A
facilidade de acesso às mídias digitais tem feito surgir uma tendência de
autodiagnósticos de doenças neurológicas por meio de vídeos rápidos
sem respaldo científico
Nos últimos meses, uma tendência preocupante tem ganhado espaço nas redes sociais: a oferta de testes rápidos para detectar o Transtorno do Espectro Autista (TEA), muitas vezes sem qualquer respaldo científico. Por meio de vídeos que geralmente contêm perguntas simples ou tarefas visuais, como ordenar objetos por cor ou responder a questões sobre preferências pessoais, influencers do mundo todo prometem contribuir para a realização de um auto diasnóstico sobre o Transtorno que atinge 70 milhões de pessoas no mundo, sendo 2 milhões no Brasil, segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU).
A oferta desses testes nas redes sociais pode levar milhares pessoas a se autodiagnosticarem erroneamente e a buscarem tratamentos inadequados e até mesmo perigosos. Cabe destacar que a automedicação com base em diagnósticos não profissionais representa um fator de risco à saúde mental e física dos indivíduos, sendo a responsável por cerca de 20 mil mortes por ano no Brasil, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma).
De acordo com a profissional de
Neurocirurgia da rede AmorSaúde, doutora Elisa Braun Rizkalla, em
especial o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista deve
ser feito por profissionais especializados em saúde mental, a exemplo
de psicólogos, psiquiatras e neurologistas ou
neurocirurgiões. “O diagnóstico não é baseado em apenas um
instrumento ou teste, mas sim em uma avaliação abrangente de vários
aspectos do desenvolvimento da criança e das características da pessoa
adulta, por isso envolve uma equipe multidisciplinar
especializada. Por isso, não hesite em procurar ajuda
profissional caso identifique sinais de autismo em si mesmo ou na criança sob
sua responsabilidade”, indica a profissional da maior rede de clínicas médico-odontológicas
do Brasil.
Diferença do diagnóstico em adultos e crianças
Conforme destaca a Dra. Elisa Braun, o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) exige cuidados especiais, entre outros motivos, porque pode apresentar algumas diferenças em crianças e em adultos, devido a diversos fatores, tais como a manifestação dos sintomas, a evolução do quadro ao longo do tempo e a forma como o transtorno é percebido pela sociedade.
“Em crianças, os sintomas do autismo costumam ser mais evidentes e fáceis de identificar, incluindo dificuldades de comunicação, interação social e comportamentos repetitivos. Já em adultos, os sintomas podem se manifestar de forma mais sutil, podendo ser confundidos com características de personalidade ou de outros transtornos mentais”, diferencia a médica.
De acordo com a médica, muitas crianças autistas apresentam outras condições médicas ou transtornos, como déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou transtorno de ansiedade, o que também pode afetar o processo diagnóstico. Já em adultos, o diagnóstico pode ser complicado pela presença de outras condições médicas não diagnosticadas anteriormente.
Alguns transtornos que compartilham características semelhantes com o TEA e podem ser confundidos com ele incluem:
·
Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH), que pode apresentar sintomas
semelhantes, como dificuldade de concentração, hiperatividade e
impulsividade;
·
Transtorno do Espectro da Coordenação (TEC),
que, por afetar a coordenação motora, pode apresentar
dificuldades semelhantes às observadas em indivíduos com
autismo, como deficiências motoras finas e grossas;
·
Transtorno de Comunicação Social (SCD), por envolver
dificuldades na comunicação social e interpessoal, porém sem os
comportamentos repetitivos e estereotipados associados ao autismo;
· Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), já que algumas pessoas podem apresentar comportamentos repetitivos e rituais semelhantes aos observados em indivíduos com autismo.
Por isso,
ao identificar sinais que indicam a possibilidade de Transtorno
do Espectro Autista – na própria pessoa ou na criança pela qual ela é
responsável – é importante procurar um profissional de saúde com
atuação na área. “O primeiro passo é marcar uma consulta com
um médico de família ou clínico geral, que poderá
encaminhá-la para um profissional com atuação na área de saúde
mental, como um psiquiatra, psicólogo ou
neurologista/neurocirurgião”, explica a médica.
O processo
de diagnóstico geralmente envolve uma
avaliação multidisciplinar. “No caso das crianças, inclui entrevistas com
os pais ou responsáveis, observação do comportamento da criança em
diferentes contextos e a utilização de instrumentos padronizados de
avaliação, avaliações neuropsicológicas, testes de desenvolvimento, exames
físicos e, por vezes, laboratoriais para descartar outras
possíveis causas dos sintomas apresentados pela criança”, diz a profissional de
Neurocirurgia.
Importância do diagnóstico de autismo
Quanto mais
cedo o TEA for diagnosticado, mais cedo a
intervenção e o suporte apropriados podem ser fornecidos. “A
precocidade do diagnóstico é fundamental para o início
de intervenções precoces e adequadas, que podem melhorar significativamente a
qualidade de vida da criança e da pessoa autista, como terapia
comportamental, terapia ocupacional, fonoaudiologia, entre outros”, indica a
médica.
O diagnóstico também
pode contribuir para a identificação e o tratamento de
condições médicas coexistentes, já que muitas vezes o autismo está
associado a transtornos do sono, TDAH e epilepsia, entre outros.
Há ainda uma
questão social relacionada ao diagnóstico correto.
“O diagnóstico de autismo pode ajudar a família e a comunidade a
entender melhor as dificuldades e necessidades do indivíduo, promovendo uma
maior aceitação e inclusão social, além de permitir à família
planejar o futuro do indivíduo, considerando suas necessidades e
habilidades específicas”, fala a doutora Elisa.
Principais sinais de autismo em crianças
Algumas das
principais características comportamentais do TEA que diferenciam
essa condição de outras condições neurológicas ou psiquiátricas incluem
maior dificuldade na interação social; dificuldades em compreender e
interpretar as emoções, expressões faciais e sinais sociais dos
outros; comportamentos repetitivos e restritos; interesses restritos e rígidos
em determinados temas ou atividades, também conhecido como hiperfoco;
e sensibilidade sensorial aumentada ou diminuída aos estímulos.
A profissional de
Neurocirurgia da rede AmorSaúde aponta quais são alguns dos principais
sinais e sintomas que os pais ou cuidadores devem
observar para suspeitar de TEA em uma criança e buscar
apoio profissional:
1. Dificuldade em se
comunicar, como não falar ou ter dificuldade em iniciar ou
manter uma conversa.
2. Comportamento
repetitivo, como movimentos de balanço, bater palmas ou alinhar
objetos de forma repetitiva.
3. Falta de interesse em
brincar com outras crianças ou em participar de atividades sociais.
4. Sensibilidade extrema
a estímulos sensoriais, como luzes brilhantes, sons altos, texturas
de alimentos, entre outros.
5. Dificuldade em manter
contato visual durante uma conversa.
6. Atraso no desenvolvimento
da linguagem e habilidades motoras.
7. Incapacidade de
entender ou expressar emoções de forma apropriada.
8. Intensa fixação em certos temas, objetos ou atividades.
“É importante
ressaltar que cada criança com TEA é única e pode apresentar uma
combinação única de sintomas, portanto, é crucial
observar o comportamento e o desenvolvimento da
criança como um todo para identificar possíveis sinais
de autismo”, frisa a doutora Elisa Braun.
Em caso de suspeita, é
essencial procurar a avaliação de um profissional com
atuação na área de Transtorno do Espectro
Autista para um diagnóstico preciso e
intervenção adequada.
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