terça-feira, 26 de março de 2024

O impacto da obesidade no trabalho

Levantamento aponta que mais de 24% dos adultos brasileiros são obesos. A doença afeta população economicamente ativa e tem consequências no mundo do trabalho


De acordo com um estudo publicado recentemente na revista científica The Lancet e apoiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas no mundo, 1 a cada 8, vivem com obesidade.

No Brasil, porém, a proporção considerando a população adulta já é de 1 pessoa com a doença a cada 4, apontam dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2023, monitoramento anual do Ministério da Saúde.

Esse estudo mostrou que 24,3% dos adultos brasileiros são obesos (32,6% entre homens de 45 a 54 anos, praticamente 1 a cada 3). Na outra ponta, a proporção mais baixa é entre mulheres de 18 a 24 anos, faixa em que 11,8%, 1 a cada 10, têm obesidade.

O quadro de obesidade é considerado pelo índice de massa corporal (IMC) igual ou acima de 30 kg/m2. O cálculo do IMC é obtido pela divisão do peso pelo quadrado da altura. Porém, quando analisado o percentual de adultos com excesso de peso – que inclui também aqueles com o IMC igual ou acima de 25 kg/m2, o chamado sobrepeso – o número chega a 61,4% dos adultos no Brasil, mais de 1 a cada 2.

De acordo com o Dr. Ricardo Pacheco, médico, gestor em saúde e presidente da Oncare Saúde e da ABRESST (Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho), o pior cenário no País está entre a população economicamente ativa: “No Brasil, em relação à faixa etária, atualmente o pior cenário do excesso de peso está entre homens de 45 a 54 anos, assim como o da obesidade sozinha: 75% deles têm o IMC igual ou acima de 25 kg/m2”.


Impactos da obesidade no trabalho

A obesidade pode ter vários impactos negativos no trabalho, tanto para os indivíduos obesos quanto para os empregadores. Dentre eles, o gestor em saúde Dr. Ricardo Pacheco destaca o absenteísmo: “Trabalhadores obesos têm maior probabilidade de faltar, devido a doenças relacionadas à obesidade, como diabetes, hipertensão e problemas articulares. Isso pode resultar em uma redução na produtividade da equipe e custos adicionais para os empregadores devido à perda de horas de trabalho”.

O médico ainda aponta a baixa produtividade: “A obesidade pode levar a uma redução na produtividade no local de trabalho devido a fadiga, falta de energia, dificuldades de concentração e menor capacidade de realização de tarefas físicas”, e o aumento dos custos de assistência médica: “As empresas muitas vezes arcam com custos mais elevados de assistência médica devido às condições de saúde relacionadas à obesidade de seus trabalhadores, como diabetes tipo 2, doenças cardíacas e problemas musculoesqueléticos”.

É preciso considerar ainda o aumento do risco de acidentes de trabalho: “A obesidade pode aumentar o risco de lesões e acidentes no local de trabalho devido à redução da mobilidade, equilíbrio comprometido e tempo de reação mais lento. Vale alertar ainda que algumas pessoas obesas podem apresentar baixa autoestima e confiança no trabalho, o que pode afetar negativamente sua interação com colegas de trabalho, desempenho e progressão na carreira”, adverte Dr. Ricardo Pacheco.


A obesidade e a saúde mental no trabalho

A relação entre obesidade e transtornos mentais no local de trabalho é complexa e multifacetada. Ambas as questões podem ter um impacto significativo na saúde e no desempenho dos trabalhadores.

O presidente da Oncare Saúde ressalta que a obesidade pode ter diversos impactos na saúde mental do trabalhador, tanto diretos quanto indiretos.  “Trabalhadores obesos podem enfrentar estigma e discriminação no local de trabalho, o que pode levar a problemas de autoestima, ansiedade e depressão, devido a questões de imagem corporal e ao feedback negativo de colegas de trabalho ou supervisores. Podem se sentir isoladas ou excluídas socialmente no local de trabalho, o que pode levar a sentimentos de solidão e depressão”.

O médico também lembra que a obesidade está frequentemente associada a problemas de saúde, como diabetes, doenças cardíacas e pressão alta. “O estresse relacionado a essas condições de saúde pode afetar negativamente o bem-estar mental no trabalho. Sem falar que algumas pessoas recorrem à comida como uma forma de lidar com o estresse no trabalho; isso pode levar a um ciclo vicioso de estresse emocional, comer demais e ganho de peso, exacerbando ainda mais os problemas de saúde mental e física. Há ainda a real dificuldade de acesso a oportunidades de carreira, devido ao preconceito contra pessoas obesas no processo de contratação ou promoção, o que pode afetar negativamente sua satisfação no trabalho e autoestima”, alerta Dr. Ricardo Pacheco.


O papel das empresas para acolher e cuidar do trabalhador obeso

É essencial que as empresas reconheçam e abordem essas questões, promovendo um ambiente de trabalho inclusivo e oferecendo apoio aos trabalhadores que enfrentam desafios relacionados à obesidade.

“Isso pode incluir programas de bem-estar que incentivem hábitos saudáveis de vida, acesso a recursos de saúde mental e políticas anti-estigma no local de trabalho. Além disso, os trabalhadores devem ser encorajados a buscar ajuda profissional se estiverem enfrentando problemas de saúde mental relacionados à obesidade”.

Para ele, além dos programas de bem-estar no local de trabalho, as empresas podem oferecer incentivos para a adoção de estilos de vida saudáveis, promover a conscientização sobre nutrição e exercícios, e criar um ambiente de trabalho que seja inclusivo e apoie a saúde física e mental de todos os funcionários. “Além disso, políticas de benefícios de saúde abrangentes e programas de assistência médica podem ajudar a gerenciar os custos associados às condições de saúde relacionadas à obesidade”.

“Abordar a obesidade e os transtornos mentais no local de trabalho requer uma abordagem holística que leve em consideração os fatores sociais, comportamentais e organizacionais que contribuem para esses problemas de saúde. O apoio da liderança, políticas de recursos humanos sensíveis e programas de bem-estar abrangentes podem ajudar a criar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo para todos os trabalhadores”, completa o médico Dr. Ricardo Pacheco .

 

Oncare Saúde


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