrocarbonetos. À medida que
as tragédias ambientais de natureza climática se abatem sobre o país, o desafio
para o Brasil é ir além do protagonismo na arena internacional e buscar
mudanças efetivas que contribuam para a mudança da matriz energética nacional
buscando um desenvolvimento econômico mais sustentável. Além disso,
investimentos em infraestrutura para lidar com os efeitos da mudança climática
se apresentam como urgentes.
*Fernanda Brandão Martins - coordenadora do curso de
Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.
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